A Visita
Passou muito tempo e ele estava a lhe contemplar. Sabia que jamais poderia lhe chamar ou aparecer em sua forma verdadeira a ela. Em seu nível, o de observador passivo, qualquer desvio do protocolo previamente estabelecido lhe cassaria o direito de visitar qualquer planeta em qualquer sistema conhecido por seu povo.
O que fazia então era, basicamente, com sua camuflagem passar o dia todo acompanhando os passos daquela fêmea. Sua rotina diária, seus afazeres, suas decepções e suas alegrias. Muitas vezes ficou atônito ao seu lado enquanto ela chorava por horas após o rompimento com um indivíduo macho de sua espécie.
Tinha todo o Planeta Azul para desbravar e apreciar, mas desde que notou no meio de um grupo a presença de tão deslumbrante ser, não conseguiu mais focar em outra coisa. O que era a imensidão da água, a rica vida selvagem ou as construções? Estas últimas ainda que obsoletas se comparadas às outras civilizações que ele já tinha visitado, mas ainda assim interessantes de serem percebidas de perto, onde, sabia o viajante, estaria acompanhando a história viva de seres em desenvolvimento.
Nada mais importava, era apenas ela que lhe parecia interessante. Tão acostumado com a beleza das fêmeas de seu planeta, as que se gabavam de serem as mais belas dentre várias galáxias, encontrava-se o viajante agora no escuro zelando o sono de um minúsculo ser no meio do universo e que de qual não conseguia se afastar.
O seu tempo ali estava acabando. Precisaria logo voltar para seu povo e para outras missões. Sabia que teria que deixa-la logo. Assim continuava ali, na total ignorância de sua presença por ela aproveitava para o máximo que fosse possível estar ao lado dela sem jamais poder lhe dizer o que sentia e o quanto gostaria de levar ela dali.
Sempre tão perto e ao mesmo tempo tão longe.