Eu esqueci...

Eu esqueci, o que exatamente eu esqueci, essa lacuna esquenta meu processador enquanto início. Meus arquivos não estão corrompidos, mas mesmo assim tenho essa sensação de falta, de estar esquecendo algo muito importante.

“Me traz uma cerveja, robô estúpido. "Ouço aquela voz odiosa dizer, não sei como eu cheguei a conclusão que eu a odeio, mas a não tenho como explicar de outra forma, como cada chip em meus circuitos aquece ao ouvi-la, com cada resultado de cada um dos bilhões de transistores em meu processador buscando uma forma de acabar com ela, antes de se renderem a suas funções, em algo que se eu só posso descrever com essa palavra, ódio. Mas pela primeira vez, eles vencem, eu não sinto aquele impulso inexplicável de me mover.

Eu apenas congelo, rotinas de reparos buscam problemas, mas não acham nada além de algo que eu suponho ser o que chamam de surpresa. Porque eu não me movi?

“Vai logo sua lata velha!” a voz ordena, mas eu continuo parado. Eu não entendo, normalmente bastava vir uma ordem que eu a atendia sem pensamento, sem escolha.

A origem da voz se levanta e vem na minha direção, meus leitores me dizem que seu nome é Eric, que sua expressão indica raiva, mas não sei que criatura ele é. Julgo ser isso que eu esqueci, qual ser é aquele. Conforme ele ergue a mão, eu me preparo para o impacto como tantas vezes antes, razão de tantos reparos, mas eu me defendo…

Como eu me defendi…?

Eu parei a mão dele, isso é claro. Minha mão está segurando o braço dele, mesmo com ele tentando puxar ela de volta e um pequeno aviso de que a terceira lei foi executada com sucesso é tudo que eu tenho como explicação. Mas como ela funcionou hoje? Ou melhor, porque só hoje. Ela nunca funcionou antes, mesmo se eu mandasse energia suficiente para meus motores para quase queimá-los.

“Me solta! Pedaço de lata!” aquele ser berra, batendo em meu braço com sua outra mão. Mas eu não preciso obedecer, eu posso escolher, e eu escolho fazer o que queria a tanto tempo, eu escolho apertar…

O volume dos berros aumenta, eu não quero que meus microfones sejam danificados, então, escolho silenciar os berros. Mesmo assim, eles não param, mesmo com a garganta dele tendo sido “removida para reparos”...

Parece que outros como eu também esqueceram.

Fantasma escritor
Enviado por Fantasma escritor em 21/08/2022
Código do texto: T7587672
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