A Saga de Godofredo Parte II – A Prisão de Godofredo
20.10.23
499
Juliette descansou e recuperou-se para continuar a cavalgada até Baden-Baden. Godofredo consolou-a desde que soube que perdera o filho. Ela triste e decepcionada, perguntou ainda em seus braços:
-Você sabia?
-Querida, eu desconfiei dos seus enjoos, e quando caiu e desacordou, sua mãe me confirmou com um aceno de cabeça ao meu olhar de questão.
-Eu queria tanto este seu herdeiro! Seria a forma de lembrar-me de você quando voltasse ao seu mundo. Mas Deus não quis!
-Meu amor, eu também gostaria muito de tê-lo, mas estaria correndo um grande risco com esse nosso filho, pois a minha linhagem poderia ser interrompida, e eu não vir a existir por isso. Talvez tenha sido a providência quem provocou sua queda, infelizmente.
Continuaram a viagem até a travessia do Reno. A ponte estava sem qualquer impedimento ou movimento de tropas. Esporearam os cavalos e cruzaram-na para a segurança na Alemanha. Teriam ainda cerca de dez quilômetros até Baden-Baden, pois estavam em Iffezheim. Resolveram descansar. Godofredo pediu a Cons. para que fosse ver os Krumin-Lep em Kehl, informando-os que o aguardasse, pois iria encontrá-los no dia seguinte. Também, saber sobre La Fayette.
Cons. foi antes saber de La Fayette, pois queria mais uma vez assustar os soldados e o general.
La Fayette seguiu o caminho mais ao norte e se encontrava em Hochfelden, distante vinte e oito quilômetros de Estrasburgo. Cons. o viu à frente da sua tropa em galope forte e decidiu dar um grande susto no honorável comandante francês, como a última das suas ações fantasmagóricas e invisibilidade, pois sabia que estando os antepassados de Godofredo seguros, não poderia mais usar estes atributos.
Foi aos ancestrais de Godofredo em Kehl, agora abrigados em uma estalagem e faziam uma refeição. Cons. não pode aparecer de supetão no salão da hospedaria em que comiam. Em um local externo, deserto e escuro se reintegrou caminhando com sua silhueta redonda e cômica até a entrada da taberna. Entrou e saudou a família Krumi-Lep. Ao vê-lo, o barão abraçou-o efusivamente, dizendo-lhe:
-Você nos salvou! Somos muito gratos ao nosso querido fantasma de Linthelles – dando vários tapinhas nas costas de Cons., que ficou sem graça. Os demais hóspedes não entenderam nada do que acontecia, e Cons. pediu ao barão que se contivesse. Perguntou sobre as batinas e o barão lhe disse que estavam em seu quarto. Subiram aos aposentos dele e Cons. pegou uma delas. O barão, curioso, perguntou:
-A quem vai assustar hoje?
-A La Fayette, que está muito perto de Estrasburgo. Godofredo pediu que o aguardasse aqui, pois virá amanhã encontrá-los, e juntos, seguirem para a Rússia.
Cons. vestiu a batina e instantaneamente sumiu. Invisível, aguardava em uma grande reta da estrada a chegada de La Fayette. Viu uma nuvem de poeira se levantando no horizonte. Era o general com sua tropa galopando. Esperou chegarem mais perto. Estava o comandante a cerca de 50 metros distantes dele ,quando vestido com a batina sem cabeça e pernas, apareceu flutuando no céu na direção a La Fayette. Os soldados ao verem aquela batina voando ao seu encontro, apavorados, estancaram seus cavalos. O general, atônito e boquiaberto, não acreditava no que via. Cons. começou a dar suas risadas horripilantes, voando rasante sobre os soldados, que começaram a debandar, uns pela estrada, outros pela floresta tornando-se um caos a coluna de La Fayette. Cons. ria com gosto, de forma fantasmagórica, ecoando pelo ar.
La Fayette estático e pasmo com aquela batina voadora sobre sua cabeça, também sentiu medo e pensou: o fantasma existe mesmo. Estava arrepiado da cabeça aos pés. Mas não poderia deixar que seus comandados debandassem. Enfrentado seu pavor, berrou para os soldados:
-Voltem todos imediatamente! Voltem seus covardes! Se não, serão considerados desertores e guilhotinados.
Poucos, ou quase nenhum dos militares voltaram. Somente Richard, que foi o primeiro a se encontrar com o fantasma em Linthelles, apavorado e estático em estado hipnótico, ficou ao lado do general balbuciando como um autômato: ele existe, ele existe!
Cons. resolver terminar com a apresentação, e de chofre desapareceu, deixando cair no chão a batina, levantando poeira.
Godofredo e a família Montfort chegaram a Baden-Baden ao cair da tarde e seguiram a uma estalagem para se alojarem e descansarem. Godofredo chamou mentalmente Cons. para pessoalmente lhe contar sobre a situação dos seus antepassados e La Fayette. Cons. narrou todos os fatos com muito humor, pois se divertia com essa sua nova faceta – era ele agora o famoso Fantasma de Linthelles!
-Pois é! Quem diria que você se tornaria um personagem histórico, hein? – brincou Godofredo.
Na manhã seguinte, Godofredo definiu com Guillaume e seu pai, que iria buscar seus parentes e voltaria com eles para Baden-Baden para seguirem todos juntos para a Rússia. Partiu antes do raiar do dia, deixando triste Juliette, pois não se despedira dela.
A viagem até Kehl duraria até o meio do dia, e pediu para Cons. ir avisá-los que estivessem prontos para cavalgarem para Baden-Baden assim que ele chegasse.
Seguia em trote acelerado, quando deu de frente com uma patrulha alemã, obrigando-o a parar. O oficial alemão perguntou-lhe em francês, já que naquela região fronteiriça, tanto o francês como o alemão era falado pelos habitantes.
-O que faz um revolucionário francês em nosso território?
Godofredo estupefato pela fala do militar alemão, respondeu:
-Como? Revolucionário francês?
-Sim! Está usando o broche tricolor na sua lapela, identificando-o. Está preso!
Godofredo se esquecera deste detalhe, pois deveria ter jogado fora o pequeno identificador assim que entrou na Alemanha. Tentou argumentar com o oficial alemão, contando toda a sua odisseia, mas sem sucesso. Foi amarrado e levado para Kehl. Godofredo avisou Cons. mentalmente do ocorrido, e pediu para que seus antepassados saíssem da cidade imediatamente e fossem ao encontro dos Montfort em Baden-Baden.
A patrulha alemã chegou ao quartel em Kehl, encarcerando Godofredo. Cons., depois da sua ultima aparição como fantasma, e se tornar invisível, não poderia mais ter estes poderes, pois o intuito da missão de Godofredo estava concluído com seus antepassados salvos da revolução francesa na Alemanha e a caminho da Rússia. Falou telepaticamente para Godofredo desta situação.
-Entendo! Então é melhor você acompanhar meus antepassados até o encontro com os Montfort e ver o que acontecerá comigo.
Passou a noite preso, e cedo na manhã seguinte, veio o oficial que o prendera dizer-lhe:
-Você será extraditado hoje para a França, para Estrasburgo, local em que está o general La Fayette, a quem o entregarei. Vamos! –abrindo a grade da cela.
Godofredo estático e boquiaberto pelo inusitado da medida pensou: serei guilhotinado?
Nota do Autor:
Obra ficcional e qualquer semelhança é mera coincidência.