A Saga de Godofredo Parte II – O Desafio
24/08/2023
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Jean Pierre, “Le Sabujo” acordou no inicio da tarde e foi ver seu cavalo. Desaparecera! Procurou pelas redondezas, mas não muito longe para não perder contato com os fugitivos. Ele escapou? Como, se o amarrei firmemente a árvore? Estranho! – pensou.
Cons. antes de levar o cavalo de Jean Pierre para longe, avisou ao Barão Montford o que faria e que seguissem viagem pela mata por pelo menos uma hora, aproveitando que o espião dormia. Foi o que aconteceu.
Jean Pierre espreitou-se pela floresta de coníferas até o local em que acamparam os fugitivos naquela manhã e somente as cinzas do fogo apagado sobrou. Eles fugiram. Teria que arrumar um cavalo.
Cons. acompanhava invisível o soldado Vincent cavalgando alucinadamente para Paris, pensando em como impedi-lo de chegar até Lafayette.
-Preciso derrubá-lo e machucá-lo de forma que não possa seguir até o General – pensou.
Foi à frente pela estrada ver se havia alguma situação em que pudesse causar um acidente ao Hussardo. Encontrou uma ponte estreita em madeira, ideal para fazer o animal empinar e derrubá-lo, talvez até cair no rio. Ótimo!
Viu que no pasto de feno ao redor havia ancinhos de madeira e pegou um deles, mantendo-se invisível no alto da ponte aguardando. O cavaleiro se aproximava velozmente. O cavalo, lustroso pelo suor, mostrava toda sua força e beleza no galopar.
Ao subir a rampa da ponte, subitamente Cons. se transformou em humano e apontou o ancinho para eles. O cavalo aterrorizado empinou e recuou sobre as patas traseiras, batendo o costado na mureta da ponte. Esta quebrou com o peso do animal e caíram no rio não muito fundo. O cavalo de lado com o soldado preso sob seu corpo, desacordado e submerso nas águas frias do riacho. O animal permaneceu por alguns instantes assim, e tentou se levantar. Não conseguia. Quebrou uma das patas dianteiras e se debatia desesperadamente. O Hussardo se mantinha inerte. Uma cena triste pensou Cons.
Aguardou por um tempo, até que o cavalo se acalmou e aquietou deitado sobre o cabo. Ele morreu deduziu Cons., vendo o corpo sem reação do militar. Voltou instantaneamente até Godofredo contando o que aconteceu.
-Lamento, mas foi necessário. Agora precisa dar apoio aos Montfort e cuidar também do espião de Milet lá. Estamos nos aprontando para atacá-lo e prendê-lo. Vá agora – disse Godofredo para Cons., que se esvaneceu no ar. Guillaume se assustava cada vez que ele se tornava invisível, arregalando os olhos.
Godofredo vendo o amigo estático, disse:
-Guillaume, vamos repassar nosso plano.
-Sim, sim vamos – respondeu titubeante.
Simulariam a ida para Saint–Dizier pela estrada em um comboio. Godofredo, com o grosso da tropa, se esconderia na mata junto à estrada para emboscá-los e prendê-los. Guillaume, após Godofredo se esconder, seguiria atraindo Milet. Girard cuidaria, com um grupo de soldados, dos prisioneiros encarcerados.
O contingente partiu. Richard, o chefe da milícia de Linthelles, ia junto e sabia em que local poderiam emboscar Milet.
Leonard voltou até Milet e informou da partida de Godofredo e Guillaume, ficando Girard com alguns soldados guardando os prisioneiros. O comandante pensou e disse a Leonard.
-Quantos homens com Girard?
-Dez comandante.
- Há muitos feridos? E estão sendo bem tratados?
-Sim. Plutot está bem machucado, mas vivo. Os demais, três com escoriações leves e um soldado mais grave e impotente.
-Estamos em quatro, contando comigo. Não temos chance contra eles em maior número. Nossos homens estão sendo cuidados e não vale a pena tentar resgatá-los agora – ponderou o comandante Hussardo. Continuou falando ao soldado:
-Leonard, aguarde aqui os reforços de Paris. Vou deixar uma ordem escrita ao comandante que virá para libertar os prisioneiros e prender os leais ao rei.
- Sigam-me – ordenou Milet montando em seu cavalo junto com os três Hussardos remanescentes!
