Sucata - parte 8
Placas solares se espalhavam por todo o planeta, aproveitando aquela óbvia fonte de energia. Autômatos básicos se aglomeravam em incontáveis pontos de pouso, onde não paravam de descer cargueiros despejando sucatas eletrônicas, devidamente separadas e transportadas pelos autômatos do planeta até várias unidades de fundição, para serem recicladas e terem seu material usado para a fabricação de novos autômatos. Um mecanismo perfeito que parecia já estar funcionando há bastante tempo, mas cuja finalidade PPY-331 simplesmente não conseguia compreender.
Mas havia uma coordenação mínima para aquilo tudo. Básica, mas havia. E ele podia se aproveitar dela. Pelo menos para se aprimorar, consertar e melhorar seu corpo, e então planejar os próximos passos.
O material novo era coletado e separado por elemento. Isto estava claro! Peças de ferro coletadas de vários pontos de descarga iam para forjas específicas, eram derretidas e transformadas em lingotes. Cobre ia para locais diferentes. Peças muito heterogêneas, de vários metais e materiais plásticos distintos, iam para trituradoras dos quais eram submetidas a nova seleção. Não haviam sobras! Resíduos porventura inúteis na unidade de processamento em questão eram separados, reclassificados e transportados para as unidades adequadas.
Tudo isso representava o primeiro estágio da reciclagem, percebeu PPY-331. Outros autômatos levavam a materia prima desta reciclagem, cada qual responsável por sua própria matéria prima, para os centros de manufatura dos componentes básicos, onde das matérias primas eram produzidos componentes como resistores, capacitores, indutores, fios... enfim, tudo aquilo que poderia depois ser combinado para montar circuitos mais complexos! Metais eram usados em sua maior parte para forjar estruturas dos robôs, que seriam depois animadas com atuadores e controladas com cérebros artificiais construídos com circuitos eletrônicos.
Do segundo estágio saiam circuitos integrados, as partes inteligentes das máquinas, criados a partir dos semicondutores triturados, pulverizados, fundidos, purificados, e, finalmente, tendo várias camadas de máscaras lógicas aplicadas em sua superfície, controlando a dopagem dos componetes condutores que os fariam funcionar como deveriam, coordenando os atuadores eletromecânicos dos robôs que estavam destinadas a controlar. Dando-lhes seus cérebros.
Outros autômatos projetados para isto levavam os componentes de ambos os estágios para os montadores. E era este o estágio do processo que PPY-331 não conseguia compreender! Pois era deste estágio que saiam todos os componentes necessários para manter todos os anteriores funcionando! Dele saiam os robôs transportadores. Dele saiam as peças de reposição dos recicladores, dos gravadores de circuitos, da manufatura de componetes. Das placas solares que forneciam a energia para manter tudo isso funcionando.
A pergunta que não saida do cérebro eletrônico de PPY-331: pra quê? O mecanismo todo parecia só existir para manter a si próprio funcionando, e se espalhando para aumentar sua própria área à medida que conseguisse materia prima para tal!
Ele poderia deixar essas divagações para depois. O importante é que ele poderia por hora aproveitar esta estrutura, fosse qual fosse o porquê dela existir. Não foi muito difícil ele entender o protocolo e estrutura das mensagens trocadas estre os vários centros de processamento. E ele começou a requisitar os componentes que precisava para se consertar, aprimorar os componentes de seu próprio corpo robótico. Trocar os danificados, experimentar melhorias.
E assim PPY-331 foi se consertando aos poucos...