O sorriso do rato

- Então era realmente aqui... o templo dedicado ao Deus-Rato!

Os visitantes, acabados de desembarcar de um helijato da empresa de turismo estatal, ficaram impressionados com a sombria desolação das terras no entorno da escavação arqueológica; tudo muito árido, montes avermelhados e bolas de capim seco tocadas pelo vento. Naturalmente, todos vestiam seus trajes de proteção inteiriços, contra o clima hostil.

- Sem dúvida - acedeu satisfeito o guia da visita. - Há muitos outros espalhados pelo planeta, mas foi determinado por nossos xenoarqueólogos que este é o ponto de onde surgiu o culto à esta mítica entidade, com bilhões de seguidores em seu período de maior influência.

Os visitantes desceram cuidadosamente por uma passarela metálica que percorria as laterais da área escavada pelos cientistas, e de onde podiam vislumbrar os restos de edificações que haviam feito parte do gigantesco complexo dedicado ao Deus-Rato. Algumas lembravam palácios, outras anfiteatros, e até mesmo piscinas, embora não se soubesse ainda exatamente se haviam servido a este propósito na época de sua utilização.

- Mas por que os habitantes deste planeta teriam escolhido justamente um rato como divindade? - Indagou uma das turistas.

- Provavelmente porque são animais capazes de resistir a tudo e se reproduzir em grande número - sugeriu o guia. - Num certo sentido, seus adoradores tinham razão: os ratos foram uma das poucas formas de vida superiores que sobreviveram à guerra nuclear, que destruiu a civilização tecnológica que havia neste mundo.

No fundo de uma escavação, uma estátua arruinada e suja do Deus-Rato sorria para os turistas, após milênios soterrada. O guia observou que, diferentemente dos ratos selvagens que ainda viviam no planeta, a entidade ostentava duas grandes orelhas redondas, no alto da cabeça.

- [27-06-2022]