A Saga de Godofredo Parte II – A Conversa e a Fuga
12.05.23
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Todos sentados na sala, ao som da lareira crepitando, aguardavam a fala de Geoffrey, Godofredo.
Guillaume, Juliette , seu pai e sua mãe sentaram-se juntos em um sofá. Esprit, Cons., sentou-se em uma poltrona. Geoffrey em pé encarava o fogo, ouvindo os estalos da madeira. Alinhava os argumentos na mente.
Antes, voltando para a casa do estábulo, no qual estavam os pais de Guillaume e Juliette, Godofredo falou mentalmente com Cons. :
-Acho que não posso contar que sou descendente do Barão Krumin-Lep. Pode ser que nos estejam enganando. Não confio muito na versão deles. Talvez, dizer que sou sobrinho do Barão por parte da sua mulher, Béatrice, que nos enviou uma carta para vir a Paris ajudá-los na fuga, mas que chegou muito tarde até nós em Estrasburgo. O que acha?
-Não sei. Eles conhecem o Barão há muito tempo, e melhor que nós. Vamos ter que correr o risco e contar que é descendente dos Krumin-Lep, que vive há três séculos à frente e veio ajudá-los a fugir para a Áustria e Rússia.
-Mas como eles vão acreditar que sou do futuro?
-Contando o que acontecerá com a revolução, os seus personagens e as principais mudanças politicas que provocará, comprovando tudo o que disser com a efetivação destes fatos. Você está em outra dimensão de espaço e tempo, ou multiverso cerebral, mas eles não imaginam o que seja isso. Você aqui, nesta época, é a prova viva desta situação – concluiu Cons.
-Vão achar que sou louco, ou que estão ficando malucos também. Então, por exemplo, falar sobre o que irá acontecer com Marat, pois amanhã iremos encontrá-lo, será a melhor forma de mostrar a minha veracidade, certo?
-Assim espero – respondeu Cons.
-Seja o que Deus quiser.
Geoffrey, ainda em pé de frente para a lareira, virou-se sério para a família do Barão du Montfort e começou a falar:
-O que vão ouvir pode ser uma loucura, mas sou a comprovação de que é verdade o que digo – dando uma pausa na sua fala, enquanto Guillaume, Juliette e seus pais intrigados se entreolhavam. Juliette olhava com ternura para Geoffrey, que seguiu o relato:
-Sou descendente do Barão Krumin-Lep, mas vivo há três séculos à frente, no ano de 2023.
Ouviu-se um forte rumor dos Montfort, que se mexeram no sofá, atônitos com a afirmação de Geoffrey. Juliette arregalou os lindos olhos claros, e como uma estátua, mantinha o olhar parado em Godofredo.
-Que brincadeira é essa, Geoffrey? - perguntou-lhe Guillaume espantado.
-Não é brincadeira não, é verdade. Eu sou a personificação da minha mente, que pode estar em outro local e época, como agora nos acontecimentos da Revolução e na queda da Bastilha. Esprit, é a minha consciência, me acompanha como um ser humano também. Nos próximos séculos, a ciência avançará tremendamente, proporcionando situações, que para vocês seriam consideradas bruxaria. Somos reais, certo? Vocês podem nos tocar, abraçar não é mesmo? Como nos encontrou Guillaume, lembrasse? Estávamos escondidos na ponte de acesso à Bastilha, nos viu e nos chamou. Recorda-se se havia alguém antes de nós ali? Não, certo? Aparecemos do nada. Não foi isso o que aconteceu?– argumentou Godofredo com a família embascada pelo o que ouvia.
Juliette levantou-se magnetizada pela fala de Godofredo, dirigindo-se até ele olhando-o fixamente nos olhos. Deu-lhe um abraço e um beijo carinhoso nos lábios. Queria confirmar se ele era real. Balbuciando e sorrindo, após abraçá-lo e beijá-lo, disse:
-É real. Geoffrey é real.
-Bem, então o que acontecerá? Fale! – diz Guillaume imperioso e desconfiado. Geoffrey começou a contar os fatos que ocorreriam com Marat e as mudanças politicas provocadas pela revolução.
-Amanhã iremos encontrar com Marat. Ele irá editar em setembro, daqui a dois meses, o jornal “O Amigo do Povo” que se tornará o mais popular e radical da Revolução. Por sua linguagem extremamente virulenta, será preso em outubro, por incitação ao motim - falou Godofredo e parou por alguns instantes, deixando-os ansiosos.
-Sim, e o que mais? Com relação à Monarquia, o que ocorrerá? E a nobreza? – perguntou o Barão pai. Godofredo olhou de soslaio para Cons. e disse-lhe telepaticamente:
-Não posso contar tudo de uma vez, não é mesmo? Vou deixá-los com duvidas, e assim ganharemos tempo para acharmos meus antepassados, concorda?
-Sim!
-Vou falar um pouco dos fatos políticos que acontecerão nos próximos meses – seguiu Godofredo:
-No dia 4 de agosto próximo, a Assembleia Nacional votará a abolição dos direitos feudais, e no dia 26 emitirá a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, um dos documentos fundamentais da história da civilização moderna.
-Meu Deus, exclama o Barão. Então não podemos ficar aqui nem mais um segundo. Temos que partir imediatamente! – falou para a mulher, olhando-a com medo e desespero.
-Sim! Por isso que o Barão Krumin fugiu a uma semana – concordou Geoffrey.
-Faz dois dias que partiu! – replicou Guillaume.
-Dois dias? E por que só agora nos conta? – questionou firme Geofftrey.
-Pelo mesmo motivo das suas desconfianças com relação a nós.
-E você sabe para qual direção foram? – perguntou Geoffrey.
-Exatamente para Estrasburgo. Vão disfarçados de “sans – culote”, caminhando pelas matas e locais em que não sejam vistos. E com os quatro filhos, demorarão no mínimo uma semana, pois dista daqui quatrocentos quilômetros pelas estradas.
-Em Estrasburgo sabe em qual local ficarão? Podemos pegar os cavalos do estábulo e cavalgarmos à noite e nos escondermos durante o dia – propôs Geoffrey.
-Sei para qual local irão. Mas, temos só quatro cavalos – respondeu Guillaime.
-Vão seus pais, Juliette e Esprit. Eu e você temos que manter o nosso disfarce de revolucionários e ir ao encontro com Marat amanhã, saber das ações futuras que definirão – afirmou Geoffrey.
-Concordo com a proposta de Geoffrey – diz o Barão du Montfort. Cons. assentiu com a cabeça.
-Temos que partir já, pois o dia vai clarear daqui algumas horas e poderemos estar longe ao amanhecer – concluiu o Barão.
Juliette olhava tristonha para Geoffrey, pela separação inesperada. Godofredo lhe retribuiu o olhar e falou carinhosamente:
-Não se preocupe, vou cuidar do seu irmão e nos encontraremos em Estrasburgo.
Foram para o estábulo arrear os cavalos.
Nota do Autor:
Obra ficcional e qualquer semelhança é mera coincidência.