Homem - Cobra ( Origem )
Era um dia bem quente de verão, mas naquele meio de mato Roger Nascimento contava com as sombras das árvores pra se esconder do sol. Contava quarenta anos de idade e carregava nas mãos uma arma de caça. Estava a procura de uma onça pintada. Sabia que é proibido caçar mas não se importava mais, desde que se separara da esposa vinha se dedicando a pratica de caçar, pois aquele era seu único meio de extravasar sua raiva. Depois de dez anos de matrimonio, seu casamento não vinha muito bem e então não foi muita surpresa quando sua esposa lhe pediu o divórcio. Mesmo não querendo se separou e agora se encontrava ali naquela mata dedicando-se a caça.
Comprou a arma de um conhecido, uma compra meio clandestina, custou caro, mas tinha um dinheiro guardado e resolveu investir nessa pratica proibida de entrar na mata a procura de onça pintada, ou algum outro animal que lhe desse prazer em abater. Até o momento não conseguira nada, mas caminhava olhando de um lado para o outro a procura de algo. Vez ou outra molhava a garganta com água. O suor escorria-lhe pela testa e molhava sua roupa fazendo-a colar em seu corpo.
Escutava o canto dos pássaros, a única sinfonia ali presente. Não tinha medo de nada, o fim do casamento lhe causara uma coragem de enfrentar qualquer coisa, sem medo de morrer. Já não se importava mais, a vida não tinha sentido, ocupava-se então em entrar na mata, corajoso, em busca de aventura. Como ganhava a vida? Dirigia um táxi na cidade de Belo Horizonte, cruzando as ruas conversando com seus passageiros. Sempre fora atencioso com os clientes, falava de todos os assuntos, não via aquele oficio como um fardo pesado, até a esposa pedir o divórcio. Foi aí que tudo desandou e ele foi perdendo pouco a pouco o prazer de ouvir seus clientes. Fingia que ouvia, forçava o sorriso, mas a mente em outro lugar, lá na esposa que o largara, pelo menos não tinha filhos, seria mais difícil se os tivesse, a dor seria maior.
Mas agora não pensava nisso, andar na mata limpava sua mente, ouviu o canto de um bem-te-vi e também um bico de um pica-pau batendo em um galho. Viu um mico subindo uma árvore, aquele era seu retiro. Observava todas aquelas maravilhas quando sentiu algo pontiagudo fincando em sua perna, sentiu uma dor e olhou para o chão, uma cobra cascavel havia lhe dado um bote. Usava um calçado e uma calça, mas as presas da cobra atravessaram a calça e adentraram forte em sua perna. Deu um grito de dor e com a arma atirou na cobra uma, duas, três vezes fazendo-a soltar e cair sacudindo de um lado para o outro, mas já perdendo a vida.
A cobra havia lhe soltado, mas o veneno já corria pelo corpo. Roger sabia o risco que corria, logo o veneno faria efeito, e ele estava ali distante de tudo, longe de um hospital, longe de alguém que pudesse ajudá-lo. Foi caminhando rumo o local onde deixara seu carro, mas estava longe do automóvel, sabia que precisava contar com a sorte para sair da mata e conseguir dirigir até a cidade onde encontraria ajuda.
Começou a suar frio e a sentir uma tontura, seu corpo foi ficando mais pesado, ouviu um grito gutural, olhou para o alto e viu uma serpente gigante cruzando o céu, já estava delirando por causa do veneno.
Acordou num quarto escuro, amarrado a uma cama. Tinha tubos ligados em seu pulso direito, que pareciam injetar em sua veia alguma espécie de soro, mas pela escuridão do cômodo que não tinha janelas, sabia que não estava em um hospital. Tentou se mexer, se levantar, mas aquelas amarras de couro o prendiam forte na cama.
Não sabe quanto tempo ficou ali naquele ambiente silencioso, mas eis que um homem que aparentava ter uns setenta anos, com um jaleco branco, entrou no quarto.
— Quem é você?! — gritou Roger. — O que está fazendo comigo?
O homem nada disse. Pegou uma seringa numa mesinha ao lado de Roger, tirou com ela um líquido verde de um frasco, e aplicou no braço esquerdo de Roger.
— Você não vai dizer nada?! — perguntou Roger.
— Deixe-me te explicar. — começou o velho. — Você está aí deitado há vinte e quatro horas. Encontrei você caído próximo daqui, o trouxe para cá e fiz alguns exames. Constatei que você tinha sido picado por uma cobra cascavel. Esta área tem muitas cobras, e muitos caçadores que vem para cá acabam sendo picados por elas. Esses caçadores acabam sendo trazidos para cá, onde faço meus testes. Venho experimentando o soro que estou criando nesses homens. O soro consiste em juntar o DNA de um homem que foi exposto ao DNA de uma cobra. Até hoje, nenhum homem sobreviveu ao meu soro, então a cada teste venho aprimorando meu experimento. Tenho o orgulho de lhe dizer que você foi o primeiro que não morreu ao entrar em contato com meu soro, o que mostra que eu obtive sucesso. Logo logo, creio que mudanças vão ocorrer no seu corpo. Escamas vão revestir sua pele, seus olhos irão ficar no formato de fenda e seus dentes caninos viraram presas e poderão liberar veneno. Você se tornará o primeiro homem peçonhento da história. Quando eu tiver certeza de que tudo deu certo com você, vou aplicar esse soro em mim também. Nós vamos entrar para a história, meu caro, vamos fazer parte da nova evolução da raça humana. Vamos ser estudados por cientistas e antropólogos, e com nossa força e nossos poderes sobre-humanos, poderemos conquistar o que quisermos neste mundo.
— Você é maluco! — gritou Roger. — Eu não queria participar de seus testes.
— Eu salvei a sua vida. Se não fosse meu soro, você estaria morto.
— Se eu conseguir sair daqui eu vou te matar.
— Você só sairá daqui se aceitar me ajudar em meus planos, porque quando eu aplicar o soro em mim, serei tão forte quanto você, e então poderei tirar sua vida.
— Quem é você? Você saiu de um hospício?
— Meu nome é Geraldo Ambrósio, e leciono ciências há quarenta anos em uma universidade. Seja grato a mim, pois além de salvar sua vida, o tornei o milagre da raça humana.
Roger estava confuso. Seria verdade o que aquele homem dizia? Pelo menos ele estava vivo. Agora só cabia a ele esperar, esperar para ver o que iria acontecer.
CONTINUA...