A arma fumegante
O major Francis Scott olhou pela janela blindada do módulo de pouso e viu que o jipe de exploração marciano estava retornando à base, arrastando atrás de si uma nuvem de poeira. Ao volante, o capitão Jacob Ochoa havia sido reticente sobre sua última missão de exploração à cratera Kemp.
- Falamos quando eu chegar - fora seu único comentário, antes de desligar o rádio.
Ochoa e a tenente Mariam Russell desceram do veículo, sem demonstrar qualquer urgência. Acoplaram os trajes espaciais na câmara de descompressão do módulo, e minutos depois, usando os uniformes de serviço, entraram na ponte de comando do módulo.
- E então? - Indagou Scott, encarando o subordinado com os braços cruzados. - O que aconteceu para você cortar as comunicações?
- Scott... descobrimos uma coisa em Kemp - disse Ochoa em tom hesitante. E, voltando-se para Russell:
- Melhor mostrar.
Russell exibiu um cartão de memória, retirado da câmera digital que havia levado na missão, e o inseriu num slot de um dos terminais do computador de bordo. Depois, digitou alguns comandos para exibir o conteúdo armazenado. Scott acompanhou a movimentação atentamente, e a princípio não notou nada de estranho: imagens da paisagem marciana, tempestades de areia à distância, formações rochosas curiosas, o interior da cratera Kemp, coberto de areia...
- Descemos e fizemos uma escavação no ponto onde a radiofrequência do satélite havia detectado uma grande concentração de metal... - disse Russell, avançando as fotos. - E, realmente, havia algo enterrado lá, mas não era minério.
Embora o jipe de exploração contasse com um robô para fazer escavações, explicou Russell, o trabalho demorou algumas horas até revelar o que havia sido enterrado em Kemp: uma nave espacial de origem desconhecida.
- Com certeza, não é nossa, nem dos russos ou dos chineses - afirmou Ochoa.
- Deve estar ali há muito tempo - avaliou Russell. - Talvez milhares ou milhões de anos...
- Realmente, é uma notícia que temos que analisar cuidadosamente como será divulgada - ponderou Scott. - Principalmente porque os demais países podem pressionar a ONU para que qualquer conhecimento obtido aqui, seja compartilhado com todos os países.
- Esse é o nosso receio - admitiu Ochoa. - A tecnologia usada nesta nave pode nos dar uma vantagem tecnológica imensa sobre todas as demais potências.
Scott decidiu que nenhuma palavra sobre a descoberta seria dada por rádio, e que aguardariam até o desembarque na Terra para comunicar a mesma.
* * *
Uma expedição emergencial foi montada para desvendar os segredos da astronave enterrada em Kemp, mas as conclusões às quais chegaram, cerca de cinco anos depois, trouxeram conclusões inesperadas para os promotores da empreitada.
- Não há nenhuma tecnologia avançada de propulsão na espaçonave alienígena - informou ao presidente o Dr. Nielsen, chefe dos cientistas da missão. - Na verdade, o veículo parece ser um tipo de míssil, disparado contra a superfície marciana.
- Significa dizer que o Sistema Solar foi palco de uma guerra, há milhares de anos? - Surpreendeu-se o presidente.
- Não exatamente - prosseguiu o cientista. - O tal míssil não trazia explosivos em sua ogiva, mas "pacotes biológicos" solúveis em água. O problema é que a superfície de Marte já era muita seca àquela época, para permitir que esses "pacotes" se desenvolvessem. Em suma, não era uma missão de combate, mas de semeadura.
O presidente encarou o cientista, inferindo o que seria dito a seguir. Nielsen balançou a cabeça, afirmativamente.
- Nós analisamos o conteúdo dos tais "pacotes". E, com 100% de certeza, sabemos agora que eles atingiram a Terra num passado remoto... está misturado ao DNA de praticamente todas as criaturas vivas do planeta, como se fosse algum tipo de retrovírus alienígena.
- E... o quê, exatamente, ele faz? - Indagou o presidente.
- A verdade, é que não sabemos - admitiu Nielsen. - Esse retrovírus está dormente, aparentemente aguardando alguma determinada condição para se manifestar.
Diante da expressão consternada do presidente, Nielsen acrescentou:
- Mas, agora que temos um dos mísseis com restos da carga em seu interior, poderemos começar a tentar descobrir o que seus construtores pretendiam originalmente... e, principalmente, se obtiveram sucesso.
- [27-05-2021]