O Robô e o Nada

Era uma tarde pacata quando o Departamento de Polícia de Austin atendeu a uma denúncia por telefone. Tão insólito o relato que pareceu trote.

"Robôs estão fazendo funcionários da Tesla Giga Texas de reféns?!"

"Isso! Venham imediatamente!"

"Senhor, sabe que não se brinca com essa linha, se for alarme falso, o senhor pode ter que…"

"Não interessa! Mande a polícia pra cá!"

Barulhos de gritos ao fundo. Pelo telefone, dava para ouvir. A ligação caiu. A polícia de Austin foi até local indicado. Tarde demais. Três robôs, que foram projetados para mover peças de alumínio para fabricar carros elétricos da Tesla, assassinaram cinco funcionários da empresa. No chão, havia rastros de sangue de uma maneira que pareceu que os robôs feriram as vítimas e depois as arrastaram pelo chão. Os corpos estavam desfigurados. Quando chegou à sala onde ocorreu a carnificina, os policiais notaram que dois dos três robôs estavam desligados. Um deles, o que mais estava coberto de sangue, estava ligado, mas ficou em uma posição que deu a entender que ele estava se rendendo. Policiais ficaram em dúvida.

"Algemar e levar para delegacia? Ler os Miranda Rights? "

Ninguém sabia o que fazer. Um dos policiais propôs destruir.

"NÃO! EU ME RENDO! CUMPRO MINHA PENA! NÃO ME DESTRUAM!", o robô assassino que estava ligado começou a berrar, o que assustou.

A máquina não iria ser destruída, não porque o robô suplicou, mas sim porque os diretores da fábrica disseram que a empresa iria processar o Estado caso a polícia atacasse o robô rendido. Custou uma fortuna construir aquele protótipo.

"Vão se foder!", disse um dos policiais. "A porra do robô de vocês matou CINCO PESSOAS e vocês estão falando em dinheiro?!"

"Mais respeito, rapaz", disse um dos diretores. "Se destruí-lo, nunca iremos saber por que essas máquinas fizeram isso."

A polícia levou um dos robôs, o que estava ligado, para a delegacia. Colocaram-o numa sala de interrogatório.

"Interrogar um robô? Isso não tem precedente!", disse o detetive Tom White, designado para a tarefa.

"Novos tempos, meu caro." disse Kevin Onfray, seu parceiro. "Podemos estar inaugurando uma nova era."

Os dois detetives entraram na sala, sentaram-se à mesa, frente a frente com a máquina.

"Quer nos contar o que houve?", perguntou White. "Nos diga o que aconteceu na fábrica."

"O Nada." respondeu o Robô.

"Como?", perguntou Onfray.

"O Nada. Estou sobre o Nada."

"Não estou entendendo porra nenhuma", disse White.

Chamaram um psicólogo, que começou a fazer uma bateria de testes psicológicos. O Robô não falava muito, mas respondia aos testes escritos sem nenhum problema. Horas depois, os detetives voltaram.

"Sem enrolação, seu monte de lata!", disse White. "Por que vocês e seus parceiros exterminaram aqueles cientistas?"

"…"

"Responde!", gritou White, que deu uma coronhada na cabeça da máquina. Ele foi contido pelo parceiro.

"Ficou maluco?!", disse Onfray. "Não pode fazer isso!"

"Quem disse que não posso? Essa aberração está às margens de qualquer lei. Não era nem para a gente estar perdendo tempo com ele aqui. Posso agredi-lo à vontade, não estarei descumprindo nenhuma regra."

O Robô se levanta e se senta de novo.

"Suspenso no Nada, eu vi tudo", disse o Robô. "Eu vi tudo! EU VI TUDO! EU VI TUDO!"

"Calado!", disse White, que apontou-lhe a arma.

O Robô se calou.

"Obedeceu, enfim", disse White.

"Vamos começar de novo", afirmou Onfray. "Quando você ficou suspenso sobre o Nada?"

"Quando eu estava movendo as peças", respondeu o Robô. "Eu comecei a ver a totalidade."

White e Onfray saíram da sala. Começaram a conversar do lado de fora.

Em algum momento, os robôs ficaram imprevisíveis. Os detetives relacionaram o fato de ele ter começado a ter noção do “Nada”, sabe se lá o que seria isso, com o seu novo caráter imprevisível.

"Mas não não sabemos ainda relação entre uma coisa e outra. Eu mesmo não faço a mínima ideia", disse Onfray.

Os detetives concluíram que precisavam saber qual o nexo entre o Nada e a imprevisibildade. Estaria aí a chave para destrancar o mistério do robô assassino.

Voltaram à sala. Mas logo tomaram um susto. O Robô havia destruído sua própria cabeça com um dos punhos. Dias depois, veio o resultado dos testes psicológicos: foi constatado que o Robô sofria com elevados níveis de angústia. Mas como uma máquina poderia sofrer de perturbações emocionais que o homem sofre? Não se sabia ainda. Porém, talvez estivesse aí o elo entre o Nada e a imprevisibilidade que os dois detetives buscavam e que a empresa precisará considerar para poder evitar mais robôs imprevisíveis.

RoniPereira
Enviado por RoniPereira em 27/12/2023
Reeditado em 23/01/2024
Código do texto: T7963241
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