O alinhamento dos sóis

Noite era um fenômeno desconhecido em Ashmuth. Ocupando o centro de gravidade do sistema sêxtuplo Komara, a qualquer momento dado, um dos seus hemisférios era iluminado por ao menos um par das três binárias alaranjadas que o circundavam. Mas, ao pousar o módulo auxiliar do cruzador "Sommarfagel" próximo ao centro da pista de pouso circular denominada Kladath pelos zo'orgh, o comandante Henrik Lindeman tinha a mente ocupada por outros pensamentos.

- Planeta do equilíbrio - murmurou para si mesmo, enquanto consultava os indicadores atmosféricos. Pressão, composição e temperatura estavam dentro dos níveis tolerados pelos humanos, e portanto ele poderia sair do transporte sem proteção especial. Levava um projetor térmico no cinto, mais por precaução do que por temer um ataque das formas de vida nativas; os sensores do módulo não haviam detectado nenhuma ameaça biológica na pista de pouso construída com blocos de granito ou no seu entorno, um vale cercado por montanhas cobertas de neve.

Uma das binárias, Komara C, estava a meio caminho do poente quando ele desembarcou do transporte. Como estava a mais de 2000 metros acima do nível do mar e soprava um vento leve, a temperatura era agradável. Lindeman consultou o relógio do seu kit analisador portátil: se as informações que obtivera dos zo'orgh estavam corretas, teria que aguardar ainda cerca de dez minutos. Posicionou-se ao lado do módulo e aguardou pacientemente, até que a luz de Komara B brilhou sobre os picos do nascente. Instantes depois, havia quatro sóis brilhando nos céus de Ashmuth e a temperatura começou a subir lentamente.

- Mais um pouco... - murmurou Lindeman, deslocando-se alguns metros para a esquerda em relação ao módulo auxiliar; estava agora exatamente no centro do Kladath.

E então, de súbito, os sensores do analisador portátil registraram um pico de energia sendo projetado abaixo de Lindeman. Em órbita, a bordo do "Sommarfagel", Jonas Nilsson viu um ponto de luz azul piscar no vale do Kladath.

* * *

- Você está bem? - Questionou o co-piloto, quando Lindeman voltou para o cruzador em órbita.

- Se está falando do surto de energia ocorrido há pouco na superfície, não me causou qualquer dano - replicou despreocupadamente o comandante, instalando-se em sua poltrona na cabine de pilotagem.

- Não consegui uma análise clara do que se tratava, - prosseguiu Nilsson - mas me lembrei do que falou, sobre as "histórias estranhas" envolvendo o Kladath. O que acha que provocou aquilo?

- O posicionamento dos sóis ao redor de Ashmuth - afirmou Lindeman, começando a programar um curso no computador de navegação. - Eu tinha uma suspeita sobre o papel que o planeta desempenhava, e agora estou praticamente convencido de que é uma máquina, de algum tipo.

- Então, o planeta não era tão somente o berço de uma avançada civilização alienígena? - Indagou Nilsson.

- Essa é a crença dos zo'orgh, mas duvido que tenha qualquer fundamento - avaliou Lindeman, finalizando a entrada das coordenadas no computador. - Vamos sair de órbita.

- Aonde estamos indo?

- Tentar descobrir do que essa máquina é capaz - replicou o comandante, ajustando-se confortavelmente na poltrona.

[Continua]

- [24-03-2021]