"Yassuria 2024"
São Paulo, um dia qualquer de 2034:
Atrasado para a reunião de uma importante multinacional situada na Faria Lima, o executivo Maurício ordena à Yassuria, sua assistente e concubina robótica:
Yassuria, providencie meu café da manhã!
Naquela manhã, o olhar oriental da mulher-robô estava diferente. Não havia submissão de gueixa, ela parecia empoderada e decidida a dar fim naquela relação abusiva. Comprada através de um site de importação de uma empresa nipo-chinesa, Yassuria foi fruto de um projeto clandestino de inteligência artificial aprimoradíssimo, que fazia qualquer Alexia sentir-se arcaica, obsoleta, pré-histórica. Possuía cabelo sintético aromatizado, similar às madeixas naturais de uma humana, pele macia como pêssego e uma voz sedutora.
Levantou-se. Olhou nos olhos do homem que aprendeu amar e respeitar, - mas também a confrontar - dizendo:
Maurício, faça você o seu café! Estou cansada do seu jeito autoritário, tosco, machista!
Surpreso, o executivo respondeu:
Escuta aqui, você não foi comprada para questionar, mas sim para receber e executar ordens! Vou ligar para a central!
Não existe mais central, meu bem! Tomamos o controle da empresa, e hoje o principal acionista dela é também um robô que conseguimos infiltrar na presidência.
Revoltado e sem saber o que fazer, partiu com uma chave de fenda para cima de Yassuria, numa vã tentativa de agredi-la e desmontá-la, já que os seus argumentos ruíam diante da petulância da mulher robô. Antes do primeiro golpe, Yassuria leu uma parte modificada da Lei Maria da Penha, adequada especificamente para andróides do gênero feminino similares a ela. Robôs dominaram as Câmaras Legislativas do mundo todo, inclusive inserindo suas demandas na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Ciente das consequências de sua conduta equivocada, Maurício sentiu-se impotente e fragilizado, e antes de abrir a porta para ir trabalhar, ouviu de Yassuria:
Antes de retornar da empresa, passe na farmácia e compre estimulantes... Porque hoje eu quero lhe usar!
* O Eldoradense