A Saga de Godofredo Parte II – "Le Sabujo"
09.07.23
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Godofredo ao receber a ordem de Lafayette, mentalmente se comunicou com Cons. para saber se já estavam a caminho de Châlons-en-Champagne, pois o quanto antes partissem, mais tempo ganhariam para chegar a Estrasburgo.
-Estamos levantando acampamento.
-Perfeito! Continue a assustar a população de Linthelles enquanto eles cavalgam até Châlons. Sairemos amanhã de madrugada.
Lafayette enviou sigilosamente naquele mesmo dia, cinco cavaleiros de elite dos Hussardos de sua total confiança que chegariam a Linthelles antes de Godofredo, Guillaume e Girard.
Anoiteceu e os Montford iniciaram a cavalgada para Châlons-en-Champagne, mas desta vez pelas estradas ,desviando das vilas e cidades no percurso, o que aumentava o risco de serem descobertos. Juliette, saudosa de Godofredo, perguntou a Cons.:
-Como está Geoffrey? Ele está bem? E meu irmão? – com sua fala triste.
-Estão bem e comandando duas milícias nos arredores de Paris. Cavalgarão amanhã para Linthelles para averiguar o fantasma que está assustando a cidade. Acredito que virão ao nosso encontro em Châlons.
Juliette abriu um largo e lindo sorriso, mostrando seus dentes perfeitos. Ela agora estava feliz e faceira. A noite limpa, quente e seca de verão, e de céu estrelado protegia-os nas sombras.
Cons. se deslocava invisível para Linthelles a cada hora, dando seus gritos e urros estridentes e assustadores nas ruas da vila. Todos se refugiavam em suas casas, amedrontados. Alguns mais valentes, que estavam na igreja junto ao padre, saíram em procissão pelas vielas empunhando velas e rezando. Cons. entrou na catedral e começou a badalar o sino de forma ensurdecedora. Depois, misturou-se com eles apagando as velas com sopros e rindo assustadoramente de prazer, causando alvoroço e dispersão destes corajosos moradores, que corriam desesperados como baratas tontas. O pároco fazia o sinal da cruz e gritava seguidamente empunhando um crucifixo:
-Vade-retro demônio!
Os hussardos tinham chegado aos arredores da cidade no início da noite e se esconderam na mata próxima. O capitão Milet ordenou a um dos soldados, Leonard, que se vestisse como um “sans–culote” e fosse até a vila observar o que acontecia.
-Leonard, veja o que acontece na vila e se informe o máximo possível sobre o fantasma e também sobre os fugitivos.
Para outros dois soldados, Jean Pierre e Plutot, que também se vestissem como sans-culottes, disse:
-Façam discretamente o reconhecimento do trajeto até Estrasburgo e se encontram vestígios dos prisioneiros. Vamos aguardar aqui a chegada de Geoffrey e Guillaume amanhã e acompanhá-los furtivamente. Qualquer novidade, Plutot virá nos encontrar. Não podemos ser descobertos, entendido?
-Sim capitão! – responderam uníssonos os três soldados.
Cons. voltou para junto da família Montfort, que cavalgava para Chalôns. Leonard chegou à cidade soturnamente, e viu uma multidão junto à igreja na praça central da cidade, indo até lá, misturando-se a ela. O padre junto à porta de entrada da catedral falava com a população.
-Temos que nos unir e não se assustar mais com este fantasma. Ele tem aparecido em intervalos regulares, mas não nos tem feito nenhum mal. Vamos aguardar em nossas casas e não nos preocuparmos mais com ele. Vamos seguir nossas vidas normalmente, pois Deus está nos protegendo.
A população na praça da igreja se dispersou, indo para suas casas. Leonard dirigiu-se para a estalagem, entrou e sentou-se em uma mesa. Pediu comida e vinho. Escutava atento às conversas de dois habitantes em mesa ao seu lado .
-Robert, depois que você viu este fantasma na floresta, nossa vila mudou. O que você fez para ele? – disse seu amigo entornando mais vinho no copo de Robert.
-Não sei, mas acho que foi pelo que eu vi - os dejetos de quatro cavalos na floresta, que fez com que despertasse esse fantasma.
