O segundo "descobrimento" do Brasil

A hora do teletransporte

Início de um novo tempo.

Irrealidade real.

Todos em volta do que seria uma tv, totalmente transparente e holográfica, assistem a um filme com cenas reais, quando entra, abruptamente, uma propaganda de uma comida, que parece deliciosa! Sim. É verdade, e aquele cheiro toma conta de todo o ambiente projetado; uma simulação tão verdadeira quanto os que ali se encontram.

Estão num passado remoto: carros, aviões e todo tipo de veículos. Não existe mais distâncias infinitas.

No presente, que é o futuro, que é o presente, tudo é instantâneo e acontece num piscar de olhos!

Se ir para perto ou para os confins do universo, basta teletransportar-se!

Por anos luzes são vigilantes do passado, para que a espécie continue e se perpetue...

Dimensões paralelas.

Chegou o momento exato.

Lá, no passado, vão apertar os botões.

É hora de cuidar da ancestralidade.

Com permissão, vão buscar os que comungam com eles.

Todas as naves estão prontas.

A viagem e o resgate serão tão curtos quanto um relâmpago!

Um sonho: arrebatamento?

Um salto no tempo de milhões, de bilhões, de trilhões... De decilhões de frações de segundos num piscar de olhos, no mesmo instante em que o dia se faz noite e a noite dia...

- Venha! Dê-me sua mão! Olhe para cima e veja quantos sóis giram e esperam por nós!

- Nãoooo! Não é verdade, recuso-me a crer!

- Não tenha medo, saia do quadrado que a aliena, que nunca a deixou ver a verdade! Toque na transparência que faz da sua matéria a verdade e a essência, onde cabe todo o universo no mais profundo do seu ser! O que sempre viste não era o real, pois a realidade da realidade é o que vês neste instante! Sabes o que vai acontecer agora?

Um silêncio, além da imaginação de toda uma vida, se faz.

As mãos se tocam.

E o planeta azul, que não era mais azul... Vai ficando para trás.

- Agora estamos num paraíso! Somos como novos Adão e Eva? Por enquanto... Somos os primeiros a chegarmos...

Um universo tão puro os une, sem sistemas, equações e inequações, sem aprisionamento do corpo e da essência como um todo... Dentro da mais profunda indivisibilidade do átomo e suas infinitas indivisibilidades estão, onde todas as constelações estão alinhadas, num único ponto de incontáveis possibilidades.

Eis que o novo mundo nasce, perante seus olhares de espanto!

E as naves começam a chegar.

Como tudo começou: primeiro contato

Quando o inesperado aconteceu eram nove e meia da manhã, de 22 de abril de 2500.

A praia ficou toda iluminada e não era pelos raios solares. Uma dezena de pessoas, que se banhava entre as ondas, correram assustadas, quando viram as naves plainando sobre as águas, mas foram imobilizadas, permanecendo imóveis, como se estátuas fossem, nas areias da praia.

Naquela manhã, as nuvens do litoral paraibano, mais especificamente da Baía da Traição, tinham uma tonalidade diferente, com transparência e cores mais fortes.

Foi com assombro que a população começou a perceber o que estava acontecendo. O que seria aquilo? De onde vieram? O que fariam?

A nave mãe estava lá adiante, quase não se a via por completo. As outras, de menores portes, a circundavam. E uma menor, talvez uma sonda, se dirigia lentamente à praia, trazida pelas ondas como um barco, de pesca, qualquer.

Ao tocar a areia, dela saiu três seres de corpos reluzentes, estaturas semelhantes aos humanos e olhares penetrantes. Traziam nas mãos algo parecido com armas, não se assemelhando com nada do nosso planeta.

Aproximaram-se das pessoas e tocaram na cabeça de cada uma delas, que agora podia se mexer, ver, ouvir, falar, mas não podia seguir adiante, correr...

Iniciou-se, pois, o diálogo:

- Por que vocês nos contactaram? Por que nos enviaram mensagens? Aqui estamos...

Entendendo a mensagem

Nesse contexto, é preciso entendermos que os humanos enviaram, há décadas algumas mensagens para eventuais vizinhos cósmicos. Essas mensagens discos de ouro a bordo das espaçonaves Voyager 1 e 2. Neles tinham diversas informações sobre a humanidade, como músicas, fotos, saudações em diversos idiomas, além de sons da natureza. E não ficou somente nisso, foi enviada também a mensagem de Arecibo, com números de um a dez, átomos do hidrogênio e carbono, algumas moléculas, o DNA humano e outros dados diversos.

