A infância
Hoje, ao acordar e comprar ovos para o almoço, vi algumas crianças brincando no parquinho, e comecei a me lembrar de quando também era criança. Naquele tempo, meus pais não tinham muita condição financeira, mas não faltava quase nada, era um menino feliz. Na escola, me juntava com os colegas da sala para jogar futebol, sempre era o último a ser escolhido, tinha um motivo para isso, não sabia jogar, acabava atrapalhando o próprio time com passes errados.
Depois que eu chegava da escola, mal almoçava e já ia correndo para o bosque da floresta brincar com meus amigos, o chefe que comandava tudo era um amigo de nome Lucas, ele que inventava as brincadeiras e às vezes acabava voltando no final da tarde para ajudar o pai que ia buscar verduras na roça, não porque precisamos, mas porque era divertido fazer parte de mais uma aventura com meu herói.
Era uma infância ótima e as brincadeiras não faltaram, mesmo assim, os amigos que fiz na escola seguiram rumos diferentes, o Lucas fez faculdade de Letras na cidade de Belo Horizonte e atualmente trabalha como professor da educação básica, como se fosse previsto que ele escolhesse essa profissão para o futuro. A maioria das meninas formou família e vivem em cidades diferentes, perdemos contatos depois...
Às vezes paro para pensar, e se eu pudesse voltar no tempo e reviver alguns dos momentos por um instante, como naquele dia 12 de outubro, em que juntamos uma turma e combinamos de irmos para a igreja longe da cidade, nesse dia mal dormi de ansiedade.
Blem, blem! Blim, blem! Bléimmmm! Blom, blom!
— Quê? Por que estão tocando os sinos tão cedo? Era para avisar quando... Já entendi...
Agradeço por ter a oportunidade de uma infância que poucos saberão, dava tudo para que os tempos permanecessem assim, sem que crianças pudessem ficar preocupadas com nada e sem hora para voltar para casa. Mesmo assim, essa maldita ave voltou cavalgando nas correntes de ar invisíveis berrando como se estivesse anunciando o prelúdio de uma nova guerra entre humanos contra criaturas.