MINICONTO - O ASTRONAUTA MORTO
O Planeta Kristalli era completamente desconhecido. Nenhum humano vivo sequer sabia da sua existência. Os cristais que cobriam setenta por cento da superfície do planeta vibravam numa frequência capaz de desviar qualquer outro feixe de raios ou ondas tornando-o completamente invisível aos telescópios, radares, sonares ou demais invenções humanas de detecção.
Foi por este motivo que a NA-783, nave individual de reconhecimento, pilotada pelo astronauta e capitão Johan, acabou tornando-se destroços na superfície do Kristalli.
Para Johan a experiencia tinha sido muito estranha. Primeiro só havia o espaço aberto a sua frente, segundos depois estava caindo num planeta desconhecido. O desastre tinha acontecido há oitenta anos terrestres.
No meio dos restos de metais retorcidos e levemente cobertos por uma fina camada de poeira, o esqueleto do astronauta jazia inerte desde o dia do acidente, mas não seria assim para sempre: longe da percepção de qualquer ser inteligente, a vibração dos cristais começou a mudar e o esqueleto de Johan movimentou-se. O astronauta apoiou-se sobre os braços e se pôs de pé.
“Como é possível?” - pensou ele olhando o que sobrara da nave. – “Estou vivo?” – Olhou para as suas mãos e contemplou apenas os ossos. Assustou-se. Levou imediatamente as mãos ao rosto. A viseira estava quebrada e pôde sentir as cavidades, em seu crânio, onde outrora estiveram seus olhos.
Ficou confuso, mas ainda se lembrava de seu treinamento para situações de extrema confusão. Manteve a calma. “Estou vivo,” – pensou – “isto é um fato. Não tenho olhos, mas enxergo. Sinto cheiro, mas não tenho nariz. Ouço o reverberar de sons, mas nem orelhas tenho. Até o gosto de ferrugem sinto, mas sem língua. Estou pensando, no entanto consciente de que não há órgãos em meu interior. De alguma forma voltei à vida, entretanto a vida parece trabalhar de modo diferente neste planeta.”
Por alguma razão desconhecida, Johan sabia que precisava caminhar e estranhamente sabia para qual direção deveria ir. Andou por um longo tempo sem se cansar, por uma paisagem exuberante e inóspita, até que chegasse diante de uma parede de cristais.
Contemplou aqueles cristais. Sentiu a vibração invisível que o mantinha de pé e soube, imediatamente, que estava diante do mais incomum, porém o mais extraordinário fenômeno do Cosmos: cristais que podiam emitir a frequência da ressurreição.