No Zênite do Universo

Em algum recanto longínquo do Universo, num tempo absurdamente distante do que vivemos, uma bem fadada civilização viceja. A Dor, uma consequência inevitável perante a inconsciência e voracidade da força metafísica que governa o mundo, não mais existe. Sobeja a Felicidade, sem nenhuma mácula.

Trata-se de um planeta verdejante, repleto de vida, cuja flora e fauna pode dificilmente ser comparada com a que conhecemos... Lá existem os seres mais felizes do que jamais existiram em lugar algum.

A Vida, porém, está prestes a chegar ao fim. Dizem os filósofos desse planeta que tudo o que ocorreu no Universo até então foi um espasmo injustificado a interromper o curso indefinido do Nada absoluto e que, após um período de quintilhões anos que se seguiram ao Big Bang, o Cosmos estaria chegando ao fim. Ainda de acordo com esses sábios, nem sequer haveria motivo para algo ter interrompido o eterno Nada.

— Está chegando a hora de nos despedirmos... — diz Líria, a governadora desse planeta maravilhoso, foco da mais avançada civilização que jamais existiu em todo o Universo.

A eminente mulher continuou:

— Após inumeráveis eras de injustiças, guerras, dor e sofrimento para a raça humana, o Universo parece ter cumprido a sua finalidade ao produzir a mais bela das flores: a nossa civilização interplanetária, que já dura dez mil anos. Não nos esqueçamos que o berço da vida foi o planeta Terra, local em que nasceram os nossos ancestrais e onde a força cósmica desenfreada protagonizava um horripilante esfacelamento, cujos animais e seres humanos eram as vítimas. Algo muito distante da felicidade e harmonia que temos hoje.

Trilhões de pessoas pelo Universo assistiam à governadora por meio de uma inextricável tecnologia acoplada à mente de cada um. Direcionando o pensamento para uma espécie de canal de televisão, mas sem a necessidade de qualquer equipamento tal qual conhecemos, esses humanos avançados estavam cientes do fim próximo do Universo. Todavia, mesmo assim, a felicidade os inundava.

Numa espécie de habitação aérea, localizada nesse distinto planeta chamado de Esmeralda, devido ao seu esplendor verdejante, Pluzius assiste à conferência da governadora com seu filho de cinco anos, Tuli.

– O Universo – indaga o menino. – é tão grande quanto o nosso mundo, papai?

– Muito maior, Tuli! De fato, o nosso planeta é imenso com seus cento e setenta e três mil quilômetros de diâmetro, mas o Universo... é muito maior. Comparado a ele, o nosso planeta é como um pequeno átomo.

– Um átomo é muito pequeno não é, papai?

– Sim.

O menino refletiu por um momento... e rematou:

– Se é assim, mesmo o nosso Universo deve ser pequeno diante daquilo que o gerou.

Tuli, um descendente dos primeiros hominídeos que habitaram a Terra a tão longínquas eras, sentia-se feliz.

As noções espaciais dos homens dessa época, assim como as temporais são consideravelmente diferentes daquelas da nossa era. As explorações intergalácticas propiciaram uma ampliação incomensurável do espaço humano, e a vida agora dura em média trezentos anos.

Quando a governadora Líria falava do fim iminente do Cosmos, tinha como base as descobertas dos cientistas e as elucubrações dos filósofos, referindo-se ao colapso que ocorreria cem mil anos depois daquele momento. Inumeráveis descendentes de Tuli ainda desfrutaram desse apogeu da Humanidade, num Universo cuja vida despontou no planeta Terra, e cujo espaço incrivelmente desproporcional era quase que totalmente vazio, sem ocorrências de qualquer espécie alienígena.

Passado o tempo calculado pelos cientistas, a previsão filosófica se cumpriu, o Universo morreu, sofrendo uma espécie de Big Crunch... Colapsando sobre si mesmo, levou consigo cerca de quatrilhões de galáxias com seus magníficos astros... Mergulhando no Nada absoluto, tempo, espaço e matéria.

Mas o que é esse Nada?... Por que existe o Ser e não o Nada?.... São questões que jamais foram satisfatoriamente respondidas.

Eclipsado o Cosmos, imensidão das imensidões, uma espécie de voz numênica, ergue-se na vastidão misteriosa do desconhecido:

— Oh, raça humana, como ousastes reduzir a Sabedoria Infinita do Criador a um amontoado de combinações fortuitas?! Vasto era o vosso Universo, mas infinitamente mais vasto é o que está além dele!

— Partícula, chegaste ao fim — continuou, referindo-se ao Universo —, porém todo fim é sempre um novo começo!

Ao lado dele um outro ser de natureza inimaginável pronuncia:

— Esse experimento foi interessante, trilhões de milênios de evolução, e eles não compreenderam a finalidade e sabedoria do Deus Criador.

— Filhos rebeldes... — disse o outro nume.

Ambos refletiram por alguns instantes, depois riram... Então, as duas entidades numênicas pareceram bater asas... Voejando para algum lugar... Para um lugar muito além de toda a imaginação.