O planeta do equilíbrio

Henrik Lindeman foi o primeiro homem a pôr os pés em Ashmuth, o planeta central do sistema sêxtuplo Komara. A posição de Ashmuth era tão incomum, que astrofísicos alienígenas cedo haviam percebido que Komara era uma obra de astroengenharia; sobre qual raça a executara, isso ainda estava aberto a discussões, mas o certo é que deveria ter se extinguido há centenas de milhões de anos. Não sem antes deixar vários sistemas solares caprichosamente arrumados, quase que por razões estéticas.

- Se eu tivesse o poder de mover estrelas e planetas, creio que usaria isso para fins mais práticos - desdenhou Lindeman, ao adentrar o sistema a bordo de seu cruzador de exploração, o "Sommarfagel". Ao seu lado, na cabine de pilotagem, Jonas Nilsson, o co-piloto e engenheiro de bordo, deu de ombros.

- E por que não usar esse poder apenas para fazer móbiles de estrelas? - Questionou. - Com essa capacidade, certamente não precisariam se preocupar com muitas outras coisas mais...

- Ashmuth era tido como uma lenda dos zo'orgh, até que eu comprovasse que existia de verdade e que poderíamos traçar uma rota segura para lá - replicou. - E aqui, estamos, depois de dez anos de busca. Me interessa saber porque esses astroengenheiros misteriosos colocaram um planeta terrestroide no centro de um sistema com três pares de binárias classe K.

- Os zo'orgh o chamam de "o planeta do equilíbrio", seja lá o que isso quer dizer - ponderou Nilsson.

- Talvez seja apenas uma referência à sua posição central - minimizou Lindeman, enquanto manobrava a astronave para entrar em órbita de Ashmuth.

O planeta poderia ter sido o lar de uma avançada civilização tecnológica há muitos milhões de anos, mas se isso era verdade, a natureza havia voltado a ocupar integralmente o seu espaço; exceto por um ponto no principal continente equatorial, onde o que parecia ser uma pista de pouso circular, construída com imensos blocos de granito, erguia-se num vale das montanhas.

- Aquela plataforma elevada, deve ser o Kladath dos zo'orgh - exultou Lindeman, comparando as imagens externas com os mapas do computador de bordo. - A coisa tem uns bons 20 km de diâmetro!

E virando-se para o co-piloto:

- Eu vou descer sozinho no módulo auxiliar, por precaução. Os zo'orgh contam histórias estranhas sobre o Kladath.

- Não seria mais prudente então mandar uma sonda automática fazer a avaliação primeiro? - Sugeriu Nilsson.

- Não queira tirar de mim a sensação de ser o primeiro homem a pisar no berço de uma antiga civilização - argumentou bem humorado Lindeman. - Quero que meu nome entre para os livros de História!

A verdadeira razão não era exatamente essa, mas por ora era melhor que Nilsson não soubesse disso.

[Continua]

- [23-03-2021]