Dos males, o menor

Uma explosão próxima fez a "Nuvem Negra" estremecer. Do seu posto na cabine de comando, Em Tammor, engenheiro de voo, virou-se para a comandante Jo Mara que acumulava a função de piloto, e gritou:

- Estamos ficando sem chamarizes!

Jo Mara cerrou os dentes; estava muito ocupada fazendo manobras bruscas para escapar dos mísseis lançados pelo pirata que estava no encalço deles e aquela informação em nada a ajudava. Os chamarizes eram pequenas cargas explosivas, disparadas por controle remoto, que ao detonar podiam enganar os sensores dos mísseis, fazendo-os desviar da nave.

- Não vou poder fugir para sempre - gritou de volta. - Temos que nos esconder em algum lugar e tentar despistar o pirata!

Em Tammor consultou o mapa estelar no monitor de sua estação de trabalho.

- Há um planeta habitado, cerca de 50 clics de distância: Tomei-IV!

Jo Mara fez uma careta.

- Ironia do destino! - Resmungou, alterando o curso para as coordenadas que o engenheiro acabara de passar. E, em voz alta:

- Emita um pedido de socorro, diga que estamos sendo caçados por um pirata!

- Pensei que era arriscado usar o rádio nessa região - redarguiu o engenheiro.

- Arriscado vai ser explodir com a nave - retrucou Jo Mara.

- Vamos ser presos? - Questionou o engenheiro, enquanto transmitia o "mayday".

- Enquanto há vida, há esperança - suspirou Jo Mara.

* * *

Um clarão de luz iluminou as trevas do espaço. A nave pirata fora atingida em cheio por dois mísseis disparados por um torpedeiro de Tomei-IV. Em seguida, um canal de comunicações foi aberto para a "Nuvem Negra".

- Fala o comandante do "Perseguidor", Marinha Espacial. Vamos a bordo para inspecionar sua nave, estejam com os documentos em mãos.

Em Tammor olhou para a comandante. Jo Mara fez um aceno positivo com a cabeça.

- A postos para a inspeção, "Perseguidor" - replicou o engenheiro.

Minutos depois, dois fuzileiros entraram na cabine de comando, trajes espaciais fechados. Um deles examinou a documentação exibida, enquanto o outro acompanhava a cena com a mão na coronha da pistola.

- Você é Jo Mara? - Indagou o fuzileiro que segurava a documentação.

A comandante olhou para a plaqueta de identificação no traje; ela identificava o homem como Alarico.

- Sim, sargento Alarico - admitiu, pesarosa. - E temos que agradecer por sua pronta intervenção, ou não estaríamos vivos.

- Esse é o nosso trabalho - redarguiu o fuzileiro. E consultando seu terminal de pulso:

- Consta aqui que a senhora está sendo procurada pela justiça por venda de objetos de arte falsificados. Isso procede?

- Não me orgulho disso, mas sim, procede - afirmou Jo Mara, erguendo a cabeça.

O sargento Alarico virou-se para o companheiro e comentou calmamente:

- Encerramos por aqui; a papelada está em ordem.

- Como é? - Questionou o outro fuzileiro.

- Ela vendeu a muamba para Telemaco Zangara - informou Alarico.

O fuzileiro deu uma gargalhada.

- Ladrão que rouba ladrão... - comentou.

Alarico voltou-se para Jo Mara e lhe devolveu a documentação.

- Oficialmente, vocês não passaram por esse sistema solar; e espero que não voltem, ou vou ter que terminar o serviço que o pirata começou.

Jo Mara e Em Tammor agradeceram efusivamente, e assistiram os fuzileiros retornando à sua nave.

Já de volta ao hiperespaço, o engenheiro indagou quem era Telemaco Zangara.

- Longa história - disse Jo Mara. - Era um político de Tomei-IV; ao que tudo indica, caiu em desgraça...

- Para sorte nossa - riu baixinho Em Tammor.

- [19-07-2021]