A Saga de Godofredo Parte II – O Retorno
20.08.23
477
Godofredo continuava nas reminiscências da sua vida, passando por todas as lembranças na memória de seu cérebro, até chegar ao fatídico acidente que o deixou em coma. Reavivou a cena. A massa escura de neurônios em que se transformou iluminou-se fortemente. Viu todo ele em câmera lenta.
Saiu cedo de casa com sua motocicleta naquele domingo ensolarado e quente, sem capacete, para ir até a padaria duas quadras distante. Seguiu tranquilo até o cruzamento com rua de tráfego um pouco mais intenso e de mão única. Foi mantendo a velocidade, cerca de 30 quilômetros por hora, e sem parar, atravessou-a olhando somente para o lado do fluxo de veículos. Subitamente, do lado contrário, veio um carro em alta velocidade, colidindo violentamente com a lateral da sua moto arremessando-o longe. Ele bateu com a cabeça na guia, desacordando. Sua memória ficou escura, totalmente negra. Na cena viu a placa do carro: YJ 2318. Não viu a marca.
Na escuridão do seu cérebro percebeu que em um dos tramo de neurônios, uma intensa luz se acendia e apagava intermitente. Seguiu curioso até lá através das vias neuronais como um impulso elétrico.
Era a imagem congelada da volta de Girard com os prisioneiros pelas ruas de Linthelles. O momento em que ele apagou e sumiu.
-Tenho que voltar para lá e ajudar meus antepassados franceses – pensou.
Mergulhou na imagem, que se manteve quase estática, com os movimentos muito lentos, quase imperceptíveis dos cavalos, de Girard e dos prisioneiros.
Ele começou a se transformar novamente em humano, reintegrando-se os milhões, ou bilhões de partículas em que se desintegrou. Voltou à cena daquela época. Cons. também retornou com ele.
Guillaume olhou para Godofredo espantado, perguntando-lhe:
-Aconteceu alguma coisa Geoffrey? Está pálido e estático como uma estátua faz algum tempo. Tentei falar com você, mas não me respondeu.
-Não! Não aconteceu nada, só pensando em como despistarmos Girard para irmos nos reunir com a sua família. E tem o comandante Milet que deve estar sabendo das nossas ações, não é Cons.?
Cons. com sua silhueta rotunda, barriga e glúteos salientes em sua roupa justa de “sans-culottes”, óculos metálicos de aros redondos, cara de fuinha, olhos pequenos e fundos, respondeu com sua voz fina e estridente, quase feminina:
-Sim, ele sabe que iremos encontrá-los. Aguarda a nossa partida.
-Vamos ver com Girard o que aconteceu e interrogar os prisioneiros – concluiu Godofredo.
Girard chegou com os Hussardos de Milet presos, descendo do cavalo e apresentando-se a Geoffrey:
-Viva a Revolução! Aqui estão os soldados leais ao rei e que dizem ser Hussardos comandados por um tal Milet, a mando de Lafayette para nos capturar.
-Viva capitão Girard! Felicitações pela prisão. Vamos interrogar os prisioneiros para saber quem são e quais suas intenções – respondeu Geoffrey.
-Comandante Geoffrey, temos prisioneiros feridos, alguns com certa gravidade, perdendo muito sangue – completou Girard.
-Separe os com risco de morte para serem tratados. Há entre eles algum oficial responsável?
-Sim, este cabo ferido senhor – apontando para Plutot.
-Cuide dele e só o interrogaremos. Trate os demais e os prendam nas celas.
Geoffrey pediu para Cons. ir invisível até o local em que estava Milet, saber o que pretendia o comandante Hussardo, pois deve ter chegado a ele a notícia da prisão de Plutot e seus comandados.
Leonard, espião de Milet, viu a chegada de Girard com seus colegas Hussardos à Linthelles, reportando-se ao chefe sobre a prisão.
-Estão presos. Isso é ruim para nós. Estamos em menor efetivo e não podemos nos arriscar a um ataque surpresa. Precisaremos de reforços. Soldado Vincent, venha aqui – ordenou Milet.
Cons. instantaneamente voltou para informar Godoffredo do pedido de reforços a Lafayette .
Guillaume disse então aos dois:
-E minha família? Eles partiriam ontem à noite, não? Será que estão bem?
-Sim precisamos ver qual a situação deles. Cons. veja em qual localidade acamparam. Depois volte para interrompermos a ida de alguém pedir ajuda a Lafayette – pediu Godofredo.
Jean Pierre, “Le Sabujo” como era conhecido na tropa de Milet, acompanhou naquela noite a viagem da família Montford até a mata próxima à Saint – Dizier. Acamparam em um bosque de coníferas à beira do rio Marne. Estavam preocupados, sem notícias de Guillaume e Godofredo. Cons. sumira.
-Será que aconteceu alguma coisa com eles? –Juliette perguntou ao pai preocupada.
Então Cons. apareceu subitamente, acalmando-os.
-Algum problema? – perguntou o Barão a Cons.
-Não, está tudo sob controle. Há um espião aqui seguindo vocês – falou baixo ao ouvido do Barão a ultima frase. Este arregalou os olhos.
-Descansem para seguirmos viagem ao escurecer – completou Cons. caminhando pela floresta até se tornar invisível novamente e ir encontrar Jean Pierre.
“Le Sabujo” descansava sobre os arreios do seu cavalo pastando amarrado a uma árvore do bosque. Cons. invisível chegou e viu o cabo dormindo a sono solto. Foi até o animal levando-o com cuidado a um local em que pudesse montá-lo. Cavalgou cerca de cinco quilômetros até uma mata e amarrou o cavalo em uma cerca de uma propriedade próxima, deixando-o escondido e com condições de pastar. Depois, instantaneamente voltou a Godofredo informando os acontecimentos.
-Ótimo, estão em Saint-Dizier! Agora siga o soldado de Milet e o impeça de chegar a Lafayette. Não pode em hipótese alguma se encontrar com o General, entendido!
-Sim! E quanto a Milet, ele vai estar só com três soldados, poderíamos prendê-los não? – sugeriu Cons.
-Sim, é o que faremos. Boa sorte – respondeu Godofredo!
Nota do Autor:
Obra ficcional, qualquer semelhança é mera coincidência.