Shangri-La

Klement dirigiu o jipe pressurizado até o limite norte da colônia, onde havia um mirante. Desembarcamos do veículo usando apenas máscaras e tanques de oxigênio sobre nossos uniformes, já que a pressão atmosférica ali era equivalente à da Terra ao nível do mar.

- Varist estava me lembrando esta semana que já houve planos sérios de terraformar Marte - comentou, enquanto seguíamos rumo ao mirante. - Provavelmente levariam séculos para criar uma versão pobre da Terra.

- Marte não vale a pena - repliquei. - Gravidade baixa, praticamente nenhuma atmosfera, poeira por todo lado. Aqui, se não fosse pelas máscaras de oxigênio, quase daria para esquecer que não estamos na Terra.

Chegamos ao mirante, que se projetava sobre o abismo delimitado por um parapeito reforçado. Abaixo de nós, um mar de nuvens que cercava a colônia como se ela fosse uma ilha flutuando no céu.

- Fácil entender porque batizaram a colônia de Shangri-La - comentei. - Um paraíso perdido no alto de uma montanha...

- Uma montanha seis vezes mais alta do que o Everest, - observou Klement - pacientemente construída por robôs autônomos. O que muitos queriam é que houvesse um projeto de terraformação para todo o planeta, mas por ora, é o melhor que conseguimos fazer.

Sob as nuvens brancas, Vênus continuava a ser o que sempre fora: um caldeirão borbulhante com temperaturas de até 460º C e pressão de 90 atmosferas na superfície. Talvez levasse séculos para transformar o planeta numa segunda Terra, mas certamente nós já havíamos plantado um pé ali, nas alturas. E nossa missão agora era estender o status de paraíso da bem-aventurança para todo o planeta.

- [08-07-2021]