A Saga de Godofredo Parte II – Linhagem
18.10.23
497
Descansaram o resto do dia, com Juliette tendo menos espasmos e enjoos. Godofredo começou a desconfiar e falou mentalmente com Cons.:
-Juliette não está bem, tem náuseas e vomitou duas vezes. Será que...
-Pois é! Eu disse para não ter relações com ela, e agora está grávida de um filho seu. Não sei o que vai acontecer quando ele nascer. Você poderá morrer, pois sua linhagem, por parte da sua mãe, será alterada por esse filho.
-Mas poderá ser outra descendência dos Montfort, não? – perguntou Godofredo aflito.
-Espero que sim! – respondeu Cons.
Anoitecia e Cons. com os Krumin-Lep se preparavam para ir a Kelh. Caminhariam sete quilômetros, sendo a travessia do rio Reno o local mais perigoso, pois as pontes deveriam estar com barricadas e soldados revolucionários. Cons. teria que usar novamente seus poderes fantasmagóricos. Ele idealizou um plano: levaria as batinas de padre para que o barão e a baronesa usassem como se fossem fantasmas como ele, assustando os soldados.
Partiram com os dois pequenos dormindo e carregados por seus pais, com os dois maiores caminhando. Cons. seguia à frente perscrutando o caminho para saber se haveria problemas. A jornada seria demorada, por causa das crianças, preocupando Cons.
Seguiam escondidos pela mata e acompanhando a estrada. Em dado momento, Cons. viu uma estrebaria com uma carruagem desatrelada. Pensou: atrelamos os cavalos, vamos de fantasmas pela estrada e atravessamos a ponte, colocando a guarda a correr. Combinou com o barão. Foram à estrebaria deserta.
Pegaram uma parelha de equinos, atrelaram à carruagem, levantaram a capota, colocaram as crianças escondidas no fundo, o barão e a baronesa vestiram as batinas, mas sem passar as cabeças. Cons., no banco do condutor, flutuava acima da carruagem como uma pipa. O barão conduziria. Partiram a galope para a travessia.
Algumas pessoas que estavam pelo caminho, ao verem aquela tresloucada carruagem desembestada pela estrada, com uma batina flutuando, apavoradas, começaram a gritar:
-Os fantasmas de Linthelles estão aqui – correndo para suas casas.
O caminho ia a uma estreita ponte. Via-se enorme barricada de feno sobre ela, guardada por soldados e impedindo a passagem. Eles chegaram junto aos militares. Cons. com sua voz gutural e apavorante, flutuando acima das cabeças dos guardas, ordenou:
-Retirem agora este monte de feno e liberem nossa passagem!
Os soldados estáticos e petrificados com o que viam, não esboçaram nenhuma reação. Cons. falou novamente com sua voz de fantasma:
-Se não retirarem já, irei as suas casas e colocarei fogo! - rindo de forma apavorante.
Os soldados, tremendo de medo, retiraram o monte de feno e saíram correndo para a cidade.
Cons. soltou um uivo pavoroso de prazer. Cruzaram a ponte e entraram na Alemanha. A família Krumin-Lep estava salva. Cons. falou telepaticamente com Godofredo:
-Já estamos seguros em Kehl.
-Que bom! Agora veja em que local está La Fayette e me fale. Depois, junte-se a nós.
Cons., invisível, imediatamente se encontrou com La Fayette cavalgando em direção a Heming, ou seja, estava a um dia de viagem ainda até Estrasburgo. Informou a Godofredo a situação. Estavam seguros em Haguenau e poderiam cruzar com calma para Baden-Baden, mas com cautela, pois os revolucionários estavam a sua caça.
Descansaram o resto do dia e da noite. Na manhã seguinte, logo cedo, montaram em seus cavalos e se dirigiram para a fronteira com a Alemanha e Baden-Baden, quarenta quilômetros distantes, mas agora em trote, pois Juliette ainda tinha enjoos. Cons. foi até a passagem sobre o Reno, ver se havia barricada, mas por sorte, ainda não, pois La Fayette não imaginou que eles atravessariam a fronteira com a Alemanha mais ao norte de Estraburgo. Deveriam cruzar o rio no inicio da noite.
Godofredo ao lado de Juliette notou que seu olhar estava diferente, mais cândido e amoroso, confirmando sua suspeita. Perguntou-lhe:
-Você está diferente. Aconteceu alguma coisa que eu não saiba?
-Não, nada, está tudo bem, só as náuseas que estão me incomodando. Foi algo que comi e não me fez bem – respondeu desviando seu olhar do dele.
Guillaume percebendo a condição da irmã, ao lado da mãe, disse:
- Ela está...
-Sim! Mas ele não sabe e não conte! – respondeu imperativa a mãe.
-Meu deus, e agora? Ele é descendente dos Krumin-Lep e terá também uma linhagem nossa! – exclamou Guillaume espantado.
A cavalgada seguia tranquila, quando inesperadamente cruzou a frente de Juliette um cervo, fazendo seu cavalo empinar assustado, derrubando-a no chão. Ela desacordou. Pararam e a levaram para a mata ao lado. Godofredo aflito, pois sabia da gravidez dela, olhou para a baronesa que lhe retribuiu o olhar, confirmando. Ela falou:
-Deixe-me com minha filha! – expulsando os homens.
Eles saíram e se sentaram na borda da estrada aguardando a recuperação de Juliette, cabisbaixos.
O dia finalizava e a noite surgia. Juliette acordou com sua mãe acariciando-lhe o rosto, mas com os olhos marejados.
-Oi meu amorzinho, ainda bem que voltou – disse a mãe carinhosa.
-O que aconteceu mamãe? Por que está chorando? – perguntou Juliette. A mãe nada disse, somente chorava e abanava a cabeça negativamente. Juliette entendeu e começou a chorar copiosamente, com soluços profundos, dizendo:
-Não é possível! Não é possível!
Ela perdera o feto com a dura queda que sofrera. Godofredo, vendo a cena, foi a ela e abraçou-a com carinho, consolando-a.
Ele não teria outra linhagem.
Nota do Autor:
Obra ficcional e qualquer semelhança é mera coincidência.