A Saga de Godofredo XIII - A Armadilha
16.03.22
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Hassan meditava profundamente sobre a reunião do alto comando que acabara de presenciar. Estava desconfiado. Pois, Saladino da mesma forma que o promovera a subcomandante das forças sarracenas, desconfiava dele pelo ataque às naus capitânias. Nabi preparava-se para ir ao acampamento na praia, na qual estava ancorado o navio, para informar a Halim e Abudd da situação e enviar as informações para Malta. Subitamente, Hassan disse à mente de Nabi, pois, Mira estava sempre ao seu lado:
-Espere! Acho que é uma armadilha. Não informe Malta sobre o plano de ataque dos mouros definido a pouco na reunião! Ele está nos testando. Reporte somente a minha nomeação; que estamos infiltrados no estado maior de Saladino; que deveremos partir daqui a três dias; que pararemos em Lampedusa para abastecimento e que lá permaneceremos por mais dois dias com os oitenta navios da frota transportando oito divisões do exército mouro - em torno de oito mil homens. E que aguardem informações mais precisas!
Nabi confirmou com um olhar para Hassan respondendo-lhe mente a mente:
-Quem sabe você usa a paixão de Mira e aproveita para conversar com ela sobre o plano real de ataque que está sendo elaborado!
Hassan olhou carinhosamente para Mira ao seu lado e assentiu levemente com a cabeça para Nabi, que saiu do quarto com as novas deliberações.
-Meu querido, você está muito pálido e fraco. Deve descansar para estar pronto para a dura batalha que logo enfrentará - falou ela docemente junto ao seu rosto, sentindo ele o seu hálito perfumado.
-Sim, estou muito fraco e preocupado com o seu pai.
-O que te preocupa, querido?
-Ele me questionou sobre o ataque às naus de comando, porque segundo seus espiões foram mercenários assassin que incendiaram os navios. E, que eu teria tido alguns destes guerreiros na minha tripulação, o que não é verdade. Insinuou assim que posso ter sido o responsável pelo incêndio dos navios.
-Como? Você o responsável pelo ataque! Estava no jantar e defendeu-me de Schain, quase morrendo! Como ele tem este descaramento!
-Eu disse que poderia ser obra de Schain, pelo ciúme doentio que tem de você.
-Sim, poderia ter sido ele, pois sempre foi intempestivo e dissimulado. Eu nunca gostei dele, meu pai sabe disso. Mas, queria que me casasse com ele pela amizade de irmão que tem por Abbdul. Nem sequer me perguntou. Eu detesto Schain!
-Ah querida, que bom que tenho você ao meu lado. Sem você, não sei o que faria. Acho que ele quer me testar se sou espião cristão, pois creio que hoje na reunião passou um plano de ataque diferente, pensando que o enviarei ao cristãos confirmando suas suspeitas. Estou muito inseguro querida. Eu sou leal a ele e a sua causa – queixou-se Hassan. Mira, atônita pelo dito dele, abraçou-o e lhe falou com delicadeza:
-Querido, não acho que ele tenha feito isso, pois por que o nomearia subcomandante de suas tropas e deixaria sua filha amar o seu desafeto? Vamos nos casar, não é mesmo? – disse beijando carinhosamente a testa de Hassan.
Hassan pensava enquanto Mira lhe acariciava os cabelos. Adormeceu. Ela saiu do quarto, indo buscar o almoço para o seu amor.
Saladino chamou Abbdul para uma conversa durante a refeição ao meio-dia. Era sobre a dúvida levantada por Hassan de ter sido Schain o responsável pelo ataque aos navios de comando. Saladino, sentado em uma das extremidades de uma mesa com deliciosas comidas árabes, aguardava o seu fiel amigo. Abbdul entrou no salão.
-Que Alá esteja convosco, meu querido irmão Abbdul - saudou Saladino!
Abbdul sério respondeu de forma protocolar:
-Que Alá esteja convosco nobre Sultão, senhor dos mouros – respondeu sentando-se na outra extremidade da mesa!
- Deduzo que saiba do por que deste nosso almoço a dois, não? – questiona-lhe o Sultão.
-Sim. É sobre Schain. O que quer saber? – respondeu-lhe o general.
-Acha ser possível o ataque as nossas naus ter sido obra do seu filho, por ciúme doentio de Mira? Ele quase matou covardemente o mercador na noite do jantar. Meus espiões disseram que essa é a versão que corre pela cidade.
Abdul sentiu-se desconfortável pela questão de Saladino em relação ao seu filho, ajeitou-se melhor na cadeira e demorou um pouco para responder ao chefe sarraceno, mas disse de forma incisiva:
-Meu querido e honrado irmão Saladino, meu filho pode ser impetuoso e ter ciúmes exacerbados de sua filha, mas não é traidor, lhe garanto!
-Sim, conheço-o desde o seu nascimento e esperava que se casasse com Mira. Você sabe disso! Mas, o imprevisto da questão do coração nos deixa indefesos. Ela apaixonou-se por Hassan. Nada posso fazer além de trazê-lo para o meu lado e conhecê-lo melhor. Ele é uma incógnita. Ainda não consegui saber quem é de fato. Mas demonstrou galhardia e honradez ao defender Mira da ira de Schain, que quase o matou.
-Sim, Hassan foi honrado. Meu filho perdeu o controle e se desesperou. Hoje está humilhado pelo acontecido. Entendi que tenha nomeado o mercador para ter o controle da situação, até porque passou um plano de ataque diferente do que tínhamos definido antes da reunião de hoje. Quer descobrir se ele é confiável ou um espião. Muito ardiloso da sua parte irmão Saladino.
-Acho que teremos que fazer uma acareação entre os dois – propôs Saladino.
-Sim, seria a melhor ação para avaliarmos quem diz a verdade – concorda Abbdul.
-Faça as suas investigações e eu farei as minhas. Marcaremos o encontro dos dois daqui para daqui a dois dias.
-Que Alá nos proteja e nos dê glória a nossa empreitada! – disse Saladino levantando o seu copo em um brinde. Abbdul brindou da mesma forma. Almoçaram falando de amenidades. Abbdul estava mais descontraído, pois seu filho teria a oportunidade de se defender e mostrar que não era um traidor.
Mira, na antessala entre a copa e a cozinha, ouviu toda a conversa. Ficou preocupada com a sorte de Hassan, pois sabia que seu pai era implacável com os traidores. Ansiosa, levou a refeição para Hassan no quarto.
Hassan acordou quando Mira entrou nos aposentos. Ao vê-la com seus longos cabelos negros e lisos, seus olhos amendoados vivos e seus passos de felina, deu-lhe um sorriso e suspirou de felicidade.
Mira colocou a comida sobre a mesa e trouxe Hassan para sentar-se junto a ela. Contou indignada tudo o que ouvira na sala em que Saladino e Abbdul almoçavam, pois não imaginava que seu pai estava testando a lealdade de seu amor.
Hassan escutava quieto e preocupado. Precisaria forjar a sua verdade. Era crucial para sobreviverem. Precisaria de Nabi, Hanu e Habu. E de Mira também. Sua desconfiança se confirmara.
Nota do Autor:
É uma obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência.