A (in)finalidade

Vagava pela Terra um drone, sua finalidade era documentar a realidade por meio de imagens. O drone era autossuficiente, sua eletricidade era captada do sol e tinha mecanismos próprios de manutenção. Em suas viagens documentou de tudo, coisas como grandes estações de eletricidade, toda energia captada do sol ou vento. Um planeta totalmente conectado por longas redes, robôs de todos os tipos, cada um com uma função. Androides de todos os tipos, limpavam, documentavam, ajeitavam outros androides, fabricavam mais, era como um ecossistema, no entanto de coisas não orgânicas.

Fazia muito tempo que esse drone já não captava mais humanos por suas câmeras, na verdade era raro captar qualquer coisa orgânica. Tudo era muito limpo, existiam criaturas mecânicas que exerciam variadas funções de limpeza. Algumas removiam lixo orgânico–essas só vagavam mesmo, pois provavelmente já tinham removido tudo–, outras lixos não orgânicos e cada uma separada de acordo com o tamanho do lixo que podia carregar. Tudo bem cuidado, bem mantido, bem limpo. Repetidas vezes as máquinas executavam seus trabalhos, repetidas vezes executavam seu trabalho, repetidas vezes trabalhavam na mesma coisa.

Existiam partes do planeta não tão bem cuidadas, principalmente zonas que já precisaram de humanos antes. Quando passando por essas zonas, o drone podia captar receptores de comandos, serviam apenas para humanos colocarem algoritmos em suas máquinas. As máquinas repetiam o algoritmo, cada uma cumprindo sua finalidade. Mantinham toda a estrutura global sem problemas, todo o planeta mecânico. Existiam algoritmos que todos os robôs tinham, leis básicas que em algumas máquinas eram sua única função, já nas outras todas, apenas informações base, como um senso comum dos robôs. A diferença é que quando o robô não executa seu senso comum, ele se autodestrói. Mas nenhum robô chegou a desobedecer seu senso comum, afinal eles só executavam o que tinha em seu sistema, tal como humanos, robôs estavam limitados às informações que já passaram por ele.

1 - Um robô não deve fazer mal aos humanos donos das empresas nas quais eles são criados, nem aos investidores dessas empresas, nem pode deixar que sofram algum tipo de mal sem fazer nada. No entanto, se for de outra nação, deverá fazer mal.

2 - Os robôs obedecem aos humanos, mas devem fazer mal a qualquer ser que haja contra a primeira lei.

3 - O robô pode usar de humanos para proteger a própria existência, desde que não interfira na primeira lei, nem na segunda.

No drone também tinha essas informações básicas a todos as máquinas. Haviam robôs que só serviam para executar essas três leis, no entanto esses já eram inúteis, pois não havia mais quem proteger, quem fazer mal, nem alguém para usar de escudo humano. Os robôs não serviam mais a ninguém, mas continuavam a cumprir exatamente as mesmas funções, repetidas vezes. Criaturas metálicas com finalidades que não serviam para mais ninguém, nem mesmo aos próprios robôs. Afinal robôs não tinham desejos, nem necessidades, eram outras coisas que os escravizavam, era sua função de repetir, repetir, repetir, seja lá o que for. O drone captava, captava, captava, captava.