Rota estelar
- Calma - disse Ash White, tocando no ombro de Bev Ortiz. - É só um traje espacial vazio que se soltou do suporte...
- Eu não esperava encontrar sobreviventes, após trezentos anos - desdenhou Ortiz, empurrando o traje para o lado ao passar.
A porta deslizante do camarote do comandante foi mais fácil de abrir do que a escotilha anterior, e só exigiu um pé de cabra. Não havia nenhum corpo ali dentro, o que parecia indicar que o oficial estava de serviço no momento do ataque. White começou a revirar os armários e gavetas, à procura de itens valiosos, enquanto Ortiz deteve-se examinando um antigo projetor tridimensional que encontrara num cofre de segurança.
- É uma bela peça, - avaliou White, recolhendo objetos numa bolsa elástica - mas há outras coisas mais interessantes aqui dentro.
- Não está se perguntando porque o comandante guardava esse projetor num cofre? - Indagou Ortiz, que continuava manipulando o aparelho com as mãos enluvadas.
- Provavelmente porque continha planos de batalha ou coisa parecida - replicou White, sem grande interesse. - Segredos militares que não interessam a mais ninguém, talvez só aos historiadores.
- O acesso está codificado, mas como é tecnologia de três séculos atrás, creio que posso quebrá-lo com um pouco de computação quântica - ponderou Ortiz, abrindo um link de comunicação de dados com a "Avgerinós", que seguia em paralelo aos destroços.
- Boa sorte com seu quebra-cabeças - redarguiu White. - Depois, vamos aos paióis recuperar as ogivas de fusão que sobraram; já tenho comprador para elas em Tudora-VII.
- Se formos pegos com ogivas de fusão, a Patrulha Estelar não vai deixar barato - disse Ortiz, enquanto linhas de código percorriam a tela no console de pulso do traje espacial.
- Se estivermos com as ogivas, duvido que aquela corveta chegue perto de nós - retrucou White.
Um símbolo verde surgiu no console; Ortiz apertou-o, e em seguida um LED acendeu-se no projetor.
- Vamos ver o que você esconde - murmurou, apertando um botão na base do aparelho e colocando-o no piso de aposento.
White parou de revirar gavetas e olhou para o mapa tridimensional que havia sido projetado em linhas vermelhas no centro do quarto.
- Isso é a Confluência, não é?
- Exatamente - assentiu Ortiz, e estendeu a mão para indicar um triângulo piscante. - Nós estamos aqui.
- Incrível como a astrolocalização ainda funciona depois de tanto tempo - surpreendeu-se White. - Mas isso diz algo sobre o que a Aliança estava fazendo aqui?
- Certamente tem a ver com os três sóis da nebulosa - avaliou Ortiz. - A Aliança parece ter encontrado algo que lhe permitiria uma vantagem estratégica na guerra contra a Confederação, mas seus planos foram descobertos e eles foram emboscados, supostamente por essa mesma Confederação. O que você vê de errado nesse raciocínio?
White parou para pensar, durante alguns instantes.
- Se a Confederação sabia qual era a tal vantagem estratégica, por que não a usou em causa própria?
- Exatamente! - Ortiz deu um murro na mão enluvada. - O que aconteceu é que a Aliança e a Confederação acabaram por declarar um cessar-fogo, e posteriormente assinaram um tratado de paz. Parece que decidiram que há algo na Confluência que não valia a pena utilizar.
White aproximou-se da projeção tridimensional, subitamente interessado.
- E para onde acha que estavam indo?
Ortiz agachou-se e apertou alguns botões no painel do projetor. Uma linha pontilhada amarela projetou-se do triângulo piscante até um pequeno círculo azul, no coração da nebulosa, na zona de influência gravitacional conjunta dos três sóis.
- Bem aqui - declarou. - Pode ser um planeta, ou protoplaneta.
White também agachou-se e perguntou:
- Consegue transmitir estas coordenadas para a "Avgerinós"?
- O que você pretende fazer? - Questionou Ortiz.
- Ir lá e ver do que se trata - foi a pronta resposta. - Mas só depois que acabarmos de encher a nossa rede com ogivas de fusão.
- [Continua]
- [19-01-2022]