A Saga de Godofredo XXI - Prisioneiros

30.04.22

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Comandante Janet recebeu a mensagem de Godofredo naquela manhã em La Valeta, e ao lê-la, não acreditou. Chamou Aníbal, o pai primordial de Godofredo para comunicar a auspiciosa novidade.

Aníbal, ao entrar na sala do castelo, viu Janet com um enorme sorriso de felicidade nos lábios. Perguntou ao comandante:

-O que aconteceu? Por que está assim tão feliz?

-Seu filho fez uma proeza inimaginável. Está com todo o estado maior de Saladino, inclusive ele, reféns em seu barco rumando para cá. Ele fugiu sozinho, deixando toda a frota moura em Lampedusa! Inacreditável!

-Verdade? Como? – respondeu Aníbal.

-Não sei como fez, mas a mensagem que recebi hoje cedo diz isso. E para não o atacarmos. Não sei o que planeja. Vamos aguardar. Ordenei ao almirante Ruan que bloqueie as entradas dos nossos principais portos com a metade da nossa frota, aguardando a chegada de Godofredo. A outra metade ancorará ao largo, distantes três milhas náuticas, por precaução, caso os sarracenos venham a nos atacar – completou Janet.

Aníbal também sentiu orgulho do filho e disse à Janet:

-Eu sabia que ele conseguiria!

A nau de Godofredo seguia em direção a Malta sob um lindo dia de sol e brisa forte enrizando suas velas, resultando em ótima velocidade de cruzeiro à embarcação. Logo chegariam à ilha, pois já se avistava a silhueta no horizonte.

Godofredo no convés junto a Nabi, Halim e Abbud, começou a falar no plano que tinha em mente:

-Bem, agora que temos este enorme trunfo nas mãos, chegando a Malta desembarcarei eu, Saladino e Abbdul. Vocês seguirão para a Sicília com os prisioneiros e Mira. Minha ideia é propor um acordo entre Janet e Saladino, transformando Malta em área neutra sob a minha governança, casado com Mira. Assim, Saladino não poderá por em risco sua filha e seus netos. As rotas comerciais serão respeitadas pelos dois lados, sem mais ataques aos navios de cada lado. Malta servirá como um entreposto comercial entre sarracenos e europeus, intensificando assim as duas culturas. Qual a sua opinião? – perguntando aos companheiros.

Ficaram pensativos deixando Godofredo ansioso. Halim então falou:

-Acho a proposta inteligente e astuta, mas tenho restrições quanto ao cumprimento da parte de Saladino e seus seguidores, principalmente de Abbdul e Schain, por tudo o que aconteceu. E quanto à segurança da ilha, com quais tropas pensa defendê-la? Acho ser esse o maior problema, pois tanto nós cruzados, quanto eles sarracenos não aceitarão ser comandados por quem não seja da sua crença e raça.

Nabi falou em seguida:

-E quanto a Mira, aceitará viver em solo cristão?

Godofredo seguia pensativo escutando as observações. Eram pertinentes e tinham que ser bem avaliadas, pois seria inquerido por Janet e ter respostas a elas. Disse, seguindo seu raciocínio:

-Falarei com Mira após a efetivação do acordo que estou propondo e acho que aceitará, pois ficaremos juntos e assim não haverá guerra. Quanto à guarda da ilha, penso em mantermos o nosso exército como garantia de que Saladino não nos atacará, pois com Mira e seus netos comigo na ilha, não fará nada que os coloque em risco. Será o nosso seguro! Vamos ver se Janet aceitará a proposta. Saladino não terá o que pleitear, é nosso prisioneiro!

O navio se aproximava com certa velocidade da ilha, sendo bem visível no horizonte seus contrafortes de pedra calcária, típicos do seu lado oeste. Contorná-la-iam pelo extremo sul. Godofredo então tomou uma decisão e comunicou aos companheiros:

-Vamos aportar ao largo da entrada de Marsaxlokk. Vou desembarcar junto com Saladino e Abbdul em um escaler até o forte Delimara, e lá os deixarei presos provisoriamente. Seguirei depois para La Valeta ao encontro de Janet. O navio rumará para Siracusa na Sicília. Halim mande agora mensagem para Janet sobre essa decisão!

O dia ia alto e Godofredo pediu a Abbud que verificasse como estavam os prisioneiros, se ainda dopados. Se acordando, lhes desse mais uma dose do sonífero para seguir dormindo até a Sicília. O mesmo para Mira.

Godofredo dirigiu-se à cabine de Saladino e Abddul. Entrou encontrando Saladino sentado na cama, sonolento. Seu general ainda dormia a sono solto. Vendo Godofredo em seus aposentos, falou com voz pastosa:

-Que Alá me cure desta bebedeira! Estou totalmente abatido! Meu genro Hassan onde estão minhas armas e túnica? Estou sem elas, o que aconteceu? – completou o sultão.

Godofredo encarou Saladino sério e disse-lhe com voz firme:

-Você e o seu estado maior estão presos em meu navio. Dopei-os, fugimos neste amanhecer e estamos quase em Malta. São nossos reféns! Sua frota está em Lampedusa acéfala, sem comando. Vamos desembarcar aqui em Malta eu, você e Abbdul e ficarão presos na fortaleza de Dalimar. Tenho uma proposta a lhe fazer, mas antes preciso discuti-la com o Comandante Janet. Espero que tanto ele quanto você aceite para que não tenhamos mais guerras entre nós, pois sou agora seu genro, suas filha é minha esposa e serei pai de seus netos!

Saladino ouviu a fala de Godofredo atônito e boquiaberto, demorando a entender o que ocorria. Abbdul acordando, escutou um trecho do discurso.

Godofredo, após sua fala bombástica, saiu da cabine dos chefes árabes. Saladino atordoado pelo o que ouviu, sentou-se desconsolado na cama olhando para o chão fixamente balançando sua cabeça. Abbdul atônito também e sonolento, disse a Saladino:

-Eu sabia que ele era um traidor! Pressenti desde que o conheci! E foi quem atacou os nossos navios e implantou as provas contra o meu filho. Schain é inocente!

-Sim, é um traidor sem dúvida! Mas nos fez reféns sem batalha! Estamos à mercê dos cruzados. Vamos aguardar a proposta. Não temos outra opção!

No início da tarde ancoraram ao largo da entrada da baía da cidade de Marsaxlokk com a fortaleza de Dalimar sobre um enorme costão de arenito. A entrada estava guardada por navios cruzados. Um escaler foi baixado ao mar com os dois reféns, Godofredo e guardas assassin remaram em direção ao forte, observados da ponte por Nabi, Halim e Abbud.

Ao passarem pelas naus cruzadas com Saladino e Abbdul prisioneiros, foi ovacionado pela tripulação urrando alto: viva Godofredo!

Seu navio seguiu para a Sicília com os reféns. Mira dormia e dormiria até desembarcar na cidade siciliana. Nabi ficou encarregado de passar todos os detalhes a ela ao acordar. Tinha receio da sua reação, pela sua impetuosidade.

Nota do Autor:

É obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 30/04/2022
Código do texto: T7506173
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