A Saga de Godofredo Parte II – Desconfianças

04.05.23

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Robespierre despediu-se de todos e saiu da residência dos antepassados de Godofredo. Este, estático e surpreso olhava para Guillaume, pois na conversa com Robespierre disse que eram também de Estrasburgo e que vieram para Paris junto com Godofredo e Cons. . Atônito, perguntou a ele:

-Como que viemos juntos de Estrasburgo? Que história é essa Guillaume?

-Geoffrey, sei que vocês não são“sans-coulotte” e nem revolucionários. Somos de origem nobre e nossos pais estão escondidos na estrabaria desta propriedade. Conhecem o Barão Krumin-Lep, que nos deixou ficar aqui. O Barão partiu faz uma semana em direção a Áustria. Meus pais também precisam fugir para lá, pois Maria Antonieta é austríaca e dará guarida aos da sua corte. Estão caçando e guilhotinando a nobreza francesa. Precisamos que nos ajude nessa jornada – respondeu olhando firmemente para Geofrrey revelando o seu segredo, com Juliette cabisbaixa aquiescendo com a cabeça.

-Não entendo mais nada. Arrastaram-nos para a tomada da Bastilha comandando os revoltosos ontem; hoje encontramos com Robespierre; amanhã conheceremos Marat para participar das milícias. Qual o seu intuito? – desabafa Geoffrey, com Esprit sisudo e quieto acompanhando a conversa.

-O envolvimento com os revolucionários é para sabermos previamente quais serão suas ações. Assim, levaremos meus pais em segurança até a Áustria. Estou infiltrado no meio deles, e vocês também estarão – complementou Guillaume.

A conversa cessou. Geoffrey e Esprit se entreolharam desconfiados. Godofredo falou mentalmente com Cons.:

-História esquisita, não? Acho que querem que contemos nosso segredo para nos delatar e sermos presos. Qual é a sua opinião?

-Bem, pode ser verdade o que dizem. Não revelariam sua condição de nobres a qualquer um, e toda ajuda é bem vinda. O único jeito de confirmarmos a historia é conversarmos com seus pais sobre o Barão Krumin-Lep – respondeu Cons.

Godofredo concordou e falou aos dois irmãos:

-Vamos até a estrebaria conversar com seus pais sobre sua história maluca, pois temos amigos em Estrasburgo que também conhecem o Barão.

-Agora? – perguntou Guillaume surpreso.

-Sim, por que não? Algum problema? Se for verdade o que diz, quanto antes melhor para tirarmos a desconfiança. Vamos! – levantando-se e caminhando em direção à saída nos fundo da casa portando um lampião. Os irmãos e Esprit seguiram-no.

O estábulo estava às escuras, com as portas e janelas fechadas. Guillaume adiantou-se e bateu três vezes no portão. Os cavalos se manifestaram com pequenos relinchos. A porta se abriu e um vulto apareceu na escuridão, era seu pai. Um senhor de estatura mediana, barba comprida e branca, poucos cabelos desalinhados usando roupas gastas e puídas – disfarçado de “sans – culotte”. O pai olhou apavorado para os dois desconhecidos, pensando que seria preso. Ficou estático, com os olhos arregalados e fixos no filho.

-Não se preocupe pai, eles não são revolucionários. Querem saber sobre o Barão Krumin-Lep, que você conhece muito bem e que nos deixou ficar aqui após ele fugir com a família para a Áustria.

Godofredo comentou com Cons. mentalmente:

-Sei que o Barão Krumin-Lep era da região de Saint–Denis. Então esta casa deve ser neste local, próximo a Paris. Vamos ver o que diz.

Guillaume apresentou os seus pais :

-Meu pai, Barão Antoine du Montfort e minha mãe, Baronesa Cécile. Monsieur Geoffrey e Esprit. – com sua mãe, vindo do interior da cocheira, juntar-se ao marido.

Godofredo e Cons. fizeram uma leve mesura com a cabeça. Godofredo iniciou a conversa:

-Muito prazer Barão e Baronesa Montfort. Tenho algumas perguntas sobre o Barão Krumin-Lep e da propriedade, pois conhecemos alguns amigos dele. Nosso intuito é tirar as dúvidas quanto às ações dos seus filhos, que nos arrastou para a tomada da Bastilha, tornando-nos revolucionários, sendo eles nobres. A nós, é muito estranha essa história.

-Sim, o que deseja saber, “monsieur” Geoffrey?

-Há quantos anos é da família do Barão esta casa? E em qual distrito se localiza? Ele tem quantos filhos? Como se chama sua esposa? Por quanto tempo o conhece ?

O Barão Montfort, amparado por sua mulher segurando no seu braço direito, começou titubeante a responder às questões:

-Bem, conheço-o faz mais de trinta anos. Ele frequentava nossa propriedade em Lyon, hoje tomada pelos revolucionários, e por isso fugimos para cá, pois nos disponibilizou a casa . Fica no distrito de Saint-Denis e está na família Krumin-Lep há três gerações. Sua esposa chamasse Béatrice e eles têm quatro filhos, dois casais – respondeu altivo o pai de Guillaume, assumindo sua postura nobre.

Godofredo silenciou após ouvir as respostas. Cons. falou telepaticamente com ele:

-Bem, pelo visto é mesmo de seus antepassados essa casa, pelo que confirmou a fala do Barão .

-Sim, é verdade.

-Então, estão satisfeitos com as respostas do meu pai? Agora, precisam nos contar a sua verdadeira história, pois não sabemos nada de vocês? Temos também nossas desconfianças – questionou Guillaume, com Juliette olhando fixamente para Godofredo.

Godofredo desviou do olhar languido de Juliette, pensou demoradamente e respondeu:

-Vamos nos aquecer na lareira da casa junto com os seus pais, e lá contarei a nossa história.

Nota do Autor:

Obra ficcional e qualquer semelhança é mera coincidência.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 04/05/2023
Reeditado em 04/05/2023
Código do texto: T7780221
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