A Saga de Godofredo XVI - A Partida

03.04.22

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Schain desfalecido pela perda de sangue da mão decepada foi levado por seu pai para ser medicado por Avicena. Hamed foi retirado do salão e seu sangue permaneceu como testemunho do impetuoso ataque de Schain a Hassan. Este continuava amparado por Mira com a cabeça em seu colo. Nabi, Halim e Abbud permaneciam ao lado de Hassan. Após a triste cena Saladino falou:

-Que Alá cuide com misericórdia da alma do nosso querido irmão Hamed! Não continuaremos com a acareação. Schain será tratado e permanecerá no castelo. Não partirá conosco para Malta. Hassan seguirá comigo. Não temos tempo a perder nos enfrentando! Hoje à tarde teremos a reunião do estado maior para concluirmos o nosso plano de batalha. Amanhã partiremos!

-Que Alá nos proteja e que sejamos vitoriosos! – concluiu o grande Sultão saindo do salão junto com os dois conselheiros.

-Que Alá nos proteja e que sejamos vitoriosos! – responderam todos na saída de Saladino.

Mira levantou o rosto de Hassan, olhou-o com carinho e disse chorosa:

-Partirá amanhã meu amor e ficarei sozinha e aflita a sua espera! Tenho medo! Schain poderá fazer algo comigo. Vou pedir ao meu pai que o envie para uma fortaleza longe daqui. Sinto muito por Hamed, covardemente assassinado por ele. Eu sabia que tentaria e tentará novamente te matar. Meu amor, cuide-se na viagem, pois têm muitos soldados que o seguem cegamente!

Hassan retribui-lhe o olhar apaixonado dando um beijo carinhoso em sua boca carnuda, dizendo:

-Fique tranquila, meu amor! Estarei com meus homens de confiança ao meu lado e nada me acontecerá.

Voltaram para os aposentos de Hassan. Mira foi ao pai pedir-lhe a remoção de Schain. Hassan calado, pensava. Nabi, Halim e Abbud o aguardavam. Então falou:

-Agradeço-lhe Abbud de coração a ação de defender-me corajosamente do ataque de Schain como planejado. Muito obrigado meu irmão de sangue! Estou triste pela morte covarde de Hamed, que também salvou a minha vida. Serei-lhes eternamente grato! Nabi, avise Hamud em Tunes da partida amanhã da frota de Saladino para Lampedusa. Entre em contato com Hanu e Habu para conferir os planos reais de batalha, pois acho que Saladino quer nos enganar! Abbud, vamos deixar aqui dois dos nossos melhores assassin protegendo Mira de Schain! Halim, traga a nossa nau e aporte no local em que estava a incendiada de Saladino! Prepare-a para a viagem! Cuide dos pombos-correios que serão agora nossas armas!

Após a fala de Hassan os três companheiros saíram para cumprir suas tarefas. Mira voltou. Estava nervosa. Discutira com seu pai.

-O que houve? – perguntou-lhe Hassan.

-Pedi a ele que enviasse Schain preso para a fortaleza em “Al Qayrawan”, longe de mim. Ele negou-se em atenção ao amigo e irmão general Abbdul. O manterá retido em seus aposentos. Na volta finalizará o julgamento. Ele é inocente quanto aos navios, até que se prove o contrário, mas culpado pela morte de Hamed. Não vou ficar tranquila, pois Schain tem nas hostes do exército muitos soldados fiés que podem facilitar suas ações.

-Querida, vou deixar junto a você dois dos nossos melhores tripulantes, hábeis nas questões de defesa, para lhe proteger – respondeu apaixonado Hassan, abraçando o corpo firme e quente de Mira e beijando longamente sua boca fresca.

Após o almoço, Nabi voltou e encontrou Hassan descansando. Mira não estava. Estranhou. Perguntou a Hassan:

-Onde está a princesa?

-Não sei, saiu daqui depois de almoçarmos e não voltou até agora.

A reunião dos comandantes começou. Saladino, encarando Hassan friamente, repassou em detalhes o mesmo plano do encontro passado. Todos concordaram ao final. Estavam prontos. Partiriam ao alvorecer do dia seguinte.

Hassan voltou ao seu quarto. Mira aguardava-o. Estava nervosa e agitada. Ao vê-lo correu e o abraçou com força. Ficaram assim por um tempo. Os três companheiros estavam também nos aposentos. Hassan voltou-se aos companheiros e perguntou:

-Tudo pronto para a nossa partida amanhã?

-Tudo – respondeu Nabi.

-E os nossos dois tripulantes para a segurança de Mira, quando virão?

-Amanhã logo cedo – respondeu Abbud.

-Perfeito. Vamos dormir esta noite em nosso navio capitânia para podermos zarpar ao raiar do dia de amanhã – disse olhando com carinho e tristeza para Mira que chorando abraçou-o com mais força ainda.

-Minha querida e amada Mira, teremos que nos preparar para a longa viagem e o melhor será estarmos em nosso navio. Meu coração estará sempre aqui com você. Voltarei e nos casaremos! Eu te amo! – disse-lhe Hassan beijando-a longamente, sentindo suas lágrimas escorrendo e molhando o seu rosto. Suspirou de emoção e amor.

Partiram para o navio. Hassan não imaginava como terminaria a jornada que se aproximava. No caminho, perguntou a Nabi se os gêmeos espiões sabiam do real plano de batalha de Saladino. Nabi respondeu que não, somente do repassado na primeira reunião com os comandantes. Hassan cavalgava apreensivo. Sentia que algo não estava certo. Mas teriam ainda tempo e condições de informar Malta corretamente. Lembrou-se do ditado: a paciência é a sabedoria da espera.

A noite seguiu calma. Ao alvorecer, Saladino embarcou no navio com a sua guarda pessoal e seus ajudantes de ordem. Ordenou a partida da frota zarpando à frente. Uma enorme procissão de oitenta navios saía da barra do porto de Sfax sob os urros da população apinhada na amurada de pedra do cais: “Que Alá os proteja e lhes traga a vitória”! O dia amanhecia limpo e quente, lindo para navegar. O azul do céu e do mar se entremeava como uma coisa só. O vento era suficiente para uma jornada tranquila.

Mira não estava em seus aposentos!

Nota do Autor:

É uma obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 03/04/2022
Código do texto: T7487454
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