A Saga de Godofredo Parte II – O Teste
15.08.23
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Janice testou o programa no supercomputador da Petrobras, que apoiava a sua pesquisa liberando um link direto para ela, e aparentemente na teoria, funcionava.
Resumidamente, o sistema computacional ou algoritmo que desenvolveu, era acoplado aos eletrodos no cérebro que captavam as ondas eletroquímicas das sinapses neuronais transformando-as em imagens e sons. Através da inteligência artificial, as modelava em três dimensões no vídeo do computador.
Mas, precisava testar em humanos. Teria que aplicar em alguém com as mesmas características físicas de Godofredo quanto à idade, peso, estatura, mas não em coma. Entrou em contato com os amigos dele, que se dispuseram de imediato a ajudá-la.
Três foram selecionados, e os submeteria um de cada vez ao dormirem, pois o subconsciente estaria livre, semelhante ao coma de Godofredo. A equipe de Janice monitoraria cada voluntário em tempo integral.
O primeiro foi Luiz, que conhecia e convivia com Godofredo desde a infância. Janice, ansiosa, iniciou o programa, aguardando que Luiz entrasse na fase REM do sono.
Começou a aparecer na tela imagens do dia a dia de Luiz, mas com a realidade deformada e situações inusitadas, típicas desta fase do sono pré-REM. Era possível distinguir os sons, o que deixou Janice e sua equipe animada.
Uma hora passou e Luiz entrou no sono REM. Sua mente divagou livremente com um grande caleidoscópio de imagens e sons. Janice então, usando o microfone, perguntou:
-Luiz, consegue me ouvir?
Sua voz saiu com ecos fantasmagóricos deixando-a assustada.
Luiz não respondeu, mas com a pergunta transfigurou-se na tela a imagem dela. Janice se emocionou.
-Esta funcionando! – disse em voz alta, fazendo com que Luiz acordasse.
-O que aconteceu? Você apareceu no meu sonho Janice, ouvi sua voz bem alta, acordando-me – falou Luiz à câmera do computador que o monitorava na sua casa.
-Ouviu mesmo? – perguntou Janice.
-Sim! E o que apareceu na tela dos meus sonhos, você gravou? – questionou sonolento.
-Gravei! As imagens são interessantíssimas, estão muito distorcidas, algumas sem pé nem cabeça. Precisaremos, ao analisar todas elas, de ajustes no algoritmo. Mas estou feliz que conseguiu me ouvir e identificar. É um grande avanço.
Aplicou o teste nos três amigos voluntários, compilando todos os dados, mostrando que o programa estava no caminho certo, mas precisava de reconfigurações para melhorar a sua acuidade. Demandaria mais tempo para que pudesse aplicá-lo em Godofredo.
Janice, feliz e triste ao mesmo tempo, seguiu com sua equipe por dias a fio nos ajustes necessários. Gostaria de ter feito contato com Godofredo, mas faltava pouco.
Godofredo, imerso na escuridão das redes neuronais do seu cérebro, seguia revivendo momentos da infância. Como, por exemplo, no dia em que, morando em cidade no interior do estado de São Paulo, precisava tomar uma injeção para a gripe. O farmacêutico foi até sua casa para aplicá-la. Ele, medroso e apavorado, tinha trauma de injeção, subiu no telhado negando-se a descer. Por um bom tempo ficou sentado sobre as telhas com sua mãe e farmacêutico embaixo tentando convencê-lo. Então, o aplicador colocou uma escada e subiu para pegá-lo. Godofredo aflito e desesperado pegou cacos das telhas e jogou contra o homem, que desceu. Seu pai foi chamado e depois de muita conversa e promessa, finalmente desceu e tomou a injeção.
Godofredo sorriu da situação com a névoa escura em que estava inserido iluminando-se fortemente. Bons tempos!
Nota do Autor:
Obra ficcional, qualquer semelhança é mera coincidência.