Homem - Cobra (Parte 3)
Ele então se embrenhou no mato, sentindo o cheiro de porcos e galinhas que estavam há alguns quilômetros dali. A distância era longa, mas ele já conseguia sentir aquele cheiro, já conseguia farejar aquilo. E por mais que o cheiro que sentia era dos animais vivos, sentia o apetite abrir, sem precisar que os animais passassem por um processo de preparo e cozimento numa cozinha.
Levou a mão ao cabelo, e ao puxar uma mecha, notou que ela saiu da cabeça com muita facilidade, então Roger certificou que ficar careca também era um sintoma daquela maldita transição.
Passou bem próximo de uma cobra cascavel que estava enrolada no chão, talvez esperando para dar um bote em uma vítima, mas dessa vez não sentiu medo, sentiu foi uma grande empatia pela cobra, e viu que o animal rastejante também sentiu aquilo por ele, já que ela não demonstrou nenhum interesse em atacá-lo. Aquilo era uma demonstração de que agora ele e as cobras se sentiam como animais da mesma raça. Talvez a partir dali sentisse aquilo mais pelas cobras do que pelos próprios seres humanos.
Roger andava ligeiro pela mata, como se conhecesse bem aquele ambiente, como se aquele fosse seu verdadeiro habitat natural.
Andou, andou, andou até que chegou a uma cerca de arame que era da fazenda. Espremeu-se todo para passar pela cerca, notando que agora conseguia contorcer melhor o corpo.
Uma vez dentro da propriedade, viu animais que podiam matar sua fome, galinhas, coelhos ou filhotes de porco. Achou melhor pegar uma galinha que ciscava ali por perto.
Olhou bem para ela e pulou avançando-a, como uma cobra dando um bote na presa. Agarrou o pescoço do animal e apertou com força para que ele não gritasse enquanto perdia a vida. A galinha se debateu nas mãos de Roger, mas logo foi se enfraquecendo até que ficou inanimada.
O homem com aparência de réptil levou a galinha para trás de um muro, onde não poderia ser visto por ninguém enquanto se alimentava.
Em vez de morder o animal e arrancar pedaços pequenos enquanto se alimentava, ele foi enfiando a galinha inteira na boca, e engolindo-a lentamente, como uma cobra faz com os animais que abate.
Após fazer a alimentação, Roger sentiu a necessidade de ficar ali sentado por um tempo, como que dando tempo para que seu organismo tivesse tempo para digerir a presa ao seu novo estilo de se alimentar. Sentiu que por dentro de seu corpo, a galinha ia tendo os frágeis ossos triturados. Mesmo tendo ingerido o animal cru e com penas, ele achou a refeição muito apetitosa.
Era muito notável para ele que seu corpo tinha mudado muito. O doutor Geraldo Ambrósio claramente tinha obtido sucesso em seu trabalho, mas, mesmo com todas as coisas sobre-humanas que aquilo tinha trago, como faro, agilidade, grande força e outras coisas semelhantes a um animal poderoso, Roger estava odiando tudo aquilo.
Após ficar algum tempo ali fazendo digestão da alimentação, Roger sentiu que era hora de ir embora. Levantou-se, passou pela cerca de arame se contorcendo e se embrenhou na mata novamente, agora em sentido à pequena casa onde estava o corpo de Geraldo.
Andando no meio das árvores, notou que o dia agora ia indo embora, dando lugar para a noite. Alguns pássaros cantavam, voando sobre ele. Por mais que coisas ruins tivessem acontecido a ele, Roger sentiu um pequeno sentimento bom invadir se corpo, ao apreciar que o crepúsculo se aproximava.
Ao chegar naquela casinha onde fora prisioneiro de Geraldo Ambrósio, já era noite. Decidiu entrar no cômodo, mas ao entrar, se surpreendeu ao notar que o corpo do doutor já não estava mais estendido no chão, onde o deixara antes de sair.
Roger achou aquilo tudo muito estranho. Até onde sabia, o doutor Geraldo fora deixado sem vida estirado ao chão, dentro daquela pequena casinha de dois cômodos. Das duas uma, ou Geraldo não morrera e tinha levantado e fugido ou alguém fora até ali e pego o corpo do doutor. Ele apostou na segunda, porque o carro do doutor ainda estava no local, do lado de fora.
Roger viu então que estava fazendo hora extra no local e decidiu sair logo dali. Correu para fora com pressa, entrou no carro de Geraldo, ligou-o e deu partida seguindo pela estradinha de terra que tinha por ali, indo rumo à cidade.
CONTINUA...