Póstumo
A campainha tocou. Fui atender e era o Professor, diante da minha porta com um pacote embrulhado em papel pardo.
- Encomenda para você - disse ele animado, erguendo o embrulho.
- Bom, não é meu aniversário... - repliquei, fazendo um gesto para que entrasse.
Já instalado no sofá da sala, o Professor indicou o pacote, que eu colocara sobre a mesinha de centro:
- Foi seu irmão quem mandou; estive com ele na minha última viagem.
Senti um nó na garganta; meu irmão havia morrido há dez anos.
- E... quando foi que o viu?
- Dois dias antes do acidente. Disse que não havia tido tempo de colocar no correio e me pediu para entregar a você.
Fiz um gesto afirmativo. Eu sabia que não adiantaria o Professor avisar ao meu irmão para não pegar aquele avião, pois isso não mudaria a nossa linha temporal; apenas criaria um universo alternativo, onde ele não teria morrido naquele momento específico.
Rasguei o papel e me deparei com uma colcha de retalhos, que havia sido costurada por nossa avó materna e ficara durante décadas na casa de nossa mãe.
- Ele me disse que pensou em levar a colcha para a filha mais velha, que estava indo visitar, - explicou o Professor - mas que algo o fez mudar de ideia. Achou que seria melhor que você decidisse o que iria fazer com isso...
Balancei a cabeça, em aprovação.
- Essa colcha ficou dez anos no limbo - ponderei. - Acho que agora chegou a hora dela ter o destino que ele havia traçado.
Minha sobrinha havia voltado a morar na mesma cidade em que eu e meu irmão havíamos residido toda a nossa vida. Amanhã, decidi, eu iria levar o presente para ela...
- [17-02-2022]