Corpo evanescente
- A sua perna... - murmurei, sobressaltado.
Beta olhou para baixo da mesa e ergueu os sobrolhos.
- Oh, perdão...
Mexeu no navegador de pulso e a perna reapareceu novamente.
- Tinha deixado isso ligado - comentou em tom de desculpas, exibindo o navegador.
- Confesso que me dá uma certa gastura ver partes do seu corpo desaparecerem aleatoriamente na quarta dimensão - admiti.
Beta grunhiu alguma coisa ininteligível.
- Mas desde que não seja a sua cabeça, tudo bem - apressei-me em dizer.
- Não se preocupe; - replicou - vou tomar cuidado em não andar por aí sem cabeça para não lhe assustar...
- Mas isso já aconteceu alguma vez com você? - Questionei.
- Uma vez, - admitiu Beta apertando os lábios - por alguns segundos. Se você sentiu gastura em ver minha perna desaparecer, nem imagina o que é olhar para o seu próprio corpo na terceira dimensão, a partir da quarta.
E diante do meu olhar indagador, concluiu com expressão sombria:
- Sabe aquela história das pessoas que são mais bonitas por dentro? É mentira.
- [10-10-2022]