A Saga de Godofredo Parte II – A Tomada da Bastilha

16.03.23

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Godofredo e Cons. estavam, em meio à turba enfurecida, com homens, mulheres e militares desertores deslocando-se em direção a enorme fortaleza de altas torres de pedra. A multidão gritava em um dialeto muito parecido com o francês.

-Cons., é a Bastilha lá na frente? – pergunta Godofredo.

-Sim, hoje é o 14 de julho de 1.789, dia da queda da Bastilha. Estamos no início da Revolução Francesa e vamos participar desse evento. A língua que você estranha, mas entende, é o “poissard”, uma gíria falada pelos trabalhadores do mercado de Paris, principalmente pelas mulheres peixeiras. Os homens apelidados de “sans-cullotes”, usam roupas maltrapilhas como as nossas. São os sem calção, que só os nobres usam. Você está participando do momento histórico mais importante da nossa era, pois ele mudou toda a concepção de Estado, de direito e de poder, gerando a celebre frase: “Liberté, Egualité e Fraternité”. Não é incrível? Novas aventuras nos aguardam.

-Sim! Mas lembre-se de que a família da minha mãe era ligada à nobreza francesa, se não me engano meu bisavô era Barão - o menor dos títulos hierárquicos. Precisamos encontrar meu tataravô, o Barão Lip e ajudá-lo a fugir, pois os nobres serão perseguidos e guilhotinados neste período revolucionário.

Os dois caminham com a multidão que grita a plenos pulmões: “Pain, pain”( pão, pão), pois na França o povo está morrendo de fome por extrema escassez de alimentos.

A aristocracia vivia faustosamente em Versalhes, distante vinte quilômetros de Paris, na corte do rei Luís XVI e Maria Antonieta, sem se preocupar com a situação de pobreza e fome da população. O Estado estava quebrado e a inflação era estratosférica – um pão custava a metade de um ganho mensal da maioria da polpulação. Era o estopim para desencadear a revolução que se avizinhava.

-Cons., conheço um pouco da história do que aconteceu aqui, mas não vamos participar efetivamente da tomada da Bastilha, não é o nosso intuito, certo?

-Eu sei, mas temos que seguir a sua história, pois foi o seu pensamento no samovar que o trouxe até aqui e agora não há como mudar. Vamos em frente! – responde com sua voz fina e estridente.

A tensão enchia pesadamente o ar. Os gritos de “morte à rainha e pão para todos e não brioche” ecoavam. Diz a história, mas sem confirmar, que Maria Antonieta ao ser questionada de que o povo não tinha pão, teria dito para comprarem brioche. Era odiada pela população.

Os revoltosos eram em torno de mil e quinhentos, incluindo vários soldados que aderiram ao movimento. Não havia comando da turba raivosa, que seguia por si só com o intuito de tomar a fortaleza e se apoderar das armas e munição que estava estocada. Tinham antes invadido o “Hotel dos Inválidos” e roubado todo o armamento que lá havia.

Chegam à entrada da fortaleza, o responsável os aguarda, quer negociar. Usa roupas finas e “coulottes”.

- Quem é ele? É um nobre, não? – pergunta Godofredo a Cons. .

-É o Marquês de Launay, o Governador da Bastilha.

Godofredo e Cons. encontram-se a poucos metros do portal de entrada da fortaleza. Observam os canhões prontos para atirar e os artilheiros empunhando tochas acesas. Os guardas que defendem a fortaleza perfilam-se atrás do marquês, nas amuradas e seteiras das torres. Apontam seus fuzis para a multidão faminta.

O marquês fala:

-Qual é a intenção de tomarem a Bastilha? Vocês já se apoderaram das armas e munições no “Hotel dos Inválidos” e agora querem mais?

-Queremos pão para todos! Para isso precisamos de mais armas! – diz uma mulher forte brandindo um enorme facão, adiantando-se desafiadoramente à frente de todos, que começam a gritar em uníssono:

-Pão, pão, pão!

O marquês estremeceu com o bradar alto e forte dos revoltosos que avançam apontando suas armas, fazendo com que os guardas que protegiam a entrada da fortaleza começassem a disparar desesperadamente.

A mulher à frente dos revolucionários e que enfrentou o nobre, caiu morta com sua camisa toda ensanguentada no peito. Os canhões começaram a “vomitar” suas balas esfacelando muitos dos revoltosos. A turba enfurecida avançou destemida sobre o marquês e sua tropa, dizimando-os. O governador foi morto e decapitado, tendo sua cabeça fincada em uma estaca como mostra do ódio dos revoltosos.

Godofredo e Cons. assistem a tudo escondidos em uma amurada da ponte de acesso à fortaleza, preocupados em ter que participar da matança generalizada. Então, ouvem alguém lhes chamar:

-Ei vocês, venham ajudar a carregar as armas e munições, vamos entrar na Bastilha, venham! – e deu aos dois, para se defenderem, um facão igual ao da heroína morta.

Cons. diz na mente de Godofredo:

-Faça o que este homem está pedindo. Ele será de grande ajuda em seu intuito.

-Sim! – responde Godofredo em “poissard” ao desconhecido.

-Qual o seu nome? – pergunta o revoltoso. Cons. imediatamente fala mentalmente a Godofredo o seu nome em francês: Geoffrey

-Geoffrey ! – responde Godofredo.

-E o seu amigo engraçado, como se chama? – diz olhando e sorrindo para aquele baixinho gordinho, de calças e camisas justas, cara de lua e óculos de aros metálicos redondos. A visão de Cons. era mesmo hilária.

-Esprit! – responde Cons. com sua voz fina e aguda.

-Guilhaume! – fala aos dois antes de perguntarem seu nome.

Então entram na torre da Bastilha junto com a massa revoltosa, passando por cima dos cadáveres dos soldados e dos “sans-cullotes”. A chacina com cheiro de sangue impregnado junto com a pólvora das armas deflagradas, tornava o ar uma atmosfera sombria e de terror. Geoffrey vendo os corpos dos soldados, trucidados ou decapitados, teve vontade de vomitar. Esprit puxa-o para a escada de acesso ao topo da torre. Eles começam a subir sem resistência. A cada patamar em que havia celas de prisioneiros, libertam-os. Mais corpos foram encontrados desfigurados na subida ao alto da torre. A selvageria do ataque foi demoníaca.

Do topo viram a situação em que se encontrava a batalha pela conquista da Bastilha: não havia quase mais nenhuma resistência por parte dos soldados que a protegiam. Estava praticamente tomada.

Guillaume diz aos dois:

-Vamos começar a derrubar as pedras destas torres miseráveis e desta masmorra sanguinária com as próprias mãos, demonstrando nossa força revolucionária! Ajudem-me!

Geoffrey e Esprit, junto com o amigo revoltoso, usando lanças de ferro dos soldados reais começam a alavancar um dos blocos de pedra secular da torre, que começa a se mexer. Mais revolucionários chegam e ajudam a jogá-lo ao chão, o que faz um barulho alto e surdo. A multidão, que embaixo assiste, ovaciona:

-Viva a Revolução!

Depois de mais de quatro horas de batalha, a Bastilha foi tomada, incendiada e derrubada.

Começa assim a Revolução Francesa.

Nota do Autor:

Obra ficcional e qualquer semelhança é mera coincidência.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 16/03/2023
Código do texto: T7741852
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