Erro de localização

Não foram os habitantes dessa localidade que enviaram tais mensagens. Uma confusão aí se instalou. O que dizer, então, aos visitantes? Aliás, como falar o que desconheciam?

Um senhor, quase sussurrando e amedrontado, logo explicou:

- Não sei nada sobre essas mensagens que vocês estão falando...

Mais adiante, uma criança de descendência indígena, gritou:

- Não sabemos nada! Por favor, nos deixem ir!

Os seres olhavam atentamente para as pessoas ali presentes. Depois, observavam-se, talvez se comunicando telepaticamente. Depois, um deles, provavelmente o líder, falou:

- Será que erramos a localização? Vamos verificar as coordenadas exatas descritas nas mensagens. Mas vamos permanecer aqui. Viemos para conquistar essas terras, esse mundo agora nos pertence!

Perplexos, os habitantes que ali representavam toda a comunidade praieira, se assombravam cada vez mais...

A linguagem dos bambus da Bica

A primeira expedição, inspecionada em sobrevoos rasantes por várias sondas, tomou conta de toda costa litorânea paraibana.

Uma delas sobrevoava a Capital, quando adentrou o Parque Zoo-botânico Arruda Câmara, popularmente conhecido como "Bica". Subitamente parou em frente a uns enormes pés de bambu. Começou a emitir sinais estranhos...

Não demorou muito e chegaram dezenas de outras sondas. Todas sequenciadas, como que hipnotizadas, pararam em frente aos bambus e começaram a emitir luzes na direção dos caules onde estavam várias inscrições.

Eram riscos feitos nos bambus com nomes de humanos, além de caracteres e símbolos. As luzes passavam sobre os riscos, decifrando-os nitidamente: RJ (dentro de um desenho de coração), AXT, RB (com um pequeno símbolo de coração acima), L+C (dentro de um desenho de coração), LVC, EA, E+L, L+A 25-03-23, GA (dentro de um desenho de coração), E+M, AM (com um desenho de coração abaixo), V+B, E+V...

Continuava uma vasta sequência de letras e símbolos, lentamente armazenadas, em fotografias (talvez) pelas máquinas alienígenas, talvez para estudos, como assim fizeram as civilizações humanas, de todas as épocas, voltando seus olhares interpretativos para as artes das cavernas e rupestres, presentes em todos os recantos do planeta.

Seria a vez dos novos colonizadores também se debruçarem sobre as linguagens minimalistas dos humanos, nos séculos mais recentes.

No bambuzal não estavam gravadas apenas letras e símbolos, mas ali estavam vários textos completos, de vidas diferentes que ali se uniam para contar suas histórias de vida, de união, de amor com suas completudes e talvez dissoluções. Portanto, havia começo, início e fim de várias gerações, eternizadas e visíveis a qualquer leitor.

Uma infinidade de visitantes passaram através dos anos por aquele local, mas será que viram tais inscrições, com tal curiosidade dos seres estelares? É provável que não, afinal os humanos se perderam no tempo, com o avanço tecnológico, deixando a percepção dos elementos simples que os rodeavam de lado.

O barulho da chuva, o amanhecer e o entardecer, o orvalho, a natureza... Tudo foi trocado pela frieza de um olhar vazio de uma janela de um sexagésimo andar. A natureza fora trocada por cimento e seus derivados, tornando-se sólida e tão insossa quanto as nuvens do horizonte já obscurecido pelos gases poluentes.

Naquelas inscrições, os novos conquistadores teriam muito a descobrir sobre a raça humana e seus relacionamentos.

Depois de um tempo paradas e captando as inscrições do bambuzal, uma após outra, vão saindo rapidamente na direção do interior do Estado.

Nesses primeiros contatos não houve trocas de informações, nem barganhas, como assim fizeram os primeiros "descobridores" daquelas terras.

Continua...

André Filho Guarabira
Enviado por André Filho Guarabira em 23/10/2023
Reeditado em 14/04/2024
Código do texto: T7915238
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