NOAH-15 – Capítulo 2 – Sistema Solar
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Leia antes:
Prólogo
https://www.recantodasletras.com.br/contosdeficcaocientifica/7704577
Capítulo 1
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E a cada sete minutos, dois dos quatro motores atômicos geravam mais e mais impulso em NOAH-15. À medida que a velocidade aumentava, o tempo entre as explosões aumentava também e, durante um ano ocorrerão com certa constância, até que NOAH-15 esteja a 20% da velocidade da luz, cerca de sessenta mil quilômetros por segundo, a sua velocidade relativa máxima. Após esse prazo, já no espaço interestelar, fora da gravidade do Sistema Solar, essas explosões ocorrerão somente quando a velocidade reduzir para 19,8% da velocidade da luz que, calcula-se, seja uma a cada 1 ano e 2 meses.
Durante o primeiro dia essas explosões foram realmente desagradáveis, mas como estávamos aumentando a velocidade, o deslocamento inercial dentro da astronave era cada vez menos perceptível. Ao fim de uma semana, a única lembrança que tínhamos de que ainda estávamos acelerando era o estrondo da potência do motor cuspindo o seu combustível tórrido para o espaço gélido, tal qual um dragão mitológico. Mas a essa altura não mais sentíamos o deslocamento decorrente dessa operação.
Todas as astronaves NOAH levaram sistemas de comunicação baseados em Entrelaçamento Quântico. Cada uma delas levou dez módulos e NOAH-15 leva mil módulos. Esses módulos de comunicação permitem uma comunicação instantânea entre todas as astronaves com a Terra, e quando chegarmos em Proxima b, da colonia com a Terra. Isso será de extrema importância para que os humanos, estejam onde estiverem no Universo, possam compartilhar instantaneamente informações, cultura, tecnologia, noticias e tudo mais que for necessário.
Quando estávamos passando por Marte, em três semanas, ainda tivemos tempo de pensar nessa colonia que, após a Lua, foi o segundo lugar onde os humanos se estabeleceram. Entretanto, tivemos que ser rápidos sob pena de nossos pensamentos e desejos já não serem aplicáveis à região pois os motores ainda explodiam com violentos estrondos e força, nos empurrando cada vez mais rapidamente para o nosso destino.
Passando por Júpiter, o rei dos deuses, na mitologia romana, tivemos menos tempo ainda e já nos debruçávamos sobre as lendas de Saturno, pai de Júpiter, Plutão e Netuno, o rei dos mares e águas e, sem percebermos, e nem tivemos tempo de falar sobre Urano, um dos planetas mais ignorado do nosso Sistema Solar.
Meses se passaram até que, como uma flecha a toda a velocidade, passamos pelo irmão de Júpiter e Netuno, o planeta Plutão. Os entretenimentos com a mitologia grega nos dava calma nos momentos em que não estávamos trabalhando mas Plutão acaba de ser deixado para trás e uma sensação de vazio e medo tomou conta desta improvável população.
Pelos nossos monitores, quase um ano após a nossa partida, demos Adeus a Júpiter e suas luas, a Saturno e seus lindos anéis de gelo, a Urano, o deus mitológico grego, marido de Gaia, a deusa da Terra; e a Netuno, o eterno rei dos mares; e, por fim, a Plutão, por seu pequeno tamanho, muitas vezes deixou de ser tratado por planeta mas, de alguma forma, é a porta de saída do nosso materno Sistema Solar, e todos nós, dentro de nosso leito de morte, contemplamos pela última vez a vida que jamais voltaríamos a ter, ou ver, ou sentir.
Este último ano passamos fazendo ligações profundas a NOAH-15, desvendando cada segredo possível, nos ajustando ao nosso novo mundo, e reforçamos a nossa amizade nesta sociedade quase impossível. Lemos, vimos e revemos todos os protocolos que nos foram passados, cuidamos dos animais e dos vegetais, enfim, centenas de milhares de ações necessárias para a prosperidade desta sociedade. E conversamos, e nos divertimos, assistimos todos os filmes, em tempo real, que eram lançados na terra, vivianos mais das notícias da Terra do que das nossas, que aliás, não existiam sequer. E discutimos, divergimos e concordamos. Eramos uma sociedade perto da perfeição
E, quando cruzamos, à incrível velocidade de 15% da velocidade da luz, a Nuvem de Oort, a última fronteira do Sistema Solar, repleta de pequenos pedaços de gelo, amônia e metano, o fim da interferência da gravidade do Sol, disposta a praticamente um ano luz deste, deixando-a para trás em poucos minutos e o espaço interestelar nos abraçou, nos recebeu sem nem sequer se manifestar, silenciosamente não fosse os motores de NOAH-15 ainda cuspirem o hidrogênio flamejante que nos concebia a incrível velocidade.
De alguma forma, meu coração bateu mais rápido, ondas de emoções desconhecidas me fizeram tremer insanamente em meu posto de comando e, para nunca mais repetir, encerrei o meu diário de bordo com a última mensagens que consegui gravar, com uma voz quase trêmula:
Adeus meu mundo!