Casal a bordo

Uma lâmpada acendeu-se acima da escotilha interna da câmara de descompressão e Timur Plesca retirou cuidadosamente o capacete do traje espacial. Era a sua primeira vez a bordo dum cruzador imperial maa'tik, e estava um tanto apreensivo pelo que iria encontrar. Uma coisa era conviver com os maa'tik numa base planetária, onde dezenas de espécies inteligentes de várias partes da Galáxia compartilhavam um espaço generoso, outra era ter que dividir com eles os corredores apertados de uma astronave de combate, longe das rotas de navegação conhecidas. Felizmente, não teve que esperar muito para ter um vislumbre do que seria a sua vida a bordo: a escotilha interna deslizou para cima e ele viu-se diante de outra humana, uniforme imperial cinzento e cabelo pintado num garrido tom de rosa. Ao lado dela, um maa'tik de 2,5 metros de altura, as longas antenas douradas caídas simetricamente nas laterais do corpo esguio.

- Alferes Timur Plesca? - Indagou a humana, sorridente, prestando continência.

- Tenente Ksenija Radum? - Replicou ele com alívio, retribuindo a saudação.

- Este é o capitão Ru'man - disse ela indicando o maa'tik, que abriu os braços horizontalmente e segurou cada uma das antenas.

Como Plesca não possuía antenas, apenas repetiu o gesto com os braços e fechou brevemente os punhos.

- É uma honra, capitão - declarou protocolarmente.

- Bem-vindo a bordo do cruzador imperial "Nakorion", humano Plesca - disse Ru'man naquele estranho timbre de voz dos maa'tik, que parecia ser gerado por pequenos cliques em rápida sucessão. - A humana Ksenija Radum, que já está adaptada ao nosso convívio, será a sua cicerone a bordo. Depois que houver deixado suas coisas no alojamento, deverá se reunir a nós, na ponte de comando.

Plesca agradeceu à acolhida, e após pegar a mala de mão e colocar o capacete debaixo do braço, seguiu a congênere, enquanto Ru'man entrava num elevador que o levaria aos níveis superiores da astronave.

- Quanto tempo você está aqui, tenente? - Indagou Plesca, enquanto seguiam por um longo corredor, cruzando ocasionalmente com um ou outro maa'tik que lhes dirigia olhares curiosos com seus olhos multifacetados.

- Seis meses, tempo terrestre - informou Ksenija Radum, pensativa.

- Esse tempo todo, sem ver outro humano? - Ele contraiu o maxilar. - Credo... não sei se eu aguentaria.

Ksenija Radum riu.

- O mais engraçado é que os maa'tik estavam mais preocupados com isso do que eu - admitiu. - Eles sabem que os humanos são uma espécie gregária, que precisamos estar em contato com os nossos... imaginavam que eu poderia estar sofrendo por não ter outro humano por perto, para tocar, abraçar.

E, virando-se para trás, piscou o olho:

- Humanos sentem falta de contato físico, você sabe.

- Bem, sim... - assentiu Plesca, embaraçado.

Ksenija Radum parou diante duma porta identificada com numerais maa'tik e premiu um botão. A porta deslizou para o lado, revelando o interior de uma cabine com duas camas de solteiro em paredes opostas.

- Essa é a nossa cabine - disse ela, abrindo os braços efusivamente.

- Bem... imagino que espaço aqui seja um problema - disse Plesca, pousando a mala no chão. - Mas não se incomoda em dividir seus aposentos com um total estranho, tenente?

Ksenija Radum olhou-o de cima a baixo com ar maroto.

- Alferes, quer apostar como amanhã de manhã já estaremos completamente íntimos?

- [06-08-2021]