A Saga de Godofredo VII – Afogado

22.02.22

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Saladino entrou na tenda olhando os detalhes. Sentou confortavelmente em uma almofada no chão forrado de tapetes. Chamou a filha para junto dele. Ela obedeceu, pois estava ao lado de Hassan. Hassan percebeu pelo tom de voz imperativo do grande sultão que seria melhor afastar-se. Mas sentia prazer ao lado da linda moça. Desejo - deduziu sua mente no corpo paralisado pelo coma profundo em que se encontrava. A aventura ou o sonho que produzia era de uma realidade incrível. Fantástica!

-Procure não demonstrar interesse pela princesa, ela é muito jovem e parece não medir as consequências de suas ações. Cuide para não colocar em risco a nossa missão – ouve a voz estridente e fina de Nabi que o encarava com olhar firme e reprovador por entre os óculos de aros redondos, emoldurados por sua cara de lua. Minha Consciência!

Abbud servia o chá de hortelã despejando-o do alto. A bebida caía certeira no pequeno copo sem derramar uma única gota sequer. Saladino acompanhava a cerimonia com deleite.

-Que Alá nos torne vitoriosos na próxima batalha – brindou Saladino!

-Que Alá esteja convosco – respondeu Nabi seguido dos demais! Beberam devagar.

-Ótimo chá, querido irmão mercador. Vi que estão trabalhando freneticamente no convés da sua nau. Estão separando o azeite misturado com água do mar, como disse? – falou olhando firme tanto para Nabi, quanto para Hassan. Era astuto o chefe mouro. Desconfiado.

Mira, só tinha olhos para Hassan, dando-lhe pequenos sorrisinhos. Hassan fugia dos olhares dela. Mas, em seu íntimo, sentia prazer pelo que acontecia.

-Sim, sim meu grande Senhor, estamos já finalizando essa separação, causada pela enorme borrasca que enfrentamos e que, como lhe disse no palácio, rachou alguns barris vazando o nosso valioso azeite.

-Posso ir ver como está o trabalho?

Nabi aflito começou a sorrir e esfregar as mãos em gesto de clara ansiedade, mas manteve a calma, respondendo:

-Sim, claro meu grande senhor. Mas antes, gostaria de lhe pedir humildemente que permita Abbud ir ao navio preparar a sua ida – incumbindo ao contramestre a tarefa com olhar indicativo.

Halim sussurrou para Hassan:

-Que história é essa que ele inventou? E como faremos? Nossos tonéis estão todos intactos e há os de alcatrão marcados que poderão ser descobertos.

Hassan ficou com olhar fixo por segundos, compenetrado na questão e respondeu de forma que o chefe mouro não notasse ou ouvisse:

-Vá com Abbud, rache alguns barris e deixe vazar o azeite no compartimento de carga misturando-o com a água do mar! Saladino, terá que aguardar , pois só temos um barco a remo - disse a Halim.

Hassan dirigiu-se ao comandante mouro, dizendo:

-Acredito que a princesa Mira gostaria também de nos acompanhar nobre chefe e Senhor. Então nosso comandante irá junto para organizar a visita ao nosso humilde barco. A princesa, ao ser mencionada, iluminou o semblante e efusivamente aceitou o convite:

-Ah sim, sim, quero ir sim, posso papai? – falou olhando feliz para Hassan.

Saladino ficou mudo por alguns instantes, deixando-os tensos, mas respondeu:

-Perfeito! Aguardaremos então, temos toda a tarde para essa visita. Mais chá, por favor, querido irmão. E conte-nos mais sobre o Líbano - pediu a Nabi, que prontamente os serviu e começou a entreter Saladino e sua filha !

Todos tiveram um grande alívio, pois caso Saladino fosse ao navio e não encontrasse os barris danificados, como mentiu Nabi, desconfiaria.

Hassan ao sair da tenda com Halim e Abbud , disse-lhes:

-Ele, ficando aqui a tarde toda, atrasará as ações que planejamos para hoje. Pois, não poderemos fazer nenhum movimento suspeito. Vamos ter que aguardar e ver o que acontece. A cautela é a mãe da prudência.

Halim e Abbud partiram no barco a remo e voltaram depois de uma hora e meia. Saladino e Halim embarcaram primeiro; Hassan e a princesa iriam depois. Nabi ficaria na tenda.

Hassan ajudou a princesa a subir no barco. Sentaram frente a frente. Ele admirava seu lindo rosto e seus olhos pretos amendoados. Estava envolta em túnica negra transparente que mostrava seu corpo esbelto. Era uma beleza de mulher.

-Espero que o nobre mercador vá ao nosso jantar amanhã – disse-lhe ela, com trejeitos sensuais, olhando fixamente em seus olhos. Hassan sentiu novo frêmito em seu corpo. Ela o cativava. Ele teria que tomar cuidado para não se envolver emocionalmente. Nabi lhe avisara, mas a usaria para obter vantagens junto ao seu pai. Ela seria o caminho.

-Sim, irei com certeza prestigiar o honrado convite de seu pai, o grande senhor Saladino e atender ao seu gentil convite, minha princesa e senhora – respondeu sorrindo.

Saladino acompanhava a viagem deles da amurada do navio. Hassan precisava aproveitar o momento para criar uma situação inesperada e abortar a vistoria que lhe preocupava.

Levantou-se e foi sentar na popa do bote. Propositadamente, balançou fortemente o barco para perder o equilíbrio e cair na água. O remador estático com o inesperado, parecendo não saber nadar, nada fez. Hassan fingiu afogar-se. Realmente, com a túnica de linho, as armas e as botas não era fácil ficar à tona. Mira pulou ágil e rapidamente na água para socorrê-lo. O remador estendeu um dos remos para resgatá-los. Mira ,então, ordenou ao remador que voltassem a praia. Todos no navio acompanharam a cena, assim como Nabi no acampamento. Hassan conseguira o seu intuito.

Hassan, deitado no barco, admirou mais uma vez o corpo molhado e a túnica negra transparente grudada nas belas formas sensuais de Mira. Foi levado até a tenda carregado por Nabi e o remador. Estava ofegante e de olhos fechados, mas feliz pelo sucesso em atrapalhar a vistoria de Saladino. Nabi ordenou ao remador que fosse buscar Saladino imediatamente no navio. Mira, de joelhos ao lado de Hassan, tirando-lhe as roupas molhadas e vendo o seu corpo forte e rijo, perguntou-lhe carinhosamente:

-Você está bem?

-Peço desculpas pelo ocorrido, humildemente, minha senhora e princesa. Foi uma ação insensata. Mil perdões.

-Pode me chamar de Mira –disse-lhe passando a mão lisa e aveludada sobre seus cabelos úmidos. Iniciava um romance perigoso, mas que Hassan provocara. Só não poderia apaixonar-se e prejudicar a missão que se desenrolaria na noite do dia seguinte.

Minutos depois, entram na tenda Halim e Saladino. Este, vendo Mira acalentando Hassan, pergunta com olhar fulminante para a filha que para imediatamente de acariciá-lo:

-Está bem, nobre mercador?

-Sim. Que Alá esteja convosco – responde Hassan com voz fingida.

Imediatamente, Saladino mostra a filha com o olhar que era hora de voltar para o castelo. E para Hassan, despedindo-se, diz:

-Grato pelo delicioso chá. E que meu nobre mercador tenha rápido restabelecimento para poder estar presente em nosso jantar. Que Alá esteja convosco.

Todos reverenciaram ao líder sarraceno, que saiu com passos firmes, junto com a filha, que com olhar carinhoso, despediu-se de Hassan.

-Que Alá esteja convosco - responderam.

Nabi disse a Hassan:

-Muito bem! O seu afogamento fingido abortou a vistoria que o astuto Saladino veio inesperadamente fazer. Mas cuidado, pode se apaixonar por ela, o que não é difícil. Contenha-se!

Hassan deitado de olhos fechados, sorrindo de satisfação, rememorou o contato do corpo sedoso e firme dela junto ao seu, quando do resgate. Será que estava se apaixonando?

Nota do Autor:

É uma obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 21/02/2022
Reeditado em 22/02/2022
Código do texto: T7457593
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