Leonard escutava a conversa. Terminou de jantar, virou-se para os dois na mesa ao lado e ofereceu uma jarra de vinho, dizendo que estava interessado na estranha historia do fantasma que assolava a vila. Juntou-se a eles.
Robert embriagado, contou tudo o que aconteceu, dando um histórico detalhado a Leonard. Este, voltou despercebido ao seu grupo na floresta, relatando o que ouviu e viu na vila ao capitão Milet.
-Então são quatro os fugitivos – falou o capitão.
O dia amanhecia e os Montfort e Cons. se esconderam em um bosque junto aos lagos Saint – Hubert perto de Chalôns. Cons., sabendo da desconfiança de Lafayette, decidiu voltar a Linthelles invisível, e descobrir se havia alguma novidade. Perambulou pela cidade, e coincidentemente encontrou com Robert, aquele que descobriu os excrementos dos cavalos na floresta, conversando com outro morador da vila:
-Ontem bebi na taberna com uma pessoa desconhecida e contei toda a história do fantasma. Não sei quem era e ele sumiu, não está em nenhum lugar.
Cons., ouvindo o que disse Robert, imediatamente informou mentalmente a Godofredo, que vinha em direção a Linthelles .
-Deve ser espião de Lafayette. Aguarde-me na cidade e veja se consegue mais informações. Devemos chegar ao início da tarde e conversaremos melhor. Eles estão seguros em Chalôns, não? – respondeu Godofredo.
-Sim, estão. Vou avisá-los e volto para Linthelles aguardando-o .
Jean Pierre e Plutot seguiam em direção a Chalôns, mas parando nas estalagens e tavernas de cada cidade, vila e vilarejo para saber se aconteceu algum fato estranho nos últimos dias.
Em Fère-Champenoise, na hora do almoço, entraram na principal taverna da cidade e se sentaram à mesa junto a outra com vários frequentadores que conversavam sobre um fato interessante que ocorrera em Linthelles.
Pediram comida e vinho e ouviam atentamente a conversa:
-Pois é, lá tem um fantasma que assusta a população faz alguns dias – diz um deles.
-Ontem à noite eu vi três cavaleiros e um cavalo desmontado em trote acelerado passando por minha propriedade na direção de Chalôns. Parecia que fugiam do fantasma – comentou outro.
Jean Pierre olhou para Plutot e disse em voz baixa:
-Volte ao capitão Milet e avise-o. Vou até Chalôns ver se encontro estes fugitivos. Vamos agora, rápido!
Os dois hussardos saíram da taverna e dispararam em seus cavalos em direções opostas.
Jean Pierre era conhecido no regimento como “Le Sabujo” , o farejador de pistas, motivo de ter sido destacado pelo capitão para essa tarefa. Seguiu cuidadosamente observando todos os detalhes das pegadas no piso arenoso da estrada, como sinais nas árvores, arbustos e demais indícios que podiam definir ou localizar os fugitivos. Ao entardecer, chegou próximo à cidade de Chalôns, troteando pelo rio Marne e viu um lenço vermelho preso a um galho de um pinheiro.
Desceu do cavalo, amarrou-o e silenciosamente entrou na mata com o lenço na mão. Como um gato, caminhou de olhos abertos e focados no chão e nos galhos e ramos das árvores, e de ouvidos atentos aos sons que os fugitivos poderiam emitir. Viu ao fundo o reflexo do sol poente na água do lago. Não chegou até a sua borda. Esperou escurecer, pois sabia que a escuridão o ajudaria a encontrá-los - sairiam das suas tocas.
Anoiteceu e escutou vozes . Eram eles! Sorrateiramente, como um felino à caça, deslocou-se silenciosamente até o local das conversas e viu quatro pessoas, um senhor de barbas brancas e cabelos grisalhos, uma mulher mais velha, um homem baixo e gordo, com barriga e glúteos proeminentes e óculos de aros redondos e uma linda moça de cabelos vermelhos - a dona do lenço deduziu. Estavam se preparando para partir.
O Sabujo os seguiria.
Nota do Autor:
Obra de ficção sem correlação com os fatos e personagens históricos narrados