Contagem de corpos
A vedeta da fragata de pesquisa "Wolpertinger" pousou próxima às últimas coordenadas conhecidas do mercante "Stromboli", que fizera um pouso de emergência naquele planeta não mapeado dez anos atrás. Não havia nenhuma esperança em resgatar qualquer sobrevivente do desastre, tanto pelo tempo decorrido, quanto pelas baixas condições de habitabilidade na superfície para seres humanos. E todavia...
- Recebemos um sinal de rádio subespacial muito fraco, ao passarmos pelas vizinhanças deste sistema solar - havia recordado a primeira-oficial Theres aos seus subordinados, antes de pousar o veículo junto a uma cadeia montanhosa. - O mais provável é que seja apenas um transmissor automático, mas não podemos descartar nenhuma hipótese.
O planeta certamente já abrigara algum tipo de civilização tecnológica num passado remoto, visto que haviam detectado ruínas de grandes cidades e construções espalhadas por todos os continentes, mas não parecia existir mais qualquer atividade que indicasse a presença de vida inteligente.
- Alguma possibilidade de haver um núcleo de sobreviventes nativos, que possam ter prestado algum auxílio aos tripulantes da "Stromboli"? - Ponderou a médica Annina, que junto com o exobiólogo Niclas complementava o grupo de desembarque.
- Em órbita, não verificamos nada que possa dar suporte à essa teoria - redarguiu Theres. - Mas, justamente por isso o comandante nos encarregou de checar os destroços da "Stromboli".
Trajes espaciais fechados e armas na mão, já que ninguém sabia se havia animais perigosos na região, o grupo caminhou algumas centenas de metros pela mata alaranjada que crescia no sopé da montanha, até localizarem os restos do mercante, parcialmente encoberto pela vegetação nativa. A nave havia se partido em duas na queda, e parecia extremamente improvável que alguém houvesse sobrevivido ao impacto.
- Vamos entrar na seção anterior e tentar identificar os corpos... depois voltamos para fazer o mesmo na seção posterior - disse Theres.
- O que iremos fazer com os corpos que encontrarmos? - Indagou Niclas. - Enterramos, deixamos aqui?
- Havia mais de trinta pessoas registradas na "Stromboli" - replicou Theres. - Não, vamos apenas fazer uma contagem e deixar tudo como está. Depois, o pessoal da Vigilância Espacial vem para dar destino aos mortos.
E, conferindo os dados exibidos na superfície interna da viseira do capacete:
- Mas alguém deve ter sobrevivido, ainda que por pouco tempo: o sinal que captamos na "Wolpertinger" vem de algum ponto fora dos destroços da nave.
* * *
- É a entrada de algum tipo de bunker escavado na montanha, comandante - disse Theres pelo rádio para Steffen, em órbita a bordo da "Wolpertinger". - Há uma antena onidirecional na parte superior da encosta, mas o equipamento de transmissão certamente foi colocado na parte interior.
- Um bunker construído pelos nossos ou pelos habitantes do planeta? - Indagou Steffen.
- Certamente por eles; talvez seja um antigo abrigo nuclear, e ainda haja alienígenas vivendo lá embaixo.
- Alguma possibilidade de terem resgatado o nosso pessoal?
- Encontramos 28 corpos na "Stromboli", portanto é possível que haja sobreviventes. Só vamos saber se entrarmos para olhar.
- Muito cuidado; um de vocês deve permanecer do lado de fora, para manter contato com a "Wolpertinger".
Niclas foi o escolhido para ficar, já que Theres preferia ter junto de si alguém que pudesse prestar socorro imediato aos eventuais sobreviventes.
- Como vamos abrir isso? - Indagou Annina, diante da imensa porta metálica de folha dupla, que fechava a entrada para o subterrâneo.
- Há um painel de controle no batente, - avaliou Theres - com apenas duas opções: abrir e fechar, muito provavelmente. Se houver alguém aí dentro, deve estar monitorando a entrada. Vou apertar um dos botões e ver o que acontece.
Girando sobre seus gonzos, a porta abriu-se ao meio, revelando um túnel bem iluminado, que descia para as profundezas da montanha. Theres fez um gesto para que a médica a seguisse, e após iniciarem o descenso, a passagem foi novamente fechada, cortando o acesso ao mundo exterior.
- Espero que sejam pacíficos - disse a primeira-oficial, mão no cabo da pistola que levava no coldre.
- [Continua]
- [18-11-2021]