GRÃO METÁLICO
Elias acordou com uma tremenda dor de cabeça. Não sabia onde estava e não conseguia lembrar-se de nada. Olhou ao redor e percebeu que estava no meio de uma floresta. Não sabia o que estava fazendo naquele local; aliás, não conseguia lembrar nem do próprio nome. Atordoado, se perguntou o que havia bebido para estar naquela situação, mas naquele momento era impossível se recordar de alguma coisa. Sentia dores pelo corpo; como se estivesse caído de uma escada ou sido vítima de um atropelamento. Sentia-se péssimo.
Esperou um pouco na esperança de “organizar as ideias”, mas continuava confuso. Com o estômago embrulhado e um gosto estranho na boca, tinha quase certeza que se embriagou com algum amigo na noite anterior e foi parar naquele local. Olhou em volta e respirou fundo, se sentindo culpado; um irresponsável. Parecia estar em local totalmente desconhecido; estava perdido. Se sentindo já angustiado, deu um grito para ver se aparecia alguém... quem sabe o amigo de bebedeira tenha ido fazer xixi ou vomitar no mato. Em silêncio, esperou um pouco e não apareceu ninguém. Deu mais um grito e nada. Achou tudo aquilo muito esquisito.
Já estava ficando nervoso com aquela situação de amnésia. Elias era um homem de uns quarenta anos de idade, saudável. A única coisa que ele sabia naquele momento é que parecia estar sozinho em um lugar desconhecido, somente com a roupa do corpo. Estava apenas vestindo uma calça jeans, camisa bege e calçando botas de caminhada. Precisava voltar para casa; onde quer que fosse. Resolveu escolher uma direção e seguir caminhando no meio da selva densa. A intensão de Elias era caminhar até encontrar um rio; primeiro para matar a cede, pois a garganta estava seca, e na sequência encontrar alguém que pudesse ajuda-lo... ele sabia que algo não estava certo e precisava de ajuda.
Estava caminhando e suando sem parar já havia quase três horas, começou a sentir um incomodo grande na região da nuca. Era uma dor que mais parecia ser uma agulhada. Passou a ponta dos dedos no local e sentiu algo incomum; era como se tivesse um grão de arroz sob a pele. Passou a sentir aquelas desconfortáveis fisgadas a cada minuto. Achou que tinha sido picado por algum inseto venenoso da floresta. Frequentemente coçava aquele ponto na nuca; aquela coisa tirava a sua concentração. Elias já estava irritado com toda aquela agonia; perdido na mata, sem lembrar-se de nada e ainda tinha sido picado por alguma abelha, marimbondo ou sabe se lá o que.
À beira da loucura, Elias instintivamente sabia que precisava se manter calmo e seguir em frente se quisesse encontrar a saída daquele lugar... e as respostas também. Ele caminhou horas pela mata; confuso, cansado, com dores de cabeça, enjoado, com cede e mais aquela insuportável pontada na nuca. Passou por áreas pantanosas, vegetações com espinhos nas profundezas de uma mata fechada. De repente, parou para descansar um pouco e ouviu o som de água corrente; provavelmente, um riacho. Foi uma injeção de ânimo, uma dose de alegria, de vitalidade. Poderia enfim matar a cede e quem sabe encontrar ajuda. As abomináveis fisgadas na nuca lembravam Elias de que ele ainda estava vivo. Seguiu apressado na direção da água.
Elias chegou a um belo riacho com águas cristalinas, correu até a margem, se ajoelhou e bebeu quase que desesperadamente. Sentiu-se grato por ter encontrado o riacho. Em alguns momentos, achou que não iria conseguir; chegou até a pensar em desistir e ficar esperando que alguém viesse procura-lo. Pensou no que poderia ter acontecido para que ele não se lembrasse de nada. Achou que pudesse estar doente e talvez tivesse se perdido de casa. Aquilo tudo não fazia sentido algum.
Faltava pouco para o pôr do sol. Elias tinha caminhado o dia todo; precisava encontrar um lugar para passar a noite e descansar. Talvez no outro dia pela manhã, já descansado, lembrar-se-ia de quem era, onde estava e onde morava. Amontoou folhas secas debaixo de uma árvore próxima do riacho e ao se acomodar sobre o colchão improvisado, dormiu imediatamente. Não foi bem um sono reparador, pois Elias mesmo dormindo, foi perturbado pelas constantes fisgadas na nuca e por pesadelos fragmentados durante toda a madrugada.
Na manhã seguinte, Elias acordou assim que o sol raiou e os pássaros da floresta começaram a cantar. Sua situação de amnésia continuava igual, porém, ele se sentia melhor. Levantou-se, lavou o rosto, bebeu um pouco de água e decidiu seguir o riacho até que encontrasse uma estrada ou alguém que pudesse pôr um fim naquela agonia. Ao levar a mão na nuca, no local onde sentia as dolorosas fisgadas e parecia haver alguma coisa sob a pele, sentiu uma grande aflição. Talvez aquilo que ele sentia com as pontas dos dedos não tenha sido uma picada de inseto; talvez fosse um espinho de alguma planta tóxica. Somente um médico poderia dizer o que era.
Elias caminhou durante toda a manhã. Já estava novamente se sentindo angustiado e cansado; irritado com aquele dilema que parecia não ter mais fim. Até que, de repente, avistou uma clareira e a floresta ficou logo para trás. Elias continuou caminhando pelo que parecia ser um campo e logo encontrou uma cerca. Sentiu-se muito feliz, pois certamente encontraria ajuda. Caminhou depressa na direção da cerca e quando tocou nela, recebeu uma descarga elétrica e caiu desmaiado. Era uma cerca elétrica, usada para conter o gado daquela propriedade.
Assim que retomou a consciência, Elias se deu conta que havia desmaiado por ter sofrido uma descarga elétrica na cerca energizada. Dessa vez, com todo cuidado, rastejou por baixo da cerca para que não encostasse e acabasse levando mais um choque. Após ter atravessado, já do lado de dentro da propriedade, continuou caminhando na esperança de encontrar uma casa, estrada ou alguém. Decidiu subir uma colina para observar a região lá de cima. Percebeu que sua nuca tinha voltado a incomodar, porém agora não estava só doendo, estava quente... queimando.
Logo que chegou ao topo da colina, a adrenalina tomou conta de Elias. Ele havia avistado pessoas no campo; finalmente. Ao descer correndo a colina na direção das pessoas que estavam longe, ele sentiu uma fisgada fulminante em sua nuca. Foi repentino, como se estivesse sido atingido por um raio. Elias viu um flash, um clarão e gritando caiu no chão. As pessoas que estavam no campo ouviram o grito do homem e correram para ajuda-lo. Elias acordou na cama do hospital. Ainda um pouco confuso, mas agora, se lembrava de tudo que tinha acontecido. O médico do plantão entrou no quarto, examinou Elias, disse que ele parecia bem e que certamente havia passado por um grande estresse; mas assim que estivesse se sentindo melhor seria liberado.
O doutor perguntou se Elias lembrava o que tinha acontecido e ele relatou toda a história daquela inacreditável aventura. Segundo Elias, alguns dias antes, ele saiu de casa sozinho para pescar; como fazia frequentemente aos finais de semana. Colocou seu material de pescaria na caminhonete e seguiu para o rio no interior da cidade; um lugar ermo. Chegando lá, ainda de manhã cedo, montou o seu acampamento antes de começar a pescaria, pois ele pretendia ficar pelo menos dois dias naquele local.
Elias passou o restante do dia pescando e quando chegou o final da tarde, acendeu uma fogueira, limpou alguns peixes que havia pescado e começou a preparar o jantar. Costumava fazer isso sempre, e depois ia para a barraca dormir. E foi isso que ele fez; comeu os peixes e se recolheu. Porém, naquela noite, algo muito estranho aconteceu. Elias contou que de madrugada acordou com um barulho estranho e uma luz muito forte sobre a barraca. Ele acordou assustado, e quando saiu, a luz o cegava e o barulho o deixou atordoado. Era como se turbinas de avião estivessem sobre a sua cabeça. Lembrou-se da sensação de alguém o segurando pelo braço e em seguida adormeceu. Lembrou-se também da sensação de estar sendo carregado.
Quando acordou, estava em um lugar estranho, luminoso, com paredes de metal e ruídos que lhe pareciam sons eletrônicos. Ouviu o que pareciam ser vozes, mas não entendia nada do que era dito. Sentia-se como se estivesse em um estado de torpor, porém, conseguia ver o que se passava ao seu redor. Estava deitado em uma mesa gelada, aparentemente de metal, cercado por duas criaturas que certamente não eram humanas. Eles possuíam pele cintilante, braços e pernas compridas, cabeça desproporcionalmente grande e olhos negros. As criaturas pareciam conversar entre elas, mas Elias não entendia o que diziam.
Na mesa, Elias era manipulado o tempo todo. De repente, foi colocado de bruços e sentiu algo sendo introduzido em sua nuca. Sentiu uma contundente picada, que mais pareceu um tiro e acredita ter desmaiado ou ter sido anestesiado. Quando acordou novamente, estava no meio daquela floresta; sozinho, perdido e com amnésia. Foi a pior sensação da sua vida. Surpreso e incrédulo, o doutor passou a mão na nuca de Elias e arregalou os olhos ao perceber que realmente havia um corpo estranho sob a pele do pescoço dele. O médico apalpou o local e decidiu pedir um exame mais detalhado para saber do que se tratava aquilo.
Os exames foram feitos imediatamente e foi constatado que realmente havia algo anormal implantado sob a pele do pescoço de Elias. Aparentemente, um pequeno objeto de metal. Uma pequena cirurgia foi feita e o objeto subcutâneo do tamanho de um grão de arroz foi retirado da nuca de Elias. O médico mandou o estranho objeto para uma profunda e detalhada analise, e o resultado que obtiveram foi surpreendente. Os cientistas que pesquisaram o objeto afirmaram com unanimidade que aquele metal não era oriundo do Planeta Terra; sendo possivelmente, metal do espaço.
Obviamente, novas e mais detalhadas pesquisas foram feitas com o “grão metálico” retirado da nuca de Elias, e esses estudos se inclinaram imediatamente para explicações e especulações de ordem ufológicas, ou seja, extraterrestres. Os pesquisadores e ufólogos concluíram que o minúsculo objeto do espaço era uma nanotecnologia alienígena que emitia um tipo de radiação eletromagnética, possivelmente usada para controle e comunicação. Seria um chip alienígena?
Os últimos relatórios científicos independentes revelaram que outros objetos com formato semelhante ao do “Caso Elias”, foram extraídos também dos corpos de diversas pessoas que afirmaram terem sido abduzidas por naves alienígenas em diversos lugares do mundo. Esses casos, sempre terminam sendo “sufocados”, escondidos ou desqualificados por autoridades científicas ligadas aos governos que se referem ao assunto como “síndrome da abdução alienígena”. As vítimas como Elias, acabam se sentindo ridicularizadas e se fecham por medo do julgamento e o escárnio social.
Elias não bebia, não usava drogas e não tinha qualquer motivo para querer se expor assim, inventando tal história; afinal, ele não era o único caso. O próprio “grão metálico” extraído do pescoço dele e comprovadamente originário do espaço, já era uma prova incontestável. E o fato desse pequenino artefato ter sido confiscado pelo governo e autoridades científicas já é o suficiente para endossar a história de Elias e de muitos outros abduzidos pelo Planeta Terra.
Elias foi encontrado a mais de cinco mil quilômetros de onde tinha acampado para pescar; ou seja, do outro lado do país. Sua caminhonete, barraca e equipamentos foram encontrados onde ele disse que estava quando tudo aconteceu. Possivelmente, quando Elias recebeu aquela descarga elétrica na cerca, o chip alienígena entrou em curto, fazendo com que ele desmaiasse em seguida. Se isso não tivesse ocorrido, talvez Elias estivesse sendo influenciado, monitorado e controlado pelos extraterrestres até hoje... como muitas pessoas devem ser e nem sabem.