O Novo Mundo
O ser humano em toda a sua complexidade existencial foi reduzido a números. Na atual ordem dominante, duas elegidas grandezas devem trabalhar, incessantemente, em sentindo inverso. E são elas: os Números e o Tempo. Quanto maior os Números, menor deve ser o Tempo necessário para obtê-los. Afinal, o tempo, conforme as palavras do segundo presidente eleito, "é a joia mais preciosa".
A solidariedade, a felicidade, a satisfação e o amor, em suas formas variadas, só são tolerados, se e somente se, não interferirem na fórmula mestra (Números / Tempo) que rege esta ordem próspera. No entanto, os sentimentos, como já foi comprovado através de estudos sólidos, são por natureza anti prósperos, e uma vez que atrasam o progresso, devem ser desestimulados, minados por completo.
Há disponível no mercado fórmulas variadas, que se utilizam de algoritmos sensíveis, que podem filtrar e encontrar para você indivíduos com a mesma visão de crescimento e ascensão que a sua.
Porém, como se espera, toda grande civilização tem sua parcela inadequada, em todos os sentidos, e no Novo Mundo não seria diferente. Aqueles que não se subordinam à formula mestra e as fórmulas menores são relegados a espaços geográficos periféricos. Esses indivíduos estão por conta própria, em todos os aspectos assistenciais, pois escolheram não integrar as fórmulas e para que não puxem este mundo rico para baixo é necessário que o empurremos para as extremidades com força e rigor.
A comissão do progresso rumo as estrelas debate com frequência em suas sessões semanais o possível extermínio dos indivíduos que ocupam essas regiões pois eles não alimentam o sistema e sim, quando possível, o parasitam. Como não aderiram as fórmulas, se fazem símbolo máximo de tudo que representa o passado, o subdesenvolvimento, o sentimentalismo exacerbado, a insubordinação e o atraso, em todos os seus mais profundos aspectos.
Esse mundo próspero possui vários lemas emblemáticos, citando apenas um deles: "A satisfação sem natureza econômica não poderá, jamais, sobrepujar o avanço da civilização". A frase é creditada ao primeiro presidente do Novo Mundo, mas há controvérsias entre os mestres acadêmicos a este respeito.