A Saga de Godofredo XIV - A Prova

22.03.22

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Nabi voltou do acampamento aos aposentos de Hassan, depois de enviar as informações para Hamud em Tunes e para que Halim sumisse com todos os vestígios da tripulação de assassin do navio. Hassan, de olhos fechados como se estivesse dormindo, pensava profundamente. Mira não saía do seu lado. Começaram ele e Nabi a conversar mentalmente:

-Alguma novidade? – perguntou Hassan.

-Habu e Hanu difundiram bastante a versão da incriminação de Schain no incêndio dos navios. Tem alguma ideia de como provaremos que foi Schain? Os espiões de Saladino e Abbdul fervilham pela cidade e arredores.

-O que Halim fez com as roupas deles? Tenho uma ideia e quero discuti-la com você.

-Colocou-as em dois tonéis de água vazios e iria afundá-los hoje à noite bem distante do navio, para que ninguém as encontre.

-Ótimo! Minha ideia é colocarmos essas roupas na cavalariça de Schain. Sei que é uma prova fraca, que vai gerar dúvida entre eles e irritá-lo, mas como é intempestivo, está cego de ciúmes e quer vingança, poderá me atacar novamente ao sermos confrontados. Essa será a nossa estratégia de defesa.

-E como iremos provar que encontramos lá essas roupas? – questionou Nabi.

-Diremos que fizemos as nossas investigações e chamaremos Saladino e Abbdul para confirmarem a nossa prova, mostrando-lhes o local onde estarão.

-Mas podem alegar que plantamos essas provas.

-Sim, mas o importante é gerar a dúvida. E, na acareação, deixar o mais irritado possível Schain para me atacar novamente.

-Está bem. E como pensa em colocar as roupas na baia de Schain? – questionou Nabi.

- É aí que entram Habu e Hanu. Nossa acareação será amanhã, certo? Eles esconderão as roupas sob a palha da cocheira de Schain ao raiar do dia de amanhã. E logo depois, antes da acareação, você informará a Saladino e Abbdul do nosso achado, chamando-os para irem ao local verificar com os seus próprios olhos. Halim e Abbud ficarão lá assegurando que nossas provas estarão intocadas – respondendo Hassan a Nabi.

-Vou então programar essa ação com eles e volto depois.

-Fique mais um pouco aqui com Mira, pois estou dormindo para ela. Pode levantar suspeitas a sua pouca permanência comigo. Sonde ela sobre Schain para ver se descobre algum detalhe importante.

Nabi voltou-se para Mira e disse-lhe:

-Ele continua dormindo, hein? Isso é muito bom para a sua recuperação. E que bom que pode contar com a sua assistência, nobre princesa Mira.

-Sim, ele está se recuperando muito bem. O corte no braço está quase fechado e o da operação sem sinais de inflamação e febre. Vai sair logo e bem dessa situação. É forte também, meu querido Hassan – respondeu-lhe com sua voz amorosa e suave.

-Schain sempre foi assim, intempestivo? –pergunta Nabi à Mira.

-Sempre! É também muito agressivo e violento. Têm muitas histórias de ser ele cruel e vingativo e de se aproveitar da amizade do seu pai com o meu, são como irmãos, para fazer o que bem entende. Eu nunca gostei dele, mas meu pai sempre quis que casássemos para solidificar a irmandade com Abbdul. Mas apareceu o meu amado Hassan e fui salva em todos os sentidos.

-Ele mataria Hassan se tivesse nova oportunidade? - prossegui Nabi.

-Sim! Hassan deve ter muito cuidado com Schain na confrontação de amanhã. Vou pedir para meu pai impedi-lo de entrar com a sua espada e as facas que leva nos braços e pernas, escondidas pela túnica. Ele é traiçoeiro.

-Acho que não deveria fazer esse pedido ao seu pai, nobre princesa. Pode parecer que Hassan a está usando como escudo. Eu , Halim e Abbud o defenderemos, caso ocorra nova tentativa por parte de Schain.

-Sim, tem razão.

Hassan mexeu a sua cabeça e abriu os olhos simulando acordar. Mira lhe deu um sorriso fraterno e com um amoroso beijo na sua boca, disse-lhe:

-Acordou meu querido? Como está se sentindo, melhor não?

-Sim querida, muito melhor a cada dia com você ao meu lado. Só me preocupa a acareação de amanhã. Voltando-se para Nabi, falou:

-Meu querido irmão Nabi, está averiguando se o ataque aos navios foi mesmo obra de Schain como corre os boatos pela cidade? Caso não tenhamos nenhuma prova concreta, será a minha palavra contra a dele.

-Meu querido, se for essa a situação, você será poupado pelo fato de ter me defendido e quase morrido por minha causa pelo ataque covarde de Schain – falou Mira acariciando o rosto de Hassan.

-Mas seu pai desconfia de mim, por isso a acareação de amanhã. Precisamos encontrar alguma evidência ou prova de que foi de fato ele.

-Meu irmão Hassan, irei agora me encontrar com Halim e Abbud para ver como andam as nossas investigações e retorno ao final do dia. Por enquanto descanse. Honrada princesa Mira, cuide para que ele descanse o máximo possível. Vemo-nos mais tarde – diz Nabi saindo do quarto.

Nabi correu para o acampamento entrando rapidamente na tenda, na qual já estavam Halim e Abbud.

-Acabo de conversar com Hassan e me passou o plano para incriminar Schain. As roupas de seis dos assassin da nossa tripulação serão escondidas sob a palha do piso da baia da cavalariça de Schain ao raiar do dia de amanhã. Hanu e Habu farão esse trabalho. Vocês darão apoio a eles para qualquer eventualidade. Depois, ficarão guardando o local enquanto eu irei até Saladino e Abbdul informando-os do achado e levando-os para confirmarem as provas contra Schain – disse-lhes Nabi.

-Perfeito! Habu e Hanu estão chegando ao início da noite e passarei os detalhes para eles – respondeu Halim.

-Vou separar as roupas dos que atacaram os navios, sei quais são por serem meus soldados – falou Abbud.

A noite caiu e os irmãos gêmeos e mudos, mas não surdos - tiveram suas línguas cortadas, entraram furtivamente na tenda. Hanu e Habu ouviram atentamente o plano e sugeriram que cada um vestisse três túnicas para não chamar a atenção e saírem separados do acampamento. Concordaram os três. Abbud separou seis túnicas com mais ou menos o tamanho dos espiões, que as vestiram. Ficaram um pouco gordos, mas não lhes atrapalhando os movimentos. Definiram que sairiam Halim e Abbud para jantar em local próximo ao estábulo de Schain, aguardando a hora em que os gêmeos esconderiam as roupas. Habi e Habu sairiam separadamente no inicio da madrugada.

Chegada a hora, primeiro saiu Hanu. Habu foi depois de quinze minutos. Halim e Abbud terminaram a refeição e foram caminhar em direção a cavalariça de Schain, onde se esconderam em um beco próximo. Para o seu espanto, ali estavam também Hanu e Habu. Antes de clarear o dia, os gêmeos entraram na estrebaria por uma janela. Despiram-se das túnicas e as esconderam sob a forragem da baia de Schain. Voltaram para que Halim e Abbud as encontrassem. O estábulo tinha uma sentinela que dormia a sono solto.

-Precisamos ir até a cocheira de Schain, filho do general Abbdul. Há provas que precisamos preservar – disse Halim à sentinela já entrando pela estrebaria. O soldado, acordado de supetão, gritou:

-Alto! Não podem entrar!

-Venha ver conosco. Será testemunha! Sabemos que há provas aqui de que o filho do general Abbdul foi quem mandou incendiar os navios – falou Halim ao soldado, enquanto Abbud já na baia apontava as roupas por entre a palha, dizendo ao soldado:

-Olhe, estão ali, veja!

O soldado ao ver as vestimentas escondidas apontadas por Abbud, disse atônito:

-Que Alá nos proteja!

As provas estavam plantadas!

Nota do Autor:

É uma obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 22/03/2022
Reeditado em 22/03/2022
Código do texto: T7478155
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