Homem - Cobra (Parte 6)

Naquela manhã nublada e fria, Roger saiu do quarto daquele hotel decrépito apenas para comprar o jornal do dia e uma garrafa de conhaque. Ao entrar no quarto, sentou na cama, deu uma olhadela pelo jornal lendo rapidamente as manchetes na capa, abriu a garrafa de conhaque e deu um trago pela garrafa mesmo, já que não tinha nenhum copo por ali.

Tinha duas coisas que precisava fazer; a primeira era responder a mensagem que sua ex-esposa lhe enviara pelo celular (o que não sabia se teria coragem nem clima para fazer) e a segunda era pesquisar na internet sobre Vítor Ambrósio e seu pai, Geraldo Ambrósio.

Das duas coisas, optou por fazer primeiro a segunda. Pegou o celular, entrou no Google e digitou primeiro o nome Geraldo Ambrósio, clicou em pesquisar e ficou pasmo com o que apareceu. Uma matéria em uma página de notícias da cidade que dizia: NOTÁVEL CIENTISTA IDOSO ESTÁ DESAPARECIDO HÁ MAIS DE UM MÊS. Como assim desaparecido? Então não era certo que o velho tinha morrido? Ele estava apenas desaparecido? Mas o corpo tinha desaparecido daquele lugar onde Roger supostamente havia assassinado o velho. Aquilo tudo era muito estranho para o homem com aparência de réptil. Por que só agora pensara em pesquisar aquilo na internet? Talvez por não ter o hábito de usar as tecnologias do mundo... eram os pensamentos que passavam pela cabeça do homem-cobra.

Logo após ler aquela matéria que apenas falava sobre o suposto desaparecimento do cientista que tanto odiava, Roger pesquisou no Google o nome Vítor Ambrósio. O que apareceu foi o seguinte : JOVEM PRODÍGIO DA CIÊNCIA CHAMA ATENÇÃO AO MOSTRAR TER A MENTE TÃO BRILHANTE QUANTO A DO PAI. Ao lado uma foto de um jovem que aparentava estar na casa dos trinta anos, cabelos bem cortados e bem cuidados pretos, barba negra bem desenhada e com um jaleco branco.

Então era isso; Vítor tinha uma carreira na ciência notável igual à do ardiloso pai. Era atrás desse cara que Roger precisava ir; talvez fosse ele quem pudesse transformar o Homem-Cobra num homem de aparência humana novamente.

No mesmo site onde Roger encontrou a matéria que falava sobre Vitor, tinha também o nome da escola onde Vítor Ambrósio costumava lecionar. O Homem-Cobra então pesquisou pelo Google em que endereço ficava a escola, pegou uma caneta que carregava no bolso e anotou num pedaço do jornal o local onde encontraria o filho do cientista que o transformara num mostro.

Pronto, Roger havia feito metade do que precisava fazer, já tinha feito suas pesquisas na internet. Agora precisava responder sua ex-esposa. Mesmo depois de enfrentar o divórcio, Roger ainda a amava, e por mais que talvez entrar em contato com Elisa fosse despertar novas brigas entre o casal, ele estava disposto a tentar dar uma nova chance para o relacionamento. Mas ele ainda não tinha coragem de respondê-la. Não queria que ela o visse com aquela aparência que lembrava uma serpente. Talvez fosse melhor ir atrás de Vítor Ambrósio primeiro, e interrogar o cientista para ver se o jovem podia fazer alguma coisa por ele.

Decidiu então não esperar. Era de manhã, e mesmo em tempos de pandemia, talvez conseguiria encontrar o jovem cientista na tal escola onde ele lecionava. Deu rapidamente mais uns tragos na garrafa de conhaque, colocou o chapéu, a máscara, os óculos escuros e um sobretudo preto, saiu do quarto, foi até a garagem do hotel, entrou em seu carro, ligou o motor que roncou quando ele deu a partida rumo à escola.

Pisava forte no acelerador, andando rápido e fazendo ultrapassagens enquanto corria pelas ruas de Belo Horizonte.

Levou quarenta e três minutos para chegar à porta da escola. Era uma universidade que tinha um jardim e um portão em formato de grade de frente para a rua. Roger estacionou o carro em frente e notou, para sua satisfação, que o portão estava aberto.

Saiu do carro, passou pelo portão, e viu que tinha um porteiro numa guarita. Foi em direção a ele que perguntou ao notar a presença de Roger:

— Em que posso ser útil, senhor?

— Bom dia. Eu queria saber se o doutor Vítor Ambrósio se encontra no momento. — disse Roger tentando soar o mais natural possível.

— Quem é você? O que deseja com ele?

— Meu nome é Roger, eu sou um conhecido dele e do pai dele, o Geraldo Ambrósio. Tenho um assunto do interesse dele para tratar. Ele está na escola?

— Não estamos tendo aulas por causa da pandemia, mas o doutor Vítor está no laboratório trabalhando. Aquele cara é viciado em trabalho. Siga reto por aquele corredor, vire à esquerda e você verá uma sala com uma placa indicando que lá é o laboratório.

— Muito obrigado, amigo. Tenha um bom dia. — e Roger foi em direção ao laboratório refletindo que aquilo tinha sido muito mais fácil do que ele imaginara.

Ao chegar a tal sala, foi logo entrando e então viu um homem de costas usando um jaleco branco e mexendo em alguns frascos com líquidos que estavam sobre uma mesa. Ao notar a presença atrás de si o homem virou e então Roger pode ver que se tratava de Vítor Ambrósio.

Antes que Roger dissesse alguma coisa, Vítor esboçou um sorriso e foi logo dizendo:

— Olha só, veja se não é o Roger Nascimento. Ou prefere que eu te chame de Homem-Cobra?

— Você já me conhece, não é, seu idiota.

— Sim. Eu venho te observando em segredo já há alguns dias. Já soube que você se divertiu com meus três capangas que lhe fizeram uma visitinha. A que devo o prazer de sua presença?

— Deixa de sarcasmo. Você deve saber o que eu quero com você. Quero que você me torne humano de novo. Quero que reverta o que seu pai fez comigo. Quero que devolva minha aparência normal.

— Já previa que era isso que você queria.

— Não brinque comigo. Você já sabe do que eu sou capaz. Posso te matar aqui mesmo se eu quiser.

— É aí que você se engana, Roger. Quero que saiba que o seu estado é irreversível. Quero também que saiba que eu trabalhei e aprimorei o soro que meu pai aplicou em você. Sabe quem foi a cobaia do meu novo soro aprimorado? Eu mesmo. Eu me sujeitei a uma picada de cobra e me apliquei o soro que eu trabalhei. Aí você deve estar se perguntando por que eu não me transformei num monstro como você. Eu não me transformei num monstro com aparência de réptil porque o meu soro, diferente do de meu pai, só me deu os super-poderes de cobra, mas não alterou minha forma física. Ou seja, só ganhei a parte boa.

Se é que era possível, Roger sentiu ainda mais ódio do jovem cientista.

CONTINUA...

Higor Santos
Enviado por Higor Santos em 06/08/2023
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