O líder estudantil
Quando cheguei à universidade na manhã seguinte, um camarada chamado Riho Eenpalu veio falar comigo numa das praças internas do Centro de Ciências Sociais. Eenpalu era do Diretório Estudantil, uma organização à qual eu nunca dera muita atenção, até por lidar basicamente com política universitária.
- E aí, Mairo, como vão as coisas? - Indagou ele, muito amigável.
- Tudo caminhando, Riho - redargui em tom neutro. - Já está pedindo votos pela reeleição no DE?
- Não, ainda faltam dois meses para o início da campanha - minimizou ele. Fazer campanha não era exatamente uma das suas prioridades, visto que o Diretório Estudantil contava com o beneplácito estatal. - Mas você teria interesse em participar?
Ergui os sobrolhos.
- Agradeço o interesse, Riho, mas estou mais preocupado em terminar o curso e arranjar um emprego permanente.
- Sobre a primeira parte não há muito que eu possa fazer, - declarou ele de forma estudada - mas quanto à segunda, entrar para o DE pode lhe abrir várias portas.
Sim, eu estava ciente de que uma carteira do DE indubitavelmente tinha o condão de remover obstáculos à uma carreira profissional, principalmente para quem não tinha padrinhos em cargos-chave - o meu caso. Mas por qual razão o DE estaria interessado na minha pessoa, para princípio de conversa?
- Nós sabemos de muita coisa, Mairo - redarguiu tocando meu ombro num gesto paternal, embora tivéssemos a mesma idade. - Pode estar certo de que se juntar a nós, iria evitar uma série de problemas...
- Me parece que aqui não estamos falando exatamente do meu futuro profissional - ponderei.
- Mas estamos falando do seu futuro - assegurou. - Aposto que gostaria de dar uma vida melhor à sua tia, Kaidi.
- O que tem minha tia? - Franzi a testa.
- Ela alguma vez lhe disse como seus pais morreram?
O assunto era tão inesperado que não pude deixar de encará-lo.
- O que isso tem a ver com os assuntos do DE?
- É um assunto do Partido - replicou Riho, muito seguro de si. - E portanto, acaba sendo do interesse do DE. Mas você não respondeu à minha pergunta.
Continuei parado, frente a frente com ele, sem saber o que responder. Aquele era um assunto pessoal, não me sentia obrigado a discuti-lo em público com um quase estranho.
- Se você não quer dar uma resposta, é possível que sua tia tenha lhe dito que eles morreram na explosão da fábrica de termoplásticos de Kuusirp - afirmou categoricamente. - Mas isso pode não ser a verdade.
- Do que raios está falando... - murmurei aturdido.
- Estamos esperando para conversar com você no DE - concluiu Riho, dando-me um tapinha condescendente nas costas. - Não demore a aparecer.
Ele então se afastou, me deixando com a impressão de que havia lançado uma isca; a qual eu estava propenso a morder...
- [Continua]
- [27-02-2022]