A MÁQUINA DO TEMPO
Quando eu era guri, fui diagnosticado com adenoide; uma carne esponjosa localizada dentro do meu nariz e garganta, que atrapalhava a minha respiração e ainda me deixava fanho. O médico disse que era preciso fazer uma cirurgia para extrair a tal carne esponjosa. E assim foi feito. Eu respirava somente pela boca e com a cirurgia, eu poderia voltar a usar as minhas narinas para respirar. Durante a minha estada no hospital, eu li a coleção de doze livros do curso técnico de eletrônica do Instituto Universal Brasileiro. Eu gostava muito do assunto; queria ser um cientista.
Depois de sair do hospital eu fui para casa, comecei a juntar rádios velhos, televisores com defeito, eletros domésticos queimados, entre outros aparelhos. Desmontava tudo, consertava algumas coisas e destruía outras. Até que, influenciado e inspirado pelos filmes de ficção científica, resolvi desenvolver uma máquina do tempo. Eu queria viajar no tempo; poder voltar ao passado ou visitar o futuro. Desenhei o meu projeto e comecei a trabalhar. Juntei mais peças, fiz novos estudos e tracei o complexo esquema eletrônico da máquina.
O aparelho revolucionário foi tomando forma. Luzes, fios, transistores, resistores, capacitores, soldas com estanho, experiências com imãs, energia da rede elétrica de casa, etc. Aquela gambiarra ia ganhando corpo e a minha família, acreditando que eu estava ficando maluco. Talvez um cientista maluco. Quando a minha máquina do tempo ficou pronta para os primeiros testes, faltava uma cobaia. Não poderia ser eu, pois eu precisava operar o complicado aparato tecnológico que compunha a minha máquina de viagem no tempo.
Chamei para ser a minha cobaia, ou "piloto de testes", meu amigo Humberto. Eu só não sabia se ia enviá-lo para um passado primitivo ou para um futuro tecnologicamente desenvolvido. Eu não tinha bem certeza dos resultados do primeiro teste. Coloquei o Humberto sentado na cadeira magnética que fazia parte da máquina, liguei alguns fios nos braços e pernas do apreensivo Humberto; pluguei a máquina do tempo na tomada de 220 volts e liguei a geringonça.
O resultado foi imediato. Humberto tomou um tremendo choque. Não foi nem para o passado e nem para o futuro. Ficou no presente mesmo; e muito bravo comigo. Quase eletrocutei meu amigo em nome da ciência. Minha máquina do tempo praticamente explodiu, saindo muita fumaça e cheiro de queimado. Mas era mais ou menos assim que nasciam os grandes cientistas, fazendo experiências que dão errado; até que um dia, dão certo. Aquilo foi literalmente brincar com fogo. Criança faz coisa. Por isso, os adultos devem estar sempre de olho no que estão a fazer.