A Saga de Godofredo Parte II – O Samovar
11.03.23
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Godofredo continuava no leito hospitalar e em coma induzido há mais de três dias, com seguidas instabilidades em seu quadro clínico, como o ocorrido no dia anterior, o maior de todos os eventos. A sua esposa Janice ficou preocupada e ansiosa com essa situação, pois poderia não acordar mais e ficar vegetando.
Uma junta médica foi constituída para avaliar o raro caso, pois os médicos, até então, não tinham vivenciado situação semelhante. As condições vitais eram estáveis e não apresentava qualquer problema que pudesse complicar a recuperação, a menos dos espasmos que estavam ocorrendo inexplicavelmente. Era um mistério para a medicina.
Cons., a consciência de Godofredo, observando-o acordar do trauma da cauterização a fogo da ferida que lhe causara Schain, no duelo que tiveram na epopeia da origem da família paterna, perguntou-lhe mentalmente:
- Está melhor Godofredo?
-Sim! Voltei ao meu estado inicial?
-Voltou, por que o choque da aplicação do ferro em brasa na ferida lhe trouxe ao presente. Continua, no hospital, em coma induzido há três dias com sua esposa sempre ao seu lado.
-Que saudades que tenho dela e dos meninos! Gostaria muito de vê-los. É possível Cons.?
-Sim, poderá vê-la telepaticamente, mas sem ouvir ou manter qualquer contato. Pense nela que aparecerá.
Godofredo ansioso visualizou a esposa em seu cérebro. Ela olhava-o carinhosamente, acariciava sua face e falava algo que não podia ouvir. Sentiu-se reconfortado, feliz e com vontade de voltar o quanto antes para ela e para os filhos.
Então, os meninos entraram no quarto junto com a avó - sua mãe - correndo em direção ao leito, dando-lhe um beijo no rosto. Sua mãe aproximou-se com lágrimas nos olhos e passou a mão em sua face inerte. Ele nada sentiu e ficou incomodado.
-Saudades, muitas saudades tenho deles! O que faço para voltar, diga-me Cons.? O que faço?
-Nada pode fazer, pois depende da evolução do seu quadro clínico e das ações que os médicos estão tomando para que melhore. Tem que ter paciência e aguardar o seu corpo responder.
-Fiquei emocionado ao ver a minha mãe.
- Já que tem tempo, por que não resgatar as origens de sua mãe, pois a busca das de seu pai foi extremamente emocionante, não é mesmo?
-Pois é, mas tenho que me lembrar de alguma coisa que vincule aos antepassados dela para que isso aconteça, não?
-Sim. Algum fato, objeto, etc.
-Ah, lembrei! Tem um samovar russo em latão que permanece há cinco gerações na família dela e hoje está na casa da minha irmã.
-Ok, perfeito!
Godofredo então visualizou mentalmente o samovar e imediatamente foi transportado para um local desconhecido. Usava roupas maltrapilhas e estava no meio de uma multidão enfurecida que gritava palavras em uma língua parecida com o francês e empunhava ancinhos, pás e porretes de madeira. Cons., ao seu lado, também era um indigente.
-Onde estamos? O que é tudo isso? O que está acontecendo? – perguntou Godofredo a Cons.?
-É a Revolução Francesa! Teremos muitas aventuras, hein, meu caro? – respondeu ele com sua voz fina de taquara rachada e silhueta rotunda, mais parecendo um barril.
-Não acredito!
Nota do Autor:
Obra ficcional e qualquer semelhança é mera coincidência.