O comboio de Godofredo e Guillaume seguia em trote lento quando Richard mostrou o local da emboscada. A estrada atravessava um monte com um corte estreito na terra com cerca de cinquenta metros de comprimento, três metros de largura e dois a três metros de altura nas laterais. Uma vala. O rio, caudaloso e com corredeiras, quase se juntava ao morro, impossibilitando a passagem da tropa sem ser pelo valo.
-Perfeito! Vamos aguardar escondidos antes da passagem. Esperaremos eles passarem e os encurralaremos. Eles não terão como sair. Você segue até o outro extremo da passagem e aguarde também escondido – disse Godofredo a Guillaume.
-Richard, volte à floresta e monitore Milet para nos informar qual o seu trajeto – solicitou Godofredo.
Milet seguia atrás cuidadoso e devagar pela borda da mata junto ao rio. Richard, conhecedor da floresta, sabia por quais locais passaria Milet e o aguardou em um deles, imperceptível. A pequena tropa seguiu exatamente pela trilha conhecida de Richard que os obrigaria a ir pela passagem no morro. Voltou até Godofredo e Guilaume , dizendo:
-Chegam em quinze minutos. Melhor nos escondermos. Mostro-lhes o local – entrando na mata do lado oposto ao rio. Godofredo e os soldados o acompanharam. Guillaume à frente da passagem também se escondeu no bosque.
A trilha pela qual Milet e seus comandados seguiam terminou na estrada um pouco antes da vala no monte. Ele parou desconfiado. Perscrutou o local com seus olhos de águia e veterano de combates, pressentindo algo. Como um animal, tentou ouvir ou sentir no ar o que pudesse lhe ajudar a tomar a decisão. Tudo muito quieto. Esperou por algum tempo ainda na floresta.
Godofredo observava-o. Sabia que era militar experiente e astuto, e poderia não passar, retornando a Lintheles. Não os atacaria, pois estava do lado oposto ao rio com amplo espaço para a fuga. Era aguardar e contar com a sorte.
Os minutos se passaram com Milet pensando. Então, ele saiu da floresta e seguiu cuidadoso em direção a passagem, acompanhado dos outros três Hussardos. Chegou à entrada do valo e parou desconfiado.
Godofredo achou que deveria ser o momento do ataque e partiu gritando com sua espada alçada seguido da tropa:
-Ao ataqueeee!
Ao mesmo tempo, ouviu-se Guillaume cavalgando pela passagem em formação de ataque na direção à tropa de Hussardos.
-Eu sabia! Em círculo de defesa - falou Milet com os dentes cerrados aos seus comandados.
Fecharam-se em anel os quatro cavaleiros, cercados totalmente por Godofredo e Guillaume com seus soldados. Estava sem saída. Godofredo falou:
-Comandante Milet, está preso sob as ordens da Revolução. Joguem suas armas ao chão! – disse imperativo e firme.
-Sob as ordens da Revolução? Faz-me rir! E quem é o senhor, senão um aristocrata junto com seu companheiro a caminho de Estrasburgo para se encontrar com seus pares. Nós é que estamos sob as ordens da Revolução e do General Lafayette!
-Mentira! Vocês são leais ao rei e estão tentando nos enganar com essa história de Hussardos. Rendam-se ou atacaremos – gritou Godofredo exaltado.
Milet subitamente esporeou seu cavalo em direção a Godofredo apontando-lhe a espada. Este esperou a investida, desviando-se e acertando com a espada um golpe fundo no pescoço do cavalo de Milet , que começou a sangrar e caiu no terreno. O combate se iniciou. Os Hussardos cercados enfrentavam os opositores com destreza e agressividade, mas foram um a um vencidos e desarmados. Milet não tinha escapatória. Mas como era valente, propôs a Godofredo:
-Um Hussardo prefere a morte a ser preso. Desafio-o em um combate de vida ou morte. Se eu vencer, libertará todos os meus prisioneiros. Se vencer, todos nós ficaremos presos – falou estendo sua mão para fechar o acordo.
Guillaume, que balançava negativamente a cabeça, disse a Godofredo :
-Não tem necessidade Geoffrey, estão vencidos e presos.
-É uma questão de honra para nós morrermos em combate – replicou Milet.
Godofredo desceu do cavalo e apertou a mão de Milet.
O desafio estava posto.
Nota do Autor:
Obra ficcional, qualquer semelhança é mera coincidência.