Acelerado – Relógio da Ansiedade
Domingo à tarde ele a convidou para sair, ou melhor, um amigo fez isso por ele, pois coragem nem mesmo teve para digitar aquela curta e objetiva mensagem: — Aceita sair comigo? — Não seja clichê, pra onde quer ir? Ela já era afim dele, mas o medo, o nervosismo, os pensamentos autodestrutivos e a persistente síndrome de inferioridade eram as suas próprias amarras, a prisão mental e o quarto escuro, donde não desejava sair, pois, temia morrer ao primeiro contato com a luz. — É só um encontro, mano, relaxa a alma... — É só, é só um encontro... Como!? Você me coloca nisso e ainda diz “é só”... — Olha a hora, ou vai se atrasar. Ela vai estar pronta em uma hora. É bom não faltar, mulheres odeiam ser chamadas e não ser atendidas.
Arrumou-se melhor do que o de costume. A ocasião era excepcional. Para ele, sobretudo, terrível! Tropeçou e quase caiu na frente da casa dela. — E aí, aonde vamos? — Pi-Pizzaria. — Hum! Vou querer a marguerita. Sem olhá-la, respondeu, timidamente: — Tá. Algo faltava naquele momento, e ele sabia muito bem disso, mas o que queria ou deveria dizer não disse. Só estava ali por causa do amigo. Se é que ainda falaria com ele após aquela tardezinha caminhando ao lado da companheira tão sorridente e alegre, se não fosse por ela a rua teria de cantar a música das pisadas para mandar embora o silêncio dele.
Encontrava-se ali, naquele encontro, em corpo, mas, em mente, ele não parava de conferir o relógio de pulso, que tanto alisava e limpava o visor, justificando a si mesmo de que estava sujo, quando, na verdade, era uma mancha que desde a compra já havia nele. — O que o casal deseja? — indagou o garçom a ela, pois ele ao ouvir as palavras do funcionário local, não tirou mais os olhos do tempo, que, visando fixamente, assustou-se ao notar os ponteiros girando rapidamente.
Ele sentiu tontura, resistiu ao desmaio e, quando voltou a si, percebeu que a tarde havia caído e a noite iniciado, como um gato ao chegar de mansinho.
Sob a ornamentada mesa entre ambos, ela roçava as pernas de inquietação por ele não ter lhe dado atenção, e o desejo de chutá-lo até o garçom tinha, pois, quem diabos aguenta ficar duas horas em pé. — Nós já vamos embora! E apesar de dizer nós, sozinha se foi, deixando o apaixonado a receber os resmungos do irritado funcionário. E, quando deixou o local também, percebeu ao passar sob a luz de um poste elétrico que os ponteiros de seu relógio haviam voltado ao normal já marcando sete da noite.
Hora tão cedo, mas não há hora exata para que um ladrão cruze a sua frente. O desconhecido homem encapuzado apontou uma arma sobre a cintura dele. — Dê-me tudo que tem! Só tinha umas duas notas e o relógio. — Por favor, o relógio é presente do meu falecido bisavô. — Não! Relógio também! E, tremendo e suando, tentou retirar o pertence do pulso, enquanto seu coração acelerava, seus pulmões ofegavam e a sua cabeça pulsava. — Se demorar mais um segundo, morre! Sob a pressão da séria ameaça, sentiu também o estômago queimar e os nervos arderem. Ao receber o relógio, o ladrão sobressaltou-se, exclamando, amedrontado: — Já é meia-noite! Olhou para o céu noturno e notou que a lua de fato estava em uma posição diferente a de antes de iniciar o roubo. — Maluco, que parada é essa!? O bandido deu um passo para trás, largou o relógio no chão e correu dali, pensado estar ficando doido.
— Oh não, o tempo passou rápido de novo — murmurou consigo mesmo ao pegar seu relógio do chão.