Uma estranha na vila. ( Capitulo 1)
Andar por entre uma multidão e se sentir só, era uma sensação que me acompanhava diariamente. A cidade onde moro tem mais ou menos sessenta e cinco mil habitantes, porém comparada com outras cidades que estão evoluídas, Dom Eliseu era uma pequena vila. Eu me chamo Karen, e me sentia uma estranha nessa vila, não só por ser homossexual, mas também por viver em um ambiente hostil e cheio de raiva.
Eu estava na primeiro ano do ensino média e havia acabado de sair do armário para minha família, foi terrível um verdadeiro show de horrores. Isso porque eu estava ficando com uma garota as escondidas, e ela havia dormido na minha casa algumas vezes. E é claro que a mãe dela não sabia de nada, foi numa segunda-feira a tarde. A minha mãe estava sentada do lado de fora da nossa casa, na calçada a espera das vizinhas para elas fofocarem sobre qualquer assunto aleatório que não era da conta de nenhuma delas. Meu pai estava tomando banho, e eu estava assistindo televisão, a confusão foi tanta que nem me recordo do que passava na TV. E foi nessa tarde que a mãe da Gabriela apareceu na porta da minha casa, com ela junto. Ela perguntou para minha mãe se era ali, que a sem vergonha da filha dela estava dormindo. Minha mãe sabia tão pouco quanto ela, e quando percebi eu já havia sido exposta. A maldita mulher contou que eu e a sua filha estávamos namorando e ela não aceitaria esse tipo aberração, na família dela. E para meu azar a minha mãe me chamou e disse que ia resolver aquilo ali.
— A senhora quer que eu resolva isso como?
Perguntei já sabendo a resposta, a minha mãe queria que eu assumisse a responsabilidade por toda aquela confusão. Mas como fazer isso sem meio que me assumir para a minha família?, não tinha como falar a verdade sem ter danos colaterais, então assumi tudo de uma só vez, menos a parte da aberração.
— Você está proibida de se aproximar da minha filha, sua pecadora.
— Saia agora da porta da minha casa, e não volte mais aqui. Nem você e muito menos a sua filhinha santinha aí.
As duas bateram boca, e eu com muita vergonha fui correndo para meu quarto e bati a porta. Nem preciso comentar que a minha mãe ficou uma fera, passou a noite toda discutindo com meu pai sobre a vergonha que ela havia passado. E que agora ela não podia nem sair na rua com a cabeça equida, era como se nos estivéssemos no seculo passado ou sei lá. Aquilo era um pesadelo, só podia ser, em que lugar do universo tudo aquilo iria prejudicar a minha mãe e somente ela?
Na manhã do dia seguinte ir para a escola foi normal, no carro meu pai não falou uma frase sequer, ou seja, ele ainda estava pensando no que iria me falar melhor, como iria falar.
— Tenha um bom dia de aula, e ver se você se comporta.
Como assim? O que significava aquilo?
Ele saiu em seguida e eu entrei na escola, a abençoada escola para meninas recatadas de nossa senhora das graças. Andei por dois corredores tentando bolar uma boa frase para chegar na Gabriela, e quando cheguei na sala dela, havia uma maldita roda de garotas ao seu redor e eram lideradas por Isabela, a prima da minha namorada.
— Você não pode falar com ela, são ordens da minha tia.
— Nossa, quer disser que você segue a ordens?, e quanto a ordem de não sair de perto do acampamento no mês passado?
No mês de julho fomos acampar, toda a escola foi. Havia muitas regras ali, a maior delas envolviam a virgindade. Coisa que isabela havia perdido, com o nosso monitor Rafael, ele era o único homem que podia entrar e sair da nossa escola e era de maior, ele tinha uns vinte e cinco anos e a Isabela tinha somente dezesseis. Vocês devem está se perguntando como sei que ela havia quebrado a regra, é simples consigo ficar invisível por alguns minutos, esse é o meu segundo segredo.