A Saga de Godofredo XXVII – O Herdeiro - Final
16.06.22
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Godofredo estava deitado em seu aposento no castelo maltes enquanto os médicos o preparavam para cauterizar o profundo corte em seu ombro direito que Schain lhe causara no duelo. Seria uma dor lancinante e bebia vinho para ficar amortecido ou embebedado, melhor seria para enfrentar a operação.
O rei Ricardo, Janet e Aníbal, seu pai primordial, acompanhavam o processo, como Cons. Um dos médicos trouxe o ferro incandescente. Godofredo foi seguro por guardas para que não se debatesse e lhe colocaram na boca um pedaço de madeira para que mordesse. O médico lhe perguntou:
-Está pronto?
Respondeu que sim acenando a cabeça. O médico aplicou o ferro em brasa sobre o ferimento por alguns segundos gerando uma fumaça branca e cheiro de carne queimada. Godofredo deu um urro altíssimo e desmaiou!
Apitos começaram a disparar nos aparelhos que monitoravam o coma induzido de Godofredo. Era a quarta vez, mas a intensidade foi maior que as anteriores. Janice, sua esposa, cochilava na cadeira ao lado da cama. Acordou com os ruídos e com os médicos e enfermeiros entrando no quarto. Assustada e aflita, pois sabia que diriam que ele estava com sinais de melhora, como das outras vezes, mas pela intensidade e altura dos sons metálicos que inundavam a sala, poderia ser uma situação de piora. Levantou-se preocupada e ficou observando a movimentação dos médicos em volta do seu marido inerte no leito.
Minutos depois os aparelhos se estabilizaram novamente, deixando os médicos sem saber o que acontecia. Naquele dia, antes disparada dos monitores, uma nova tomografia computadorizada foi feita do cérebro mostrando que a situação estava estável, sem alterações ou complicações. Era um mistério o que ocorria com aquele paciente, motivo de se formar uma junta médica para acompanhar e avaliar melhor esse inusitado caso.
-Então doutor, tudo na mesma? – pergunta-lhe Janice desalentada.
-Não sabemos o que causa essas alterações no seu estado emocional, pois está com a sua consciência congelada pelo coma. Discutimos, antes desta manifestação agora, de formarmos uma junta médica para avaliarmos o caso com cuidado. Ele está estável, suas condições físicas preservadas e sem sequelas pelo que avaliamos na nova tomo. Vamos seguir observando. A sua evolução está boa, mas sem prever quando o tiraremos do coma. É ainda muito cedo para qualquer mudança no tratamento que fazemos. Peço que tenha paciência e confiança, ele está em ótimas mãos!
Janice ao lado de Godofredo começou a acariciar o seu rosto e cabelos e olhando-o com candura e carinho beijou-lhe a testa. Disse baixinho junto ao seu rosto:
-Logo você vai se recuperar e vamos estar juntos com nossos filhos, tenho certeza. Eu te amo meu amor querido!
Godofredo acordou do desmaio e viu que o Rei Ricardo estava junto ao seu leito, que ao vê-lo se recobrando, disse :
-Nobre comandante e herói cruzado Godofredo, logo estará recuperado para assumir suas funções de governador do Sul da Itália. Eu zarpo amanhã com nossa frota para a Terra Santa com Saladino para que libere Jerusalém para nós. Schain e Mira já foram deportados para a ilha de Linosa. Abbdul está a caminho de Lampedusa. Os demais comandantes sobreviventes estão sendo distribuídos separadamente em vários locais da costa italiana. Tudo correndo conforme planejado com a sua argucia e inteligência. Agora, descanse e fique apto logo para assumir suas funções. Adeus companheiro!
Godofredo escutou a fala do rei ainda meio zonzo e perguntou:
-Faz muito tempo que estou desacordado?
-Um dia! – respondeu o rei.
-Nossa tanto tempo assim? Acho que meu corpo precisava deste descanso.
-Sim o corpo é sábio – disse-lhe um dos médicos.
-Meu senhor Ricardo Coração de Leão, desejo-lhe sucesso na empreitada que espero seja a que acabe com essa guerra, pois lutei e me empenhei com a minha vida para tanto. Boa sorte! Quanto a assumir minhas funções de governante, sendo liberado pelos médicos, partirei imediatamente.
-Que assim seja! – disse o rei caminhando em direção a saída do quarto de Godofredo.
-Tenho o maior orgulho de você meu filho! Agora então senhor da Sicília e do Sul da Itália é uma honra enorme. Parabéns! – disse-lhe Aníbal com olhos lacrimejantes.
-Sim meu pai querido, uma grande honra e governaremos juntos. Pretendo nomeá-lo governador da Sicília. Eu ficarei no continente, quero me estabelecer e criar uma família.
Cons escutava toda a conversa e disse-lhe em sua mente:
-Sim precisa fechar essa enorme ferida em seu coração, pois demorará a cicatrizar. Mas o que importa é que cumpriu com louvor a missão que lhe foi imposta, melhor até que o esperado, agora colhendo seus frutos, mesmo que alguns amarguíssimos. A vida segue!
Godofredo logo se recuperou e partiu para o sul da península itálica, escolhendo na região de Vibo Valentia a cidade portuária de Pizzo, instalando-se no castelo Murat, uma fortaleza da qual se avista todo o Mediterrâneo.
A terra Santa foi liberada para os cristãos e Saladino voltou para Damasco na Síria. A paz imperava, mesmo que fragilmente, pois os rancores dos dois lados eram em certos casos insuperáveis. Muitas matanças e chacinas forma feitas pelos dois lados.
Schain e Mira degradados na pequena ilha de Linosa conviviam em conflito. Mira estava com seu corpo transformado pela gravidez de um filho de Godofredo, tornando Schain furioso e agressivo com ela. Mira tinha medo que ele a matasse e solicitou uma audiência com Godofredo, que de pronto atendeu.
Fazia mais de seis meses dos fatos ocorridos e Godofredo ainda se ressentia da atitude de Mira e até aceitava, mas seu coração ainda era dela. Teve vários eventos em que conheceu algumas mulheres, interessantes até, mas Mira era insuperável. E teria que revê-la e enfrentá-la novamente.
Chegou o dia da audiência. Godofredo no salão sentado em seu trono de governador viu as portas se abrirem e a deslumbrante visão da sua amada caminhando com seus andar felino em sua direção. Seu coração disparou e sua respiração acelerou. Mas notou a silhueta diferente da sua princesa: estava grávida! Cosn ao seu lado como seu conselheiro, disse-lhe em sua mente:
-Cuidado com ela! Ela é ladina e agora grávida, provavelmente de seu filho, pior! Escute mais.
-Meu filho! Que maravilha, vou ser pai!
Mira chegou ao pé do tablado onde Godofredo sentava e fez a mesura de cumprimento. Estava linda na sua túnica preta com a barriga proeminente sobressaindo do seu corpo moreno. Godofredo a admirava embevecido pela visão do seu amor. Cosn percebendo o estado dele, disse:
-Não se deixe levar pela emoção! Use a razão ainda mais agora! Cuidado!
-Que Alá seja louvado meu senhor governador – cumprimentou-o com sua voz sensual. Godofredo estremeceu, mas com um forte olhar de Cons, se recompôs e falou:
-A que devo essa audiência princesa Mira?
-Como pode ver meu senhor, estou grávida de um filho seu! Schain não aceita essa situação, estando eu correndo risco de vida. Sabe vossa excelência da impetuosidade dele e peço que me transfira para outro local que não seja Linosa. Soube que meu pai está em Damasco e gostaria de me juntar a ele, nobre governador.
Godofredo a olhava com amor e carinho, querendo beijá-la e abraçá-la, mas segurou o seu ímpeto. O silêncio imperou por algum tempo, deixando Godofredo pensar no que proporia. Cosn o encarava com ansiedade.
Então, disse de forma cândida:
-Minha caríssima princesa, não sabe da minha felicidade em saber que está gerando um filho meu! E claro que a protegerei. Pergunto-lhe se quererá ficar com meu filho, já que a sua raiva em me renegar por ter lhe traído a confiança, não porá em risco essa nova vida que chega? Sabe do meu amor por você, e ainda a amo, apesar de tudo o que nos aconteceu. Não lhe tiro a razão. Responda-me.
-Meu caro senhor, ele será renegado por meu pai e talvez o mate. Eu não posso levá-lo comigo. Acho que ele ficará melhor com vossa excelência, mesmo cortando o meu coração em deixá-lo.
-Então princesa Mira ficará aqui sob os nossos cuidados até o parto e depois irá para junto de seu pai. Que assim seja feito! – terminando a audiência olhando-a com olhos lacrimejantes de felicidade, pois seu herdeiro estava a caminho.
E assim foi feito. Mira deu a luz a um menino de pele morena, cabelos negros e olhos azuis, que ficou com seu pai na Itália. Godofredo o batizou de Domenico. Mira se juntou a seu pai em Damasco e nunca mais viu seu filho e Godofredo. Schain morreu louco anos depois em Linosa.
Godofredo continuava em coma induzido no hospital, com sua mulher aguardando o seu retorno.
Nota do Autor:
O fato real é que a origem da família Ceravolo é a ilha de Malta.
É obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência.