A Saga de Godofredo II – A Missão
10.02.22
394
Indo se encontrar com o General Homero, Godofredo matutava como conseguiria danificar 50 embarcações sarracenas em tão pouco tempo. Trinta dias era um prazo muito curto para uma ação tão grande e perigosa.
-Calma Godofredo, não fique ansioso. Você tem caraterísticas peculiares para poder executar essa ação e não sabe que as têm. Por exemplo: fala perfeitamente bem o sarraceno; tem a fisionomia e tipo físico de um mouro; é ótimo com a espada e com o arco e flecha qualidades fundamentais para realizar a empreitada. Tem argúcia, inteligência e sangue frio para as situações difíceis. Eu serei quem lhe ajudará nas piores situações, pois sou a sua consciência, transfigurada nesse ser engraçado e multiforme que vê, ou moldou. Tudo o que está vivenciando é a sua memória ou você mesmo que cria.
-Falo sarraceno, sou bom de espada e arco e flecha e quase um mouro? Realmente é tudo um sonho, não?
-Sim, pode considerar como se fosse, mas essas ações aconteceram de fato, e estão incrustadas na essência do seu ser. Está vivenciando a história de sua existência. Não é genial?
-Sim, mas o que me preocupa é não conseguir realizá-la e ser morto. O risco é grande. Mas, estou animado e excitado em ver como será. Sou competitivo e adoro um desafio.
-Capitão Godofredo! - lhe chama uma voz enérgica e forte.
Godofredo vê a sua frente um senhor de barba e longos cabelos grisalhas, alto e forte, com a túnica de cavaleiro cruzado olhando-lhe inquisitivo. Ele chegou perto do oficial e notou que talvez não lhe fosse desconhecido. Seus olhos eram de um azul cristalino, seu nariz era longo e adunco e o seu sorriso aberto de dentes claros e perfeitos - feições e traços familiares. Eu o conheço, deduziu.
-Sim você o conhece, pois ele é o seu tio ancestral, irmão do seu pai primordial que originou a sua família - lhe diz o gorducho ao seu lado, sem soletrar uma palavra.
-Meu pai primordial? Vou conhecê-lo?
-Por enquanto não, pois ele está na Sicília, é general também, Aníbal é o seu nome, e virá com as tropas de reforço enquanto você impedirá a saída dos sarracenos. Excitante não?
-Godofredo, vamos alinhar as ações então – fala o general interrompendo a conversa muda.
-Vou lhe definir o que idealizamos para que possa realizar essa dura tarefa junto com o nosso espião chefe. Eis o plano: irão atravessar hoje para a costa africana em uma escuna comercial como dois negociantes de azeite. Estarão levando uma carga de tonéis de azeite e alcatrão. A travessia durará um dia e meio. Em solo inimigo, desembarcarão em cidade portuária na qual estão ancorados os navios mouros. Lá encontrarão com dois espiões nossos, de inteira confiança do nosso chefe aqui, que lhes ajudarão na tarefa. Detalhe: são mudos, mas não surdos, entendem tudo o que ouvem e se comunicam por sinais. Entendido até aqui?
-Perfeitamente general.
-Seguindo, vocês irão incendiar o barco capitânia da esquadra e os barcos dos generais das divisões, que são cinco. Os espiões sabem quais são, e estão separados dos de transporte das tropas para não serem destruídos. E claro fortemente guardados. Alguma questão?
-Não general.
-A ideia é descarregar os tonéis de alcatrão no compartimento de carga na proa dos navios, sem serem vistos, misturando-os com os de azeite. Depois, vocês terão que aplicar um pouco do alcatrão na proa de cada caravela, e simultaneamente, Godofredo irá disparar cinco flechas acesas em cada um deles, que deverão queimar e impedir momentaneamente a ação dos sarracenos, dando tempo de nosso reforço chegar da Sicília. Se for possível incendiar outros navios de transporte de tropas, melhor será. Sem os seis do comando, desorganizará toda a logística e estratégia deles, dando-nos tempo para enfrentá-los aqui em melhores condições. Essa decisão, de incendiar mais navios, será sua Godofredo.
-Entendi general Homero. E a nossa fuga como será? Não poderemos ficar por lá, seremos caçados, eles também têm os seus informantes e espiões.
-Executada a missão, vocês irão para a direção leste, para a cidade de Tunes, onde encontrarão com o nosso aliado, comerciante de tâmaras e espião, que lhes enviará de barco para a Sardenha. O tempo de espera vai depender de vocês, se poderão ou não partir. O capitão Xenofonte irá fornecer o que precisarem. O navio para partirem hoje à noite esta ancorado e com suprimentos. Boa sorte – disse-lhes finalizando a conversa!
-Grato general. Vamos precisar.
-Ah Godofredo, seu Pai mandou lhe dizer que o aguarda aqui depois de cumprida a missão.
-Obrigado, estarei com certeza.
Saíram silenciosos da sala do general Homero, acompanhado pelo capitão Xenofonte, ouvindo-se somente os passos secos das botas no piso de pedra. Ele pensava.
-Vai dar tudo certo! – disse-lhe o baixinho na sua mente. Estava incomodado por não ter o gorduchinho um nome. Decidiu chamá-lo de “Cons”, de consciência.
-Gostei. Vou ser “Cons” então, satisfeito? – respondeu-lhe o homenzinho sorrindo-lhe.
A missão se iniciava.
Nota do Autor:
É uma obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência