A Saga de Godofredo XII – Cizânia
14.03.22
408
Janet, Comandante em Chefe das tropas cristãs em Malta, recebeu a notícia do sucesso da missão de Godofredo. Hamud, de Tunes, enviou a Janet um jovem pombo-correio até Trapani, na Sicília, com a informação – voou diretamente por cerca de oitocentos quilômetros.
Aníbal, pai de Godofredo já estava na ilha mediterrânea de Malta com suas tropas preparando-se para o ataque sarraceno.
-Parabéns Aníbal, seu filho conseguiu! – cumprimentou-lhe o comandante Janet.
-Graças a Deus! Estou ansioso por revê-lo. Faz algum tempo que não nos vemos – respondeu o pai primordial de Godofredo.
Godofredo não informara ainda aos seus comandantes de que era agora um infiltrado nas forças sarracenas; que fora nomeado Subcomandante e que seu navio fora requisitado para ser a nau capitânia de Saladino. Achou melhor recuperar-se dos ferimentos e aguardar as definição das ações de guerra dos mouros, pois teria mais informações a passar. Soube que quatro dos assassin que executaram a missão conseguiram escapar e chegar a Tunes e que os três pegos suicidaram-se tomando cicuta. Saladino não sabia quem lhe atacara. Estava em busca de informações. Seus espiões fervilhavam pelas cidades.
-Perdemos três companheiros na missão. Uma pena! Sinto muito por Halim e Abbud, pois eram da tripulação há algum tempo. Que Deus lhes abençoe – falou Hassan na mente de Nabi enquanto ainda estava deitado em um leito no castelo de Saladino!
A faca que Schain lhe cravara no ombro, fora sacada por Avicena, fazia dois dias, mas seus movimentos ainda estavam muito prejudicados. Mira cuidava-o dia e noite. Estava no paraíso, com ela ao seu lado. E apaixonadíssimo!
O Ajudante de Ordens de Saladino entrou nos aposentos de Hassan.
-Que Alá esteja convosco nobre Subcomandante Hassan! O Grande Senhor lhe convoca agora para a reunião do estado maior para definir a estratégia do ataque aos cristãos.
-Que Alá esteja convosco! Preciso que o grande Avicena me libere. Pode aguardar aqui enquanto peço à princesa Mira que chame o doutor?
Mira olhou com afeto para Hassan e foi ao encontro do ilustre médico mouro, trazendo-o em seguida. Hassan explicou-lhe o motivo. Avicena ponderou:
-Bem, a sua presença é importante, por isso libero a sua ida. Será amparado por dois guardas que o transportarão de maca até a sala da reunião e lá ficará sentado, pois perdeu muito sangue e poderá ter tonturas.
-Posso ir com ele doutor? – perguntou-lhe Mira.
-Seu pai é quem decidirá se poderá ficar na reunião, nobre princesa, mas de minha parte não há problema algum.
-Acho melhor me aguardar aqui, minha querida Mira – falou-lhe Hassan carinhosamente.
-Meu pai e eu não temos segredos. Mas se achar melhor, aguardar-lhe-ei aqui, meu querido Hassan.
O Ajudante de Ordens chamou dois guardas que o transportaram de maca para a grande sala em que já estava reunido todo o estado maior de Saladino. Enquanto era levado, Hassan disse à mente de Nabi:
- Encerrada a reunião enviaremos aos nossos em Malta todos os detalhes importantes do plano de ataque. Seja muito cuidadoso, pois há muitos espiões que poderão nos denunciar! O ideal será enviar dois pombos em horários diferentes, pois se um for abatido o outro entregará a mensagem a Hamud, em Tunes. E não esqueça de escrever a mensagem em código!
Todos os comandantes já estavam sentados em volta de uma enorme mesa redonda com o mapa de Malta sobre ela. Hassan, ao entrar , foi encarado friamente pelo General Abddul. Ajudado pelos guardas sentou-se vagarosamente em uma cadeira ao lado de Saladino. Schain não estava presente.
-Que Alá esteja conosco! Estamos aqui para definirmos as linhas principais do nosso plano de ataque a Malta. Saúdo também o nobre Hassan, nosso novo Subcomandante que estará comigo durante a nossa jornada. Que Alá lhe dê muita saúde! – bradou o grande sultão em pé na abertura da reunião.
-Que Alá lhe dê muita saúde! – responderam todos, menos Abddul, que se mantinha quieto.
-Iremos atacar em sete locais diferentes para impedir a entrada e saída de embarcações da ilha e cortaremos o fluxo de tropas e suprimentos, imobilizando-os. Em cada um dos sítios definidos uma divisão desembarcará e seguirá em direção a La Valeta. Os locais serão:
-extremo norte, 1ª divisão em Ic Cirkewwa para impedir a navegação pelo canal e passagem para a ilha de Ghawdex ;
-oeste, 2ªdivisão em Mgar, para cortar o fluxo entre o norte e sul da ilha;
-extremo sul, 3ª e 4ª divisões na baía de Birzebbuga – Marsaxlokk impedindo a saída pelo mar;
-minha divisão junto com a do General Abddul, em frente à entrada de La Valeta;
-extremo nordeste, 5ª divisão em St. George ;
-e a 6ª no meio leste em Bugibba – diz Saladino enquanto coloca no mapa uma miniatura de uma nau com o número da divisão respectiva de cada localidade definida. E complementa:
-Cortaremos assim os principais acessos de fuga ou recebimento de suprimentos e tropas vindas da Sicília ou de outras localidades. Iremos sitiar totalmente a ilha. Entendido até aqui senhores? Alguma dúvida?
Todos assentiram afirmativamente com a cabeça. Hassan escutava com atenção e perguntou ao sultão:
- Faremos parada para abastecimento em Lampedusa?
-Sim, já informamos ao nosso comandante de lá que deixe tonéis de água preparados. Nossos barcos partirão abastecidos para três dias de viagem, pois lá iremos carregá-los plenamente. Ficarão mais pesados, mas nesta época do ano o Mediterrâneo é brando, com poucas tempestades – respondeu-lhe Saladino.
-Quanto tempo demorará essa operação? – completou Hassan.
-Por volta de dois dias para carregar todos os nossos oitenta navios, nobre Hassan – respondeu Zafir, o Capitão Intendente de Saladino, o qual Hassan conhecia da conferência dos barris de azeite.
-Bem senhores, estamos todos alinhados e sabedores de nossa missão. Receberão depois os detalhes de cada localidade, sua topografia, fortificações e demais itens para estudarem e definirem as estratégias de combate. Eles devem estar nos esperando, mas não imaginam como lhes atacaremos. Então, vamos apressar o processo para podermos zarpar daqui a três dias e surpreendê-los. Eles têm informações de que os atacaremos daqui a dez dias. Em dois dias nos reuniremos novamente para o fechamento das ações. Que Alá nos faça vencedores! – urrou o sultão.
-Que Alá nos faça vencedores! – responderam os comandantes mouros saindo da sala.
-Hassan fique mais um pouco – solicitou sério o general sarraceno!
Hassan manteve-se sentado. Ficou preocupado, pois o semblante de Saladino não era tranquilo. Estava com o seu olhar duro.
-Meus espiões informaram que um grupo de assassin incendiou minhas naus. Você tinha esses indivíduos em sua tripulação? – perguntou Saladino olhando fixamente nos olhos de Hassan.
Hassan manteve o sangue frio e pensou em como responder. Se confirmasse, seria considerado cúmplice e sua lealdade seria posta em questão. Se negasse alegando que a tripulação era da competência de Halim, os colocaria em perigo da mesma forma. Mas, se usasse o ataque de ciúmes de Schain, agora o seu desafeto declarado, poderia alegar que este usou os mercenários no incêndio às naus somente para incriminá-lo. Era o risco a correr.
-Acredito ser obra de Schain, meu grande senhor, pois na tentativa de me incriminar, deve ter contratado alguns destes mercenários para atacar suas naus. O meu navio e tripulação, que não é de assassin, estava ancorado no mesmo local quando do ataque – respondeu Hassan sem pestanejar, com olhar fixo em Saladino.
O chefe sarraceno ouviu a resposta sem manifestar qualquer reação. Seu rosto estava petrificado. Depois de alguns segundos, respondeu:
-Pode ser, mas terei que conversar com o meu grande amigo Abddul para saber dessa sua versão. Por enquanto ficamos assim, na dúvida. Falei com Avicena que disse que você poderia partir daqui a três dias, mas com algumas restrições. Então, recupere-se e esteja apto para a viagem – falou o sultão saindo apressado da sala!
Hassan foi levado de volta para os aposentos nos quais Mira e Nabi aguardavam. Ele passou os detalhes do plano de ataque e a dúvida de Saladino quanto aos assasin para Nabi em conversa mente a mente para que este informasse Malta. Solicitou que Halim apagasse qualquer vestígio que pudesse demonstrar ser sua tripulação constituída destes mercenários; e também, que os irmãos espiões Habu e Hanu difundissem a notícia de que foram os assassin contratados por Schain que atacaram os navios. A cizânia estava posta!
Nota do Autor:
É uma obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência.