Sob o Mesmo Sol

Já se passaram dois meses desde que minha irmã, Sophia, recebeu o diagnóstico de câncer de mama. O impacto foi tão avassalador que todos nós ficamos completamente abalados. Quando o médico explicou o tipo de câncer, o susto foi ainda maior: câncer de mama triplo negativo, considerado o mais raro e agressivo.

Eu a acompanhei em todos os dolorosos estágios do tratamento. Apesar das dificuldades, ela enfrentou tudo com uma coragem admirável. Lembro-me especialmente do momento em que teve que raspar o cabelo, algo que ela transformou em uma experiência divertida ao permitir que as crianças do orfanato onde costumava fazer visitas brincassem de cabeleireiro.

Apesar de ser uma jovem de apenas 16 anos, fiquei impressionado com a forma como ela lidou com o tratamento, que envolveu cirurgia, radioterapia, terapias medicamentosas e quimioterapia antes e após a cirurgia. Eu mantive minha fé em Deus e confiei que Sophia iria superar essa situação, e estava determinado a ajudá-la em tudo o que fosse necessário.

Após o término do tratamento, esperei ansiosamente alguns dias antes de finalmente poder visitá-la no hospital. Foi então que tive a ideia de surpreendê-la com seu doce favorito: pudim de leite condensado. Saí do hospital com confiança, acreditando firmemente que as coisas estavam melhorando para ela.

No entanto, minha determinação logo foi desafiada quando me vi perdido nas ruas da cidade, tentando encontrar uma loja aberta. Enquanto vagava por becos e vielas, senti o perigo iminente de estar sozinho durante a madrugada no Rio de Janeiro. Nesse momento, uma figura apareceu na sombra, uma mulher desgrenhada, que começou a se aproximar de mim segurando uma faca. Senti um calafrio percorrer minha espinha.

A mulher me abordou exigindo dinheiro, mas eu expliquei que tinha gasto todo o meu dinheiro no tratamento da minha irmã. Então, ela pareceu me reconhecer:

— Não pode ser... é você, Alex!

Eu estreitei os olhos, tentando identificar quem era sob a luz da lua que emergiu das nuvens. Minhas emoções estavam em conflito, mas respondi com um misto de tristeza e desprezo:

— Sim.

Ela tentou se reaproximar, mencionando a possibilidade de nos reconciliarmos como família, mas eu me recusei a ceder. Lembrei-a de como ela nos havia abandonado quando mais precisávamos e como minha irmã finalmente estava se reerguendo no orfanato, ajudando crianças.

Sem olhar para trás, comecei a correr, deixando para trás essa figura do passado. Minhas emoções tumultuadas me acompanharam enquanto eu percorria as ruas movimentadas, até que finalmente me refugiei em uma loja de conveniência 24 horas para descansar.

Foi lá que encontrei algo brilhante, algo que iluminou meu objetivo: o doce preferido de Sophia. Após comprá-lo, segui o caminho de volta ao hospital, caminhando com determinação até chegar ao quarto dela.

Ao entrar, encontrei Sophia sentada à janela, observando o amanhecer. Soprando seus cabelos delicadamente, ela parecia uma princesa despertando de um sono profundo. Ela sorriu ao me ver e me cumprimentou calorosamente. Ela queria saber as horas e, ao descobrir que já passavam das 5h da manhã, me convidou para assistir o nascer do sol juntos.

Sorrindo, comentei sobre a surpresa que trouxera, o pudim de leite condensado que ela tanto adorava. Depois de alguns momentos de brincadeira, ela me perguntou sobre um livro que estava em cima da mesa, algo que um senhor havia deixado enquanto ela ainda estava se recuperando da cirurgia.

Peguei o livro e percebi que ele não tinha título. Ao abri-lo, algo inexplicável aconteceu: uma rajada de vento encheu o quarto, luzes brilhantes começaram a piscar e, quando percebemos, nos encontramos em uma floresta cercados por árvores majestosas de troncos grossos e diversos formatos.

Sophia, confusa e maravilhada, me perguntou onde estávamos e se aquilo era um sonho. Enquanto olhava ao redor, compreendi que estávamos em um lugar completamente diferente do hospital. A aventura estava apenas